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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, agosto 21, 2014

Gilmar Mendes soltará (novamente) Abdelmassih?

Polícia Federal prende médico estuprador solto pela herança maldita de FHC.
Gilmar Mendes soltará (novamente) Abdelmassih?
Numa ação conjunta da Polícia Federal brasileira com a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai, o médico-estuprador Roger Abdelmassih foi preso nesta terça-feira (19) em Assunção. Em 2010, ele foi condenado a 278 anos de prisão, mas estava foragido desde 2011 graças a um estranho habeas corpus concedido pelo ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Gilmar Mendes. Segundo a PF, após o procedimento de deportação sumária, ele dará entrada no país por Foz do Iguaçu (PR), cidade na fronteira com o Paraguai, e depois será transferido para São Paulo, aonde finalmente deverá cumprir a sua pena – caso não pinte mais um providencial habeas corpus, tão comum entre os ricaços.
Para quem já esqueceu o episódio, Roger Abdelmassih mantinha uma clínica de genética na Avenida Brasil, região nobre da capital paulista, onde atendia clientes milionários. Durante muito tempo, ele foi paparicado pela mídia privada. Em 2008, porém, surgiram as primeiras denúncias de que o médico sedava as pacientes e cometia crimes sexuais. Em junho de 2009, ele foi indiciado por estupro e atentado violento ao pudor. Aos poucos, 35 pacientes denunciaram os crimes do “médico das elites”, que teria cometido 56 estupros. Abdelmassih chegou a ficar detido de 17 de agosto a 24 de dezembro de 2009, mas foi beneficiado por um habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes.
Em 23 de novembro de 2010, a Justiça condenou o médico-estuprador a 278 anos de prisão, mas ele seguiu em liberdade e, na sequência, fugiu do Brasil. Na ocasião, a postura do ex-presidente do STF gerou fortes críticas. O habeas corpus concedido em pleno feriado do Natal foi rejeitado por juristas de renome, que questionaram o privilégio dado ao dono da clínica de fertilização sediada no reduto da aristocracia paulistana. Segundo denúncias, o advogado de defesa do médico, Marcio Thomaz Bastos, teria recebido R$ 500 mil para viabilizar o benefício no STF. Agora, com a nova prisão no Paraguai, espera-se que o médico dos ricaços não seja novamente privilegiado.

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