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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 20, 2014

A cada novo episódio desse tipo, a desmilitarização da polícia mostra-se mais e mais necessária.

imprudência do ambulante cobrou um preço elevado demais: a vida. O momento do disparo foi registrado por curiosos e pode ser conferido no Youtube aqui:https://www.youtube.com/watch?v=dAGLmUplDF8.
Há seis meses, segundo a PM, este mesmo policial atirou contra um morador de rua durante uma abordagem policial e o matou. A cada novo episódio desse tipo, a desmilitarização da polícia mostra-se mais e mais necessária. Da mesma forma, permanece fundamental aprovar o PL 4471/2012, de minha autoria, que prevê o fim dos autos de "resistência seguida de morte". Se o ambulante tivesse morrido à noite, numa rua deserta da periferia, e não numa das regiões mais movimentadas da Lapa, à luz do dia, com dezenas de testemunha e imagens captadas por telefone celular, é muito provável que o policial registrasse no auto o que é praxe na PM: diria que a vítima resistiu à prisão e, ao revidar, foi atingida. Estima-se que mais da metade das mortes registradas como "resistência seguida de morte" foram execuções sumárias, episódios que confirmam a violência e o despreparo das polícias ao mesmo tempo em que mantêm inalterado o quadro de genocídio da população jovem e periférica, em São Paulo e em diversas regiões do país.

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