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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, setembro 17, 2014

O poder judiciário, o mesmo que no dia de hoje aprovou o pagamento de auxílio-moradia para todos os juízes federais

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Violência_são_joãoFoi um dia de provocações da Polícia Militar hoje no centro de São Paulo. Após promover o despejo de 200 famílias que viviam em um edifício ocupado na avenida São João, zona central de São Paulo, policiais iniciaram uma operação de terror a pretexto de combater supostos vândalos que atiravam pedras, incendiaram um ônibus e sacos de lixos. Em todas as imagens divulgadas em tempo real pela mídia dos monopólios, os “vândalos” não passavam de 15 gatos pingados.
A verdade é que a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral e balas de borracha a torto e a direito. Vários relatos dão conta de que pessoas eram afetados com efeito do gás a quilômetros de distância do tal confronto. Como prova o vídeo abaixo gravado por celular na rua Capitão Salomão, a PM se colocou na esquina de ruas onde estão cortiços e bares populares e atirou a esmo, procurando provocar a população.

O relato abaixo foi feito por Bruno Torturra, do site Fluxo :
“Mais de 10 cartuchos de gás são disparados no meio da rua. Crianças, idosos, trabalhadores, apartamentos, lojas, motoristas… todos envolvidos pela fumaça cancerígena, abortiva, altamente tóxica do gás CS. Bombas de efeito moral. Balas de borracha disparadas aleatoriamente por policiais ao longe. O Choque avança. E atira mais gás agora na Cap. Salomão, onde não havia nenhum. Repito, nenhum distúrbio. Botequins tomados de gás. Um hotel popular tomado de gás na portaria”.
Várias pessoas, principalmente os mais jovens, procuraram responder na mesma moeda, resistindo à truculência da PM.  Sempre que há injustiças nos bairros populares, como o assassinato de inocentes, a população responde com fechamento de ruas e enfrentamento à polícia. Dessa vez não foi diferente.
A luta por moradia
A ocupação da Frente de Luta por Moradia – FLM na rua São João é uma das centenas de ocupações que existem hoje na cidade de São Paulo. Apenas na cidade, são mais de 400 mil imóveis abandonados, sem função social, a grande maioria no centro. Alguns prédios estão abandonados há mais de vinte anos, como é o caso do edifício da Avenida São João, antes um hotel.
A causa de tanta casa sem gente e tanta gente sem casa é a especulação imobiliária. O lucro que se pode  auferir em cima da propriedade de um edifício é mais importante do que o direito mais básico e fundamentalmente humano que é o de uma família ter um teto para se abrigar do frio, da chuva e poder viver.
O poder judiciário, o mesmo que no dia de hoje aprovou o pagamento de auxílio-moradia para todos os juízes federais, é célere em expedir mandatos de reintegração de posse quando os prejudicados são as famílias mais pobres. Mas esse mesmo poder judiciário é mansinho e faz vista grossa para shoppings e outras construções luxuosas que roubam terras devolutas, constroem sobre mananciais e usam mão-de-obra escrava em seus canteiros.
É preciso uma transformação profunda, que acabe com tanta injustiça. É preciso enxergar para além da fumaça do gás lacrimogêneo.
Jorge Batista, São Paulo

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