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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, setembro 22, 2014

A contribuição de Luciana Genro ao debate político presidencial


Luciana Genro não será uma campeã de votos em 2014.
Mas, ainda assim, a contribuição que ela deu ao debate eleitoral é milionária.
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Dois assuntos vitais para o Brasil teriam ficado na gaveta se ela não os trouxesse à cena com sua ousadia gaúcha: a tributação das grandes fortunas e a regulação da mídia.



O sistema tributário brasileiro é um absurdo. É regressivo. Isso significa que, proporcionalmente, paga mais quem tem menos DINHEIRO.

Luciana Genro tem uma proposta para começar a corrigir essa aberração. Taxar em 5% ao ano fortunas acima de 50 milhões de reais.
Com seu estilo divertido e incisivo, amplificado pelo indomado sotaque gaúcho, ela diz que quer taxar o “ricaço”, e não o riquinho.
Luciana Genro está propondo algo que vigora da Escandinávia, e que explica, em grande parte, o avanço extraordinário da sociedade da região.
Os escandinavos ricos se orgulham de pagar altos impostos, porque sabem que só assim você vive em sociedades saudáveis, em que você anda nas ruas sem medo de ser morto.
Os brasileiros ricos se orgulham em sonegar, sob a alegação – sem nexo e sem sustentação em nada real – de que a carga tributária brasileira é “a maior do mundo”.
As grandes companhias de jornalismo alimentam essa falácia, com um noticiário repetitivo e maroto que leva o leitor a crer que paga impostos escandinavos.
O objetivo dessa campanha é legitimar os truques que as empresas de mídia – e tantas outras – cometem para sonegar os impostos.
O segundo ponto vital que Luciana Genro trouxe diz respeito especificamente à mídia.
Ela expôs com clareza seu ponto na sabatina a que se submeteu na Folha, na sexta passada.
“Liberdade de expressão, como a que temos, é a liberdade de expressão dos donos das empresas de jornalismo”, ela disse.
Esse monopólio da opinião, que tanto mal causou ao Brasil, só começou a ser rompido com o surgimento da internet.
A internet trouxe uma pluralidade de ideias que enriqueceu fabulosamente o debate político nacional.
Todo jornalista sabe dessa verdade doída, embora muitos finjam que não é assim. A liberdade de expressão, na grande mídia, é limitada aos proprietários.
A pluralidade não pode depender da internet. Tem que estar na lei. Para evitar concentração de mídia, nos Estados Unidos a legislação veda que o New York Times seja dono, por exemplo, de uma cadeia de televisão, ou de rádio.
As leis antimonopólio americanas jamais permitiriam uma empresa como as Organizações Globo: os Marinhos espalham sua influência e seus interesses por virtualmente todos os meios possíveis, de jornal a tevê, de rádio a revista.
A questão da mídia é tão complicada, no Brasil, que ela acabou fora do programa de Dilma, mesmo com muitos líderes petistas lutando para que estivesse dentro.
Marina, com sua “nova política”, simplesmente ignora a questão da concentração da mídia em seu programa de governo.
Coube à combativa Luciana Genro, nesta campanha, segurar, sozinha, essas duas tochas – a da desconcentração da mídia e a da tributação das grandes fortunas.
Ela não vai se eleger. Não tem chance nenhuma de ir para o segundo turno.
Mesmo assim, vai sair dessa campanha muito maior do que entrou.
Escrito por: Redação
*Entrefatos

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