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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 13, 2014

Os “milicos de pijama” estão gagás?


Por Altamiro Borges

Na sexta-feira passada (5), o exótico Clube Militar – entidade que reúne os oficiais aposentados que apoiaram o golpe de 1964 e que até hoje têm saudades da ditadura – divulgou um artigo enfático em apoio a Marina Silva. O texto, intitulado “Um fio de esperança” e assinado pelo general da reserva Clóvis Bandeira, dizia que a ex-senadora “incorporou o desejo vago de mudanças que levou o povo às ruas em junho” e que ela seria a única capaz de “interromper a malfadada corruptocracia instalada no poder pelo lulopetismo”. Já nesta quarta-feira, a velha instituição voltou a se manifestar, desta vez para apoiar a cambaleante candidatura de Aécio Neves. O que houve? Racha interno ou velhice?

Segundo o novo artigo, agora assinado por Gilberto Pimentel, presidente da entidade, “o candidato que consideramos ‘menos pior’ é o Aécio Neves, que terá nosso voto (meu) e foi o único convidado por nós para apresentar sua proposta de governo”. Ele ainda retruca o texto anterior, afirmando que “seria total incoerência” apoiar a candidata do PSB. Para evitar traumas internos, o general aposentado alega que o artigo do seu subordinado, Clóvis Bandeira, foi “provocativo” e visava “recolocar o Clube na mídia”. Para ele, o que move a entidade “é a esperança do fim da era Lula/PT que tantos males já causou ao país... Nem interessa tanto se para A, B ou CE, o importante é mudar já”.

Segundo o general da reserva, Aécio Neves teria agendado uma visita ao Clube Militar. Ela só foi cancelada após a morte de Eduardo Campos. “A mudança radical do cenário político, em seu desfavor, parece tê-lo obrigado a rever seus compromissos. Avaliou que sua agenda não devia mais nos incluir. Pena também é que seus correligionários já dão sinais de aceitarem a derrota”, escreveu, em tom de mágoa. A postura errática dos “milicos de pijama” não significa que eles não interfiram na batalha eleitoral. Eles já têm o apoio do PSDB. No caso de Marina Silva, o que talvez explique a confusão é que ela mudou de posição sobre a Lei de Anistia. Antes era a favor da sua revisão para punir os crimes da ditadura; agora é contra!

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