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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, março 01, 2016



Frida03
Desde o dia 30 de janeiro, o Centro Cultural da Caixa Econômica Federal expõe obras de Frida Khalo e outras quatorze artistas mexicanas no centro do Rio de Janeiro. A arte é o elo condutor da amizade entre essas mulheres nascidas ou radicadas no México. As histórias dessas vidas se entrelaçam nas 30 obras da exposição intitulada “Frida Kahlo: conexões entre mulheres surrealistas mexicanas”.
A exposição passou primeiro por São Paulo, onde foi visitada por mais de 600 mil pessoas, e ficará na capital fluminense até 27 de março.
Sob a tutela da pesquisadora Teresa Arqc, a mostra desnuda a parceria e a cumplicidade que havia entre Frida, María Izquierdo, Remedios Varo, Leonora Carrington, Rosa Rolanda, Lola Álvarez Bravo, Lucienne Bloch, Alice Rahon, Kati Horna, Bridget Tichenor, Jacqueline Lamba, Bona de Mandiargues, Cordélia Urueta, Olga Costa e Sylvia Fein. Transgressoras de regras e valores patriarcais, essas mulheres se uniram para contar através de sua arte suas histórias de luta e liberdade.
Criaram espaços para divulgar formas e temas sobre a natureza, o corpo, o erotismo, a mulher, a maternidade e o inconsciente. A ligação com o surrealismo e suas influências estéticas as mantinham fortes e unidas.
As cores vibrantes e sombrias em algumas peças artísticas, assim como a leveza e o colorido de suas roupas, refletem a dubiedade entre a realidade e o imaginário. O subconsciente é retratado nas telas e fotos. A teoria freudiana tem um grande peso na constituição do ideário surrealista que valoriza acima de tudo o desempenho da esfera do inconsciente no processo da criação.
A exposição retrata os conflitos entre a realidade e o imaginário. Entre o fato e o desejo. Influências e experiências de sofrimento e amor, dor e felicidade.        Um convite à reflexão sobre a importância da amizade, do companheirismo, da cumplicidade erguida e vivida por essas mulheres excepcionais que tinham o objetivo de transpor suas reais e imaginárias necessidades humanas.
Denise Maia, Rio de Janeiro
AVerdade

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