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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, março 23, 2016

'O recado que queremos passar é que não vai ser fácil como eles pensam', diz Boulos

Frente Povo Sem Medo vai realizar manifestações em defesa da democracia em seis estados, na próxima quinta-feira (24). Atos terminarão em frente às sedes da Rede Globo
por Rodrigo Gomes, da RBA publicado 22/03/2016 19:16, última modificação 22/03/2016 19:19
WALMOR CARVALHO/FOTOARENA/FOLHAPRESS
boulos
“O que está em jogo é o direito de lutar por direitos, que é próprio da democracia”, defendeu Boulos
São Paulo – Representantes dos movimentos que compõem a Frente Povo Sem Medo fizeram hoje (22) entrevista coletiva em São Paulo para falar sobre as manifestações que serão realizadas quinta-feira (24) em pelo menos seis capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Recife e Fortaleza) em defesa da democracia. A frente é composta pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a central sindical Intersindical e outros 30 movimentos.
“Se os setores que estão insuflando irresponsavelmente uma ofensiva golpista no Brasil acreditaram, por algum momento, que bastaria botar o bloco na avenida e fazer o carnaval, sem resistência popular, já tiveram motivo para perceber que não vai ser assim. Vão encontrar resistência”, afirmou o coordenador do MTST, Guilherme Boulos.
As manifestações serão encerradas nas sedes da Rede Globo em cada cidade. Em São Paulo, são esperadas 50 mil pessoas. “O que está em jogo é o direito de lutar por direitos, que é próprio da democracia”, defende Boulos.
Para o secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, este é o momento de todos saírem às ruas para defesa da democracia. “Aquilo que está sendo gestado vai atingir a todos nós. Não é uma defesa do PT ou do governo, é uma questão fundamentalmente de defesa da democracia. Fica cada vez mais clara a articulação orquestrada entre o Judiciário, os banqueiros, a grande mídia, a Fiesp, o parlamento. E de fato não vai sair disso nada que seja melhor para a classe trabalhadora”, disse.
Para Boulos, está sendo fomentado um clima de guerra no país, com agressões a pessoas que simplesmente vestem uma roupa vermelha ou "têm cara de petista", como ocorreu na Avenida Paulista, centro de São Paulo, na última semana. Ele afirmou que parte disso é responsabilidade da imprensa, com seu linchamento midiático. "E do Judiciário, com sua justiça de exceção". Ainda assim, segundo Boulos, os movimentos não vão ver “a frágil e precária democracia brasileira ser jogada fora”.
“Podem querer derrubar o governo. Podem querer prender o Lula. Podem querer criminalizar os movimentos populares. Achar que vão dar um golpe e depois vai vir a paz dos cemitérios é uma ilusão de quem não conhece a história do movimento popular no Brasil. Não vai ser assim”, afirmou o líder do MTST.
O militante sem-teto disse que a iniciativa, por ora, é estar nas ruas e não baixar as bandeiras de reivindicação. Mas nenhum tipo de ação está descartada, caso o movimento contrário avance. “Há setores do mercado que acham que tirar a Dilma, resolve, vai pacificar o país e fazer as reformas estruturais que se precisa para a economia brasileira. O escambau. Este país vai ser incendiado por greves, ocupações, mobilizações, travamentos de rodovias. Se forem até as últimas consequências não vai haver um dia de paz no Brasil.”
Os movimentos defenderam ainda que é urgente no Brasil o combate à corrupção. Mas que isso não pode ser feito passando por cima da legalidade, elegendo uma pessoa, no caso, o ex-presidente Lula, como alvo principal e ameaçando derrubar a democracia. “Não há uma investigação para prender corrupto ou acabar com a corrupção. Há toda uma operação para prender alguém que eles já consideram culpado, que eles já criminalizaram e que eles sabem que é uma pedra no sapato deles na próxima eleição”, afirmou Índio.
A frente justificou a ideia de encerrar as mobilizações na Globo por seu "papel histórico de apoio ao golpe de Estado em 1964 e nas recentes ações midiáticas referentes às manifestações golpistas e à Operação Lava Jato, com telejornais quase inteiramente dedicados a isso". No entanto, fizeram uma ressalva. “Uma coisa é o papel político que a Globo tem desenvolvido, que é golpista. Outra coisa são os profissionais da emissora. No nosso ato vocês podem estar seguros que não vai haver hostilidade a profissionais de imprensa de qualquer veículo”, afirmou Boulos.
Em São Paulo, a concentração do ato será às 17h, no Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste. A manifestação vai até a sede da Rede Globo, na Avenida Luís Carlos Berrini. Os movimentos informaram que a Polícia Militar (PM) foi comunicada do trajeto do ato na tarde de ontem (21) e que foi solicitada garantia de segurança aos manifestantes.
No Rio, o ato vai ser realizado no Campus Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), às 11h, de onde também seguirá para a Globo. No Ceará, a concentração vai ser na Avenida Castelo de Castro, em Jungurussu, às 17h. Em Brasília o ato vai se concentrar no Brasília Shopping, no SCN,Quadra 5, Asa Norte, às 17h. Os locais das demais cidades ainda serão definidos.

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