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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, março 08, 2016

NO DIA INTERNACIONAL DA MULHER, MINHA HOMENAGEM É ADMITIR MEU MACHISMO. POR MARCOS SACRAMENTO

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Hoje muitos de nós homens prestaremos homenagens pelo Dia Internacional da Mulher. Iremos compartilhar imagens ou gifs no Facebook, postaremos letras de músicas e mandaremos mensagens às amigas, familiares e parceiras. Alguns levarão flores para a firma ou um bolo de chocolate para o lanche da tarde.
Porém, a melhor reverência que um homem pode prestar às mulheres é admitir o próprio machismo e tomar atitudes para desconstruí-lo.
Não, caro amigo, não adianta argumentar que você não é machista. Todos somos, de alguma forma. O que muda é a intensidade do preconceito.
A notícia boa é que com algum esforço podemos melhorar. Para isso, precisamos entender e aceitar que a cantada de rua não é elogio. Uma pesquisa revelou que 83% das mulheres não gostam delas e sentem medo quando ouvem palavras de assédio disfarçadas de galanteios.
Para desconstruir o machismo, é preciso que os homens entendam que nenhuma mulher é morta ou estuprada por causa da roupa que veste. Pensar assim é culpar a vítima, diminuindo, de certa forma, a responsabilidade do agressor frente à esta prática horrenda.
Da mesma forma, precisamos aceitar que as turistas argentinas Marina Menegazzo e María José Coni, assassinadas no mês passado no Equador, não morreram por viajarem sozinhas, e sim porque as mentes perversas de alguns de nós, combinadas com o machismo que carregamos desde a infância, fazem das mulheres alvo da violência.
Não adianta dar flores e distribuir abraços carinhosos no dia 08 de Março se torcemos o nariz para o direito à mulher abortar.  De que vale postar poeminhas em homenagem às mulheres se acharmos normal um homem ter um filho e limitar sua responsabilidade na criação da criança ao pagamento da pensão alimentícia?
Só no Brasil, a cada uma hora e meia uma mulher é morta por um homem. É um número absurdo. Por mais que as feministas façam campanhas, protestos, escrevam artigos e eduquem outras mulheres, esse índice não cairá se os homens não mudarem suas atitudes e ideias em relação ao sexo feminino.
A chave para essa mudança é buscar a desconstrução dos conceitos machistas que carregamos e se informar sobre as demandas feministas. Dá para fazer isso pesquisando na internet ou mesmo conversando com uma amiga ou colega de trabalho.
Começar a destruir o nosso machismo hoje, no Dia Internacional da Mulher, não rende curtidas como as postagens fofas no Facebook. Mas no futuro pode dar bons resultados.

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