Candidatura Serra revela desdém pela inteligência do paulistano
A
recém-anunciada decisão do ex-governador tucano José Serra de disputar
mais uma vez a prefeitura de São Paulo revela seu mais completo
desprezo pela inteligência da maioria do povo paulistano.
Serra
tem lá suas razões para acreditar que a maioria dessa população é
incapaz de assoviar e amarrar os sapatos ao mesmo tempo. Até hoje, há
muita gente aqui que recita com orgulho o bordão de que “Maluf rouba,
mas faz”, apesar de ser um ladrão que não pode nem sair do Brasil por
ser procurado pela Interpol.
São
Paulo, quase sempre, vota no pior. Em 1985, elegeu Jânio Quadros contra
o então progressista Fernando Henrique Cardoso. A prefeitura de Jânio
fundou máfias como a dos fiscais e fez a qualidade de vida despencar na
cidade.
A devastação nas
finanças paulistanas e a paralisação dos serviços públicos foi de tal
ordem que, em 1988, ocorreu um fenômeno raro na capital paulista: para
consertar o desastre janista, o paulistano elegeu a primeira de duas
mulheres petistas, Luiza Erundina.
Por
motivos ideológicos, a imprensa paulista fustigou o governo Erundina,
que saneara as finanças e implantara programas sociais revolucionários,
e trabalhou intensamente pela primeira vitória eleitoral legítima de
Paulo Maluf a um cargo no Poder Executivo.
Com
a ajuda sobretudo do jornal O Estado de São Paulo, Maluf se elege
prefeito em 1992 e consegue eleger o sucessor, Celso Pitta, em 1996. Os
dois governos produzem um desastre tão completo que, em 2000, uma
cidade novamente falida coloca uma petista de novo no poder para
consertar o que direita fizera.
Marta
Suplicy saneia novamente as contas da prefeitura, implanta programas
sociais revolucionários como Erundina e, apesar de terminar seu mandato
bem-avaliada pela maioria dos paulistanos, estes elegem novamente um
governo conservador.
Em 2004, o
tucano José Serra se elege prometendo que não faria do cargo de
prefeito um trampolim para voos políticos mais altos, descumpre a
promessa abandonando a prefeitura nas mãos do vice, Gilberto Kassab, e,
apesar disso, este se elege prefeito em 2008.
Os
paulistanos justificaram o voto no indicado de Serra, apesar de ele
ter mentido por escrito ao prometer não deixar o cargo de prefeito caso
fosse eleito, com a premissa de que queriam colocar o “competente”
tucano em uma posição ainda melhor.
É
neste ponto que surge novo teste para a inteligência do povo de São
Paulo. Segundo a última pesquisa Datafolha sobre a aprovação do
prefeito que Serra vendeu aos paulistanos, sua administração, como a de
outros prefeitos conservadores, tem sido um desastre.
A
popularidade de Gilberto Kassab chegou ao fundo do poço. A pesquisa
foi realizada nos dias 26 e 27 de janeiro último e detectou que só 22%
dos eleitores aprovam a atual gestão, enquanto que 37% consideram-na
péssima ou ruim.
Para entender
por que Kassab é tão mal avaliado, há que olhar para o Índice de
Desenvolvimento Humano da capital paulista em comparação com outras
capitais do Sul e do Sudeste, com as quais cabe comparação.
Como
se vê, a cidade mais rica da América Latina chegou à penúltima
colocação entre as capitais do Sul e do Sudeste, acima apenas de Belo
Horizonte. A qualidade de vida em São Paulo vem caindo ano a ano devido
às loucuras eleitorais que a população praticou com Janio, Maluf,
Pitta, Serra e Kassab.
Para
todos esses, a prefeitura da capital paulista representou apenas um
trampolim político. Atualmente, Kassab cuida muito mais do partido que
criou (PSD) do que da administração da cidade.
Ora,
pela lógica, se Serra indicou Kassab – assim como Maluf indicou Pitta –
e a indicação se revelou desastrosa, a população paulistana deveria
fazer com o tucano o que fez com Maluf em 2000, quando lhe negou a
eleição por ter indicado um prefeito que fez um mau governo.
Vale
lembrar que, naquele ano, a imprensa negou apoio ao candidato da
direita. Estadão, Folha e Veja apoiaram Marta em 2000, pois São Paulo
estava em verdadeiro estado de calamidade.
Este
ano, porém, mais uma vez Estadão, Folha de São Paulo e revista Veja
devem trabalhar intensamente pela eleição do candidato da direita,
assim como trabalharam pela eleição de Jânio, de Maluf, de Pitta, de
Serra e de Kassab.
Por outro
lado, a queda progressiva da qualidade de vida pode ocasionar o que
ocorreu quando a cidade elegeu Erundina e Marta. Após dois governos
desastrosos como o de Maluf e o de Pitta, a população, em tese, poderia
optar por eleger um petista de novo para arrumar a casa, ainda que
seja para entregá-la de novo à direita na eleição seguinte.
Todavia, há um fenômeno na eleição deste ano que inexistiu quando as duas mulheres petistas se elegeram prefeitas.
O
engajamento da imprensa na candidatura tucana deve ser muito maior do
que foi na de Maluf em 1992 e na de Pitta em 1996. Será como na de
Serra, em 2004, e na de Kassab em 2008.
O
ponto fora da curva, porém, é a rejeição a Serra, que explodiu nos
últimos anos concomitantemente à degradação da qualidade de vida gerada
pela eleição de um prefeito como Kassab, que governa nas horas vagas,
entre uma articulação política e outra.
E
ainda restam as implicações do livro da Privataria tucana no processo
eleitoral paulistano, mas esse assunto merece um post só para si…
*Blog da Cidadania
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