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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Candidatura Serra revela desdém pela inteligência do paulistano

A recém-anunciada decisão do ex-governador tucano José Serra de disputar mais uma vez a prefeitura de São Paulo revela seu mais completo desprezo pela inteligência da maioria do povo paulistano.
Serra tem lá suas razões para acreditar que a maioria dessa população é incapaz de assoviar e amarrar os sapatos ao mesmo tempo. Até hoje, há muita gente aqui que recita com orgulho o bordão de que “Maluf rouba, mas faz”, apesar de ser um ladrão que não pode nem sair do Brasil por ser procurado pela Interpol.
São Paulo, quase sempre, vota no pior. Em 1985, elegeu Jânio Quadros contra o então progressista Fernando Henrique Cardoso. A prefeitura de Jânio fundou máfias como a dos fiscais e fez a qualidade de vida despencar na cidade.
A devastação nas finanças paulistanas e a paralisação dos serviços públicos foi de tal ordem que, em 1988, ocorreu um fenômeno raro na capital paulista: para consertar o desastre janista, o paulistano elegeu a primeira de duas mulheres petistas, Luiza Erundina.
Por motivos ideológicos, a imprensa paulista fustigou o governo Erundina, que saneara as finanças e implantara programas sociais revolucionários, e trabalhou intensamente pela primeira vitória eleitoral legítima de Paulo Maluf a um cargo no Poder Executivo.
Com a ajuda sobretudo do jornal O Estado de São Paulo, Maluf se elege prefeito em 1992 e consegue eleger o sucessor, Celso Pitta, em 1996. Os dois governos produzem um desastre tão completo que, em 2000, uma cidade novamente falida coloca uma petista de novo no poder para consertar o que direita fizera.
Marta Suplicy saneia novamente as contas da prefeitura, implanta programas sociais revolucionários como Erundina e, apesar de terminar seu mandato bem-avaliada pela maioria dos paulistanos, estes elegem novamente um governo conservador.
Em 2004, o tucano José Serra se elege prometendo que não faria do cargo de prefeito um trampolim para voos políticos mais altos, descumpre a promessa abandonando a prefeitura nas mãos do vice, Gilberto Kassab, e, apesar disso, este se elege prefeito em 2008.
Os paulistanos justificaram o voto no indicado de Serra, apesar de ele ter mentido por escrito ao prometer não deixar o cargo de prefeito caso fosse eleito, com a premissa de que queriam colocar o “competente” tucano em uma posição ainda melhor.
É neste ponto que surge novo teste para a inteligência do povo de São Paulo. Segundo a última pesquisa Datafolha sobre a aprovação do prefeito que Serra vendeu aos paulistanos, sua administração, como a de outros prefeitos conservadores, tem sido um desastre.
A popularidade de Gilberto Kassab chegou ao fundo do poço. A pesquisa foi realizada nos dias 26 e 27 de janeiro último e detectou que só 22% dos eleitores aprovam a atual gestão, enquanto que 37% consideram-na péssima ou ruim.
Para entender por que Kassab é tão mal avaliado, há que olhar para o Índice de Desenvolvimento Humano da capital paulista em comparação com outras capitais do Sul e do Sudeste, com as quais cabe comparação.
Como se vê, a cidade mais rica da América Latina chegou à penúltima colocação entre as capitais do Sul e do Sudeste, acima apenas de Belo Horizonte. A qualidade de vida em São Paulo vem caindo ano a ano devido às loucuras eleitorais que a população praticou com Janio, Maluf, Pitta, Serra e Kassab.
Para todos esses, a prefeitura da capital paulista representou apenas um trampolim político. Atualmente, Kassab cuida muito mais do partido que criou (PSD) do que da administração da cidade.
Ora, pela lógica, se Serra indicou Kassab – assim como Maluf indicou Pitta – e a indicação se revelou desastrosa, a população paulistana deveria fazer com o tucano o que fez com Maluf em 2000, quando lhe negou a eleição por ter indicado um prefeito que fez um mau governo.
Vale lembrar que, naquele ano, a imprensa negou apoio ao candidato da direita. Estadão, Folha e Veja apoiaram Marta em 2000, pois São Paulo estava em verdadeiro estado de calamidade.
Este ano, porém, mais uma vez Estadão, Folha de São Paulo e revista Veja devem trabalhar intensamente pela eleição do candidato da direita, assim como trabalharam pela eleição de Jânio, de Maluf, de Pitta, de Serra e de Kassab.
Por outro lado, a queda progressiva da qualidade de vida pode ocasionar o que ocorreu quando a cidade elegeu Erundina e Marta. Após dois governos desastrosos como o de Maluf e o de Pitta, a população, em tese, poderia optar por eleger um petista de novo para arrumar a casa, ainda que seja para entregá-la de novo à direita na eleição seguinte.
Todavia, há um fenômeno na eleição deste ano que inexistiu quando as duas mulheres petistas se elegeram prefeitas.
O engajamento da imprensa na candidatura tucana deve ser muito maior do que foi na de Maluf em 1992 e na de Pitta em 1996. Será como na de Serra, em 2004, e na de Kassab em 2008.
O ponto fora da curva, porém, é a rejeição a Serra, que explodiu nos últimos anos concomitantemente à degradação da qualidade de vida gerada pela eleição de um prefeito como Kassab, que governa nas horas vagas, entre uma articulação política e outra.
E ainda restam as implicações do livro da Privataria tucana no processo eleitoral paulistano, mas esse assunto merece um post só para si…
*Blog da Cidadania

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