(Dica Do DAR) : Redução de danos para o uso de maconha – Uma introdução
O texto é de Sérgio Vidal, e foi originalmente publicado no (ótimo) site do Coletivo CannaCerrado .
Essas propagandas e informações que circulam na sociedade não têm de fato ajudado a lidar com os reais problemas que podem decorrer do uso de maconha, pois quando as pessoas fumam maconha e não sofrem tais danos, automaticamente passam a descartar todas as informações de alerta a respeito do hábito. Se estivessemos numa situação de legalidade, onde conversar sobre a cannabis fosse considerado algo comum e normal, as pessoas buscariam informações com seus pais, em livros, revistas, professores, médicos, etc, de uma forma muito mais aberta do que hoje em dia. No entanto, infelizmente, não vivemos tal situação, e os usuários, em geral, buscam informações entre usuários mais experientes e, principalmente, na internet.
Mas, de fato, apesar de ser muito menos perigosa do que outras drogas ilícitas, e também do que drogas lícitas, como álcool e tabaco, a maconha, como todas as substâncias psicoativas, não é totalmente inócua. Mas, onde terminam os mitos e começam os fatos sobre seus reais riscos e danos? Nesse texto procuro discutir um pouco a respeito dos riscos mais comuns, apresentando algumas formas de minimizá-los e diminuir os danos provocados pelo hábito de consumir a planta.
Os possíveis danos decorrentes do uso da maconha são ligados à saúde física ou mental.
Com relação à saúde física, geralmente estão relacionados a utilização de métodos de ingestão que usam a fumaça da planta como veículo condutor dos princípios ativos. A ingestão de qualquer conteúdo inalando a fumaça da sua queima provoca irritação e danos nos órgãos e tecidos dos aparelhos digestivo e respiratório. Esses danos podem, inclusive, levar ao desenvolvimento de feridas e até mesmo câncer. Usada na forma de cigarros ou em cachimbos, além da fumaça em alta temperatura, a cannabis libera substâncias tóxicas como o monóxido de carbono, que podem apresentar o mesmo potencial de risco que as liberadas pela queima do tabaco e outros materiais.
Hoje em dia estão disponíveis no mercado aparelhos que aquecem as flores de cannabis a uma temperatura que varia entre 150ºC e 250ºC, o suficiente para transformar em vapor toda a água e grande parte da resina, sem necessidade de carburação. São os chamados vaporizadores. Esses aparelhos despejam jatos de ar-quente através de um recipiente contendo a cannabis, conduzindo o vapor resinado a ambientes em separado para serem inalados. Essas tecnologias reduzem ao máximo os riscos do ato de inalar a resina, com uma perda mínima dos princípios ativos.
Lembre-se que a inalação de componentes não-psicoativos também presentes na fumaça, como monóxido de carbono e alcatrão, faz mal ao sistema respiratório. O ideal é sempre usar aparelhos vaporizadores para prevenir os riscos de danos à saúde. Caso seja impossível adquirir um vaporizador, procure usar equipamentos para resfriar a fumaça como piteiras, cachimbos, bongs, dentre outros. Os bongs, cachimbos e vaporizadores são preferiveis aos cigarros porque dispensam o uso do papel. A fumaça da queima do papel já introduz novos fatores prejudiciais à saúde do usuário.
Se optar por cigarros evite fumar pontas muito pequenas, para não deixar que a brasa fique muito próxima. Use papéis produzidos especificamente para confecção de cigarros e evite os que contenham tinturas, aromatizadores ou outros produtos químicos. Evite também fumar cigarros feitos com pontas. As pontas não são mais escuras apenas por causa da resina psicoativa acumulada, mas também por causa do alcatrão acumulado.
As folhas da maconha têm pouca resina psicoativa, que se concentra em suas flores e partes anexas. As folhas, por sua vez, têm grande quantidade de alcatrão e outras substâncias nocivas. Na hora do consumo, é importante também descartar não só as folhas, mas galhos e outros resíduos. No fumo vendido comumente no mercado brasileiro não existe o cuidado de fornecer apenas as flores, é possivel encontrar também folhas, galhos e sementes, tudo isso longe do estado ideal de conservação.
Seja “solto” ou “prensado”, muitas vezes o fumo apresenta características de contaminação por mofo, consequência da falta de cuidado com o qual é colhido, curado, armazenado e transportado. Fumo mofado jamais deveria ser consumido. Mas estamos falando de redução de danos, e seria muita hipocrisia da minha parte acreditar que muitos usuários não vão fumar algo mofado. Muitas pessoas compram maconha em condições que não têm como avaliar o produto antes de já estar em sua posse. Caso você tenha certeza que quer se arriscar a consumir um fumo mofado, a melhor opção então é submetê-lo a ao menos 1 minuto no micro-ondas, em temperatura máxima, ou fazer o mesmo processo com um forno convencional. É preciso tomar cuidado para não torrar o fumo, mas é importante para ao menos diminuir o risco. Uma boa estratégia também é lavar bastante o fumo com água corrente e depois secá-lo. A resina psicoativa é um óleo e, por isso, não se mistura com água. É possível lavar bastante a maconha com uma perda miníma ou nula de psicoatividade. Em casos de contaminação é muito importante fazer a lavagem e higienização para evitar consequências graves.
É possível também fazer preparados comestiveis com a maconha. Basta usar estratégias para fazer com o óleo da planta seja absorvido por algum produto gordusoso, como manteiga, leite ou outros óleos vegetais, a exemplo dos de azeitona, girassol, canola, etc.
Com relação aos danos à saúde mental, não há nada comprovado que possa afirmar que a maconha cause problemas, mas há fortes indícios de que ela acelere processos psicóticos em pessoas com disposição genética ou ajude a desencadeá-los em situações de crise, em especial os casos de esquizofrenia. Se existe algum indício de que a pessoa tem uma predisposição a qualquer enfermidade psíquica é preciso muita precaução antes de decidir consumir maconha. Ela é uma droga psicoativa forte e deve ser respeitada. É importante também que a pessoa, sabendo disso, procure consumi-la apenas em ambientes agradavéis, em situações que não possam prejudicar a experiência com a planta e, principalmente, em momentos no qual esteja se sentindo bem e segura. Respeite a planta, mas respeite principalmente a si mesmo e seus limites. É importante que os usuários frequentes, que consomem todo dia, procurem estabelecer rituais de uso que afastem comportamentos compulsivos da sua rotina.
Para usuários frequentes que procuram reconstruir sua relação com o uso sempre faço as mesmas recomendações que faço aos tabagistas. Evite fumar enquanto desenvolve outras atividades. Procure reservar os momentos específicos apenas para consumir. Assim, você cria uma rotina de ter que parar outras atividades e também não faz associações. Geralmente muitas pessoas se habituam a fumar antes ou depois de alguma atividade, como almoçar, ou tomar banho, ou ainda fumar enquanto se usa o computador. Esse tipo de associação facilita o surgimento do comportamento compulsivo, ao relacionar a necessidade do efeito farmacológico da substância em si com outras necessidades cotidianas. Em outras palavras, retire os momentos apenas para consumir a planta, aproveitando-o, inclusive, para refletir sobre esse hábito.
Existem muitos outros temas a serem discutidos com relação à redução de danos para o uso de maconha. Cabe ainda a discussão sobre os danos provocados pela proibição da maconha e como reduzi-los. Os danos provocados pelo consumo de maconha comprada e o porque de se iniciar seu próprio cultivo. Mas isso vou deixar para outro dia, pois certamente espero receber o retorno dos leitores aqui do CannaCerrado, para saber quais temas estão sendo considerados mais ou menos interessantes.
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Um abraço e até semana que vem!
* Esse texto pode ser reproduzido desde que citada a fonte e o link original.
Sergio Vidal é antropólogo e autor do livro Cannabis Medicinal – Introdução ao Cultivo Indoor (http://cultivomedicinal.com.br) e de diversos artigos sobre drogas, seus usos e usuários. É conselheiro do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas – CONAD. Atualmente também é pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Substâncias Psicoativas -NEIP (http://neip.info) – sergiociso@gmail.com
*DARDesentorpecendoarazão
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Redução de danos para o uso de maconha – Uma introdução…
Muitas pessoas que fumam maconha não se dão conta dos riscos que o uso pode trazer para sua saúde, ou para as pessoas da sua convivência. Hoje, há uma quantidade de usuários que cresceu vendo propagandas na TV, ou ouvindo seus pais ou outras pessoas falando absurdos a respeito dos perigos da maconha. Dizia-se (e se diz muito ainda por aí), que a maconha pode destruir neurônios, levar à impotência, causas crescimento das mamas nos homens, prejudicar a memória, câncer de pulmão, dependência e mais um monte de outros problemas.Essas propagandas e informações que circulam na sociedade não têm de fato ajudado a lidar com os reais problemas que podem decorrer do uso de maconha, pois quando as pessoas fumam maconha e não sofrem tais danos, automaticamente passam a descartar todas as informações de alerta a respeito do hábito. Se estivessemos numa situação de legalidade, onde conversar sobre a cannabis fosse considerado algo comum e normal, as pessoas buscariam informações com seus pais, em livros, revistas, professores, médicos, etc, de uma forma muito mais aberta do que hoje em dia. No entanto, infelizmente, não vivemos tal situação, e os usuários, em geral, buscam informações entre usuários mais experientes e, principalmente, na internet.
Mas, de fato, apesar de ser muito menos perigosa do que outras drogas ilícitas, e também do que drogas lícitas, como álcool e tabaco, a maconha, como todas as substâncias psicoativas, não é totalmente inócua. Mas, onde terminam os mitos e começam os fatos sobre seus reais riscos e danos? Nesse texto procuro discutir um pouco a respeito dos riscos mais comuns, apresentando algumas formas de minimizá-los e diminuir os danos provocados pelo hábito de consumir a planta.
Os possíveis danos decorrentes do uso da maconha são ligados à saúde física ou mental.
Com relação à saúde física, geralmente estão relacionados a utilização de métodos de ingestão que usam a fumaça da planta como veículo condutor dos princípios ativos. A ingestão de qualquer conteúdo inalando a fumaça da sua queima provoca irritação e danos nos órgãos e tecidos dos aparelhos digestivo e respiratório. Esses danos podem, inclusive, levar ao desenvolvimento de feridas e até mesmo câncer. Usada na forma de cigarros ou em cachimbos, além da fumaça em alta temperatura, a cannabis libera substâncias tóxicas como o monóxido de carbono, que podem apresentar o mesmo potencial de risco que as liberadas pela queima do tabaco e outros materiais.
Hoje em dia estão disponíveis no mercado aparelhos que aquecem as flores de cannabis a uma temperatura que varia entre 150ºC e 250ºC, o suficiente para transformar em vapor toda a água e grande parte da resina, sem necessidade de carburação. São os chamados vaporizadores. Esses aparelhos despejam jatos de ar-quente através de um recipiente contendo a cannabis, conduzindo o vapor resinado a ambientes em separado para serem inalados. Essas tecnologias reduzem ao máximo os riscos do ato de inalar a resina, com uma perda mínima dos princípios ativos.
Lembre-se que a inalação de componentes não-psicoativos também presentes na fumaça, como monóxido de carbono e alcatrão, faz mal ao sistema respiratório. O ideal é sempre usar aparelhos vaporizadores para prevenir os riscos de danos à saúde. Caso seja impossível adquirir um vaporizador, procure usar equipamentos para resfriar a fumaça como piteiras, cachimbos, bongs, dentre outros. Os bongs, cachimbos e vaporizadores são preferiveis aos cigarros porque dispensam o uso do papel. A fumaça da queima do papel já introduz novos fatores prejudiciais à saúde do usuário.
Se optar por cigarros evite fumar pontas muito pequenas, para não deixar que a brasa fique muito próxima. Use papéis produzidos especificamente para confecção de cigarros e evite os que contenham tinturas, aromatizadores ou outros produtos químicos. Evite também fumar cigarros feitos com pontas. As pontas não são mais escuras apenas por causa da resina psicoativa acumulada, mas também por causa do alcatrão acumulado.
As folhas da maconha têm pouca resina psicoativa, que se concentra em suas flores e partes anexas. As folhas, por sua vez, têm grande quantidade de alcatrão e outras substâncias nocivas. Na hora do consumo, é importante também descartar não só as folhas, mas galhos e outros resíduos. No fumo vendido comumente no mercado brasileiro não existe o cuidado de fornecer apenas as flores, é possivel encontrar também folhas, galhos e sementes, tudo isso longe do estado ideal de conservação.
Seja “solto” ou “prensado”, muitas vezes o fumo apresenta características de contaminação por mofo, consequência da falta de cuidado com o qual é colhido, curado, armazenado e transportado. Fumo mofado jamais deveria ser consumido. Mas estamos falando de redução de danos, e seria muita hipocrisia da minha parte acreditar que muitos usuários não vão fumar algo mofado. Muitas pessoas compram maconha em condições que não têm como avaliar o produto antes de já estar em sua posse. Caso você tenha certeza que quer se arriscar a consumir um fumo mofado, a melhor opção então é submetê-lo a ao menos 1 minuto no micro-ondas, em temperatura máxima, ou fazer o mesmo processo com um forno convencional. É preciso tomar cuidado para não torrar o fumo, mas é importante para ao menos diminuir o risco. Uma boa estratégia também é lavar bastante o fumo com água corrente e depois secá-lo. A resina psicoativa é um óleo e, por isso, não se mistura com água. É possível lavar bastante a maconha com uma perda miníma ou nula de psicoatividade. Em casos de contaminação é muito importante fazer a lavagem e higienização para evitar consequências graves.
É possível também fazer preparados comestiveis com a maconha. Basta usar estratégias para fazer com o óleo da planta seja absorvido por algum produto gordusoso, como manteiga, leite ou outros óleos vegetais, a exemplo dos de azeitona, girassol, canola, etc.
Com relação aos danos à saúde mental, não há nada comprovado que possa afirmar que a maconha cause problemas, mas há fortes indícios de que ela acelere processos psicóticos em pessoas com disposição genética ou ajude a desencadeá-los em situações de crise, em especial os casos de esquizofrenia. Se existe algum indício de que a pessoa tem uma predisposição a qualquer enfermidade psíquica é preciso muita precaução antes de decidir consumir maconha. Ela é uma droga psicoativa forte e deve ser respeitada. É importante também que a pessoa, sabendo disso, procure consumi-la apenas em ambientes agradavéis, em situações que não possam prejudicar a experiência com a planta e, principalmente, em momentos no qual esteja se sentindo bem e segura. Respeite a planta, mas respeite principalmente a si mesmo e seus limites. É importante que os usuários frequentes, que consomem todo dia, procurem estabelecer rituais de uso que afastem comportamentos compulsivos da sua rotina.
Para usuários frequentes que procuram reconstruir sua relação com o uso sempre faço as mesmas recomendações que faço aos tabagistas. Evite fumar enquanto desenvolve outras atividades. Procure reservar os momentos específicos apenas para consumir. Assim, você cria uma rotina de ter que parar outras atividades e também não faz associações. Geralmente muitas pessoas se habituam a fumar antes ou depois de alguma atividade, como almoçar, ou tomar banho, ou ainda fumar enquanto se usa o computador. Esse tipo de associação facilita o surgimento do comportamento compulsivo, ao relacionar a necessidade do efeito farmacológico da substância em si com outras necessidades cotidianas. Em outras palavras, retire os momentos apenas para consumir a planta, aproveitando-o, inclusive, para refletir sobre esse hábito.
Existem muitos outros temas a serem discutidos com relação à redução de danos para o uso de maconha. Cabe ainda a discussão sobre os danos provocados pela proibição da maconha e como reduzi-los. Os danos provocados pelo consumo de maconha comprada e o porque de se iniciar seu próprio cultivo. Mas isso vou deixar para outro dia, pois certamente espero receber o retorno dos leitores aqui do CannaCerrado, para saber quais temas estão sendo considerados mais ou menos interessantes.
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Um abraço e até semana que vem!
* Esse texto pode ser reproduzido desde que citada a fonte e o link original.
Sergio Vidal é antropólogo e autor do livro Cannabis Medicinal – Introdução ao Cultivo Indoor (http://cultivomedicinal.com.br) e de diversos artigos sobre drogas, seus usos e usuários. É conselheiro do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas – CONAD. Atualmente também é pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Substâncias Psicoativas -NEIP (http://neip.info) – sergiociso@gmail.com
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