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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, fevereiro 25, 2012

O buraco cambial brasileiro

Por Renato Rabelo, em seu blog:

A crise internacional iniciada em 2008 foi o ponto de partida de uma “guerra cambial” imposta pelos Estados Unidos como forma de socializar uma crise criada por eles mesmos. O próprio ministro Guido Mantega cunhou a denominação que obteve repercussão mundial.

Países como a China e a Índia trataram de atrelar suas moedas ao dólar, fazendo-as flutuar numa escala inversamente proporcional ao movimento da moeda norte-americana. Outros países como a Malásia acirraram suas políticas de controle de capitais. A Coreia do Sul recrudesceu sua política comercial externa.

O Brasil, no quesito câmbio, agiu de forma tímida (como se não estivesse em meio a uma verdadeira guerra) com algumas medidas taxando a entrada e saídas de capitais via Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Mas o medo de inflação (num mundo onde a pressão inflacionária inexiste) acrescida de uma política de demonstrar “normas de comportamento” no comércio internacional cobrou seu preço.

Nosso déficit em transações com exterior no mês de janeiro foi o maior em 39 anos (US$ 7 bilhões) denunciando algo insustentável no médio e longo prazo.

Mais atos e menos palavrório. O momento é de agir para conter esta sangria. Cortes mais profundos de juros seriam sinais interessantes. Reconhecer que estamos importando até trilhos de trem do exterior é sinal preocupante.

Não existe “país sem miséria” sem indústria. Onde não existe indústria campeia a barbárie. Que verdade cambial é esta que adotamos que nos permite exportar minério de ferro e importar trilhos do exterior?

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