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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, fevereiro 25, 2012

Malafaia apóia “viúvas” da ditadura 

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Por Altamiro Borges

O “tele-evangelista” Silas Malafaia é um direitista convicto que adora aparecer. Agora ele diz “estranhar” o recuo dos presidentes dos três clubes militares que, saudosos da ditadura, publicaram um “manifesto” com críticas ao governo Dilma Rousseff, levaram um puxão de orelha do comando das Forças Armadas e tiveram que enfiar o rabo entre as pernas – retirando a nota do ar.



“Acho estranhíssimo esse recuo. Meu pai é ex-combatente, e militar é gente de posição. Imagino como deve ter sido grande a pressão do governo para eles terem voltado atrás”, lamentou o pastor bravateiro. O que ele queria? Uma crise militar, um novo golpe e uma nova ditadura? Esta é a sua pregação aos milicos de pijama para combater as “abortistas”, os gays e os comunistas?

“Baixar o porrete” e “entrar de pau”

Na semana passada, Silas Malafaia recebeu a péssima notícia de que o Ministério Público Federal (MPF) quer que ele se retrate de seus comentários preconceituosos e homofóbicos no programa “Vitória em Cristo”, exibido pela Rede Bandeirantes. Em julho do ano passado, ele pregou “baixar o porrete” e “entrar de pau” contra os participantes da Parada Gay.

Ouvido pelo MPF, o pastor justificou que eram apenas gírias. Mas a desculpa não convenceu o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias: “Mais do que expressar uma opinião, as palavras do réu em programa veiculado em rede nacional configuram um discurso de ódio, não condizente com as funções constitucionais da comunicação social”.

Fanatismo moralista patético

De acordo com o pedido do MPF, a retratação deverá ter, no mínimo, o dobro do tempo usado nos comentários preconceituosos. A ação também atinge a TV Bandeirantes. “A emissora é uma concessionária do serviço público federal de radiodifusão e deve compatibilizar a sua atuação com preceitos fundamentais como o direito à honra e a não discriminação”, justificou o MPF.

Apesar deste revés, o pastor não contém sua língua ferina. Ele já é famoso por seu patético fanatismo moralista. No final de 2011, ele mordeu a língua por causa de uma entrevista à revista Época. “Eu vou arrebentar o Toni Reis [presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis]... Eu vou fornicar esse bandido, esse safado. Eu vou arrombar com esses...”.

Serra e a cruzada direitista

Silas Malafaia também é conhecido por suas opiniões políticas direitistas. Na campanha presidencial do ano passado, ele se juntou aos milicos de pijama do Clube Militar e aos fascistas da TFP e do Opus Dei no apoio ao tucano José Serra. Chegou a gravar vídeos raivosos contra Dilma Rousseff, mas sua pregação não obteve a benção divina e seu candidato levou uma surra nas urnas.

Isto não significa que ele não seja um “predestinado”. Suas opiniões são motivo de chacota, mas seus “negócios” vão muito bem. A sua Assembléia de Deus Vitória em Cristo recolhe dos fiéis cerca R$ 40 milhões por ano. Seu programa evangélico é transmitido, com milionários custos, pela Rede TV, Band e CNT. Dublado em inglês, ele também atinge 200 países via satélite.

Vendilhão dos templos eletrônicos

Em 2010, a sua igreja comprou nos EUA o jato Gulfstream III por US$ 4 milhões. O avião tem autonomia para oito horas de vôo, doze lugares, sofá, cozinha e sistema individual de entretenimento. É um “favor de Deus”, conforme está escrito em inglês na sua fuselagem. Mas o pastor garante que não recebe nada da igreja e que vive do dinheiro de sua empresa, a Editora Central Gospel.

É esse pastor bravateiro, alvo de inúmeras investigações por desvio de dinheiro e enriquecimento ilícito, que agora manifesta seu apoio às “viúvas” da ditadura militar. O triste é que este “vendilhão dos templos eletrônicos”, como bem caracterizou o jornalista Luiz Cláudio Cunha, faz as suas “pregações” moralistas e direitistas usando vasto horário nas concessões públicas de televisão.

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