Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Familiares consultam lista com o nome das vítimas do acidente de trem. Foto: EFE
Familiares consultam lista com o nome das vítimas do acidente de trem


Nem sempre foi assim.

A Argentina chegou a ter uma

das melhores redes ferroviárias latino-americanas

, mas as privatizações maciças do governo de Carlos

 Menem (1989-1999) desmantelaram o sistema público

 de transporte e deixaram a rede nas mãos de

 empresas privadas que recebem suculentas

 subvenções.


Um dia depois do acidente de trem que deixou 50 mortos e mais de 700 feridos em Buenos Aires, aumenta a indignação na Argentina pelas condições da rede ferroviária do país e pela falta de controle do governo sobre as empresas concessionárias do transporte.
O trem acidentado pertence à rede administrada pela TBA, propriedade dos irmãos Claudio e Mario Cirigliano, um dos grupos de transporte mais poderosos do país, relacionados pela imprensa local com o ex-secretário de Transporte Ricardo Jaime, investigado por corrupção.
A justiça investiga as circunstâncias do acidente e as possíveis causas, enquanto aumenta a polêmica sobre a necessidade de apurar responsabilidades para evitar que a tragédia se repita no futuro.O comboio havia estado dois meses parado por problemas técnicos, segundo dirigentes sindicais, tinha entre 40 e 50 anos de uso, transportava cerca de 1.500 passageiros e, como é habitual na rede ferroviária de Buenos Aires, fazia seu percurso com várias portas abertas, segundo testemunhas.
Uma situação comum para os usuários da ferrovia argentina, acostumados a trens desvencilhados, sem portas ou sem guichês, sujos, velhos e, com frequência, com deficiências técnicas.
Nem sempre foi assim. A Argentina chegou a ter uma das melhores redes ferroviárias latino-americanas, mas as privatizações maciças do governo de Carlos Menem (1989-1999) desmantelaram o sistema público de transporte e deixaram a rede nas mãos de empresas privadas que recebem suculentas subvenções.
"Nas privatizações está a essência desta tragédia", denunciou o economista Leopoldo Markus, partidário de apontar responsabilidades aos sucessivos governos argentinos pela falta de controle sobre as empresas privadas e os subsídios.
"Sem investimentos colocamos o usuário em perigo. Não funciona o sistema de controle", ressaltou o dirigente da União Ferroviária, Rubén Sobrero. Sobrero divide a responsabilidade entre as empresas privadas e o Executivo porque "ninguém neste governo pode dizer que desconhece a realidade".
"Desde o momento em que uma formação sai com as portas abertas, todos os dias milhares de pessoas viajam com risco de morte", alertou o ex-promotor Eduardo Mondino. Segundo sua opinião, "isto não é um acidente, tem responsabilidades políticas e funcionais".
No meio da polêmica, Roque Cirigliano, da empresa TBA, afirmou hoje que o trem "estava em boas condições" e não descarta que o acidente tenha sido causado por um "erro humano" dado que "é pouco provável que fique sem freios".
Cirigliano esteve na estação Once, local da tragédia, no coração de Buenos Aires, e teve que sair rapidamente no meio da indignação generalizada dos passageiros.
Para o auditor geral da Nação, Leandro Despouy, "estão dadas as condições para que o Estado possa proceder a rescisão da concessão" da TBA, porque o acidente foi "consequência direta do descumprimento de normas básicas".
Despouy, em declarações à Radio Continental, lembrou que a Auditoria Geral da Nação realizou em 2008 um relatório sobre "as deficiências que apresentava o serviço" nessa linha e afirmou que "a situação era desastrosa", especialmente as condições do sistema de freios. Desde então, denunciou, o estado dos trens da linha Sarmiento "não mudou mais para evitar este tipo de situações".
As críticas atingiram também o governo de Cristina Fernández de Kirchner, e muito especialmente o secretário de Transportes, Juan Pablo Schiavi, que horas depois do acidente declarou que a tragédia foi mais grave pelo costume dos argentinos de viajarem nos primeiros vagões. "As pessoas não eram responsáveis por estarem ali, apertadas (...). A gravidade da tragédia é que ela estava anunciada", respondeu nesta quinta-feira o jornalista Ricardo Kirchbaum em um artigo no jornal Clarin.
Assista a vídeo que registrou o momento do acidente:


São Paulo não está livre de uma tragédia como a ocorrida em Buenos Aires. Desde o ano passado uma série de acidentes, alguns com vítimas fatais, vem ocorrendo no sistema ferroviário desse estado. O serviço precário é oferecido pela CPTM, fruto da privataria tucana da década de noventa.
*amoralnato

Nenhum comentário:

Postar um comentário