Medíocres Torquemadas
Tomás de Torquemada | |
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Tomás de Torquemada |
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Born | 1420 Valladolid, Spain |
Died | September 16, 1498 (aged 78) Ávila, Spain |
Occupation | Grand Inquisitor |
As igrejas, sempre de costas para o
futuro, continuam intolerantes às renovações. No tempo do domínio
católico no Ocidente, os contestadores de falsas verdades eram atirados à
fogueira, amaldiçoados pela Inquisição, que não dava trégua a supostas
heresias.
Nos dias de hoje,
impotentes para ditar condenações capitais, os inquisidores ordenam aos
fiéis a punição de políticos que defendem propostas dissidentes à
doutrina que pregam. O aborto e a defesa da homofobia são os exemplos
mais gritantes. E irritantes. Em reação, eles promovem nas eleições a
“queima” de votos dos hereges e, com isso, cerceiam a liberdade do
eleitor e intimidam os candidatos.
Acuado |
Assim agem os pregadores das igrejas evangélicas. São os novos inquisidores.
Essa
réplica tardia e infeliz do Tribunal de Inquisição materializou-se no
Congresso, onde foi depor o ministro Gilberto Carvalho, na terça-feira
15 de fevereiro. Carvalho, secretário-geral da Presidência da República,
viu-se forçado a expiar publicamente “pecados” cometidos aos olhos da
poderosa bancada evangélica, transformada em braço executivo de diversas
igrejas religiosas.
“O pedido de desculpas, de perdão, não foi pelas minhas palavras, e sim pelos sentimentos que provocaram”, disse o ministro.
Qual
foi a heresia? Gilberto Carvalho, durante o Fórum Social Mundial,
manifestou preocupação política com os evangélicos: “A oposição virou pó
(…) a próxima batalha ideológica será com os conservadores evangélicos
que têm uma visão de mundo controlada pelos pastores de televisão”.
Carvalho
é católico fervoroso, mas também é militante político. Petista. Em
razão do cargo, não foi cauteloso, embora tenha falado ingênuas
obviedades. Não pregou o cerceamento de qualquer manifestação religiosa.
Mas foi o suficiente para despertar a ferocidade adormecida da Frente
Parlamentar Evangélica, na qual se destaca o senador capixaba Magno
Malta, que, entre outras ofensas, chamou o ministro de “irresponsável”.
Um
parlamentar ateu presente ao encontro fechado à imprensa descreve assim
o ambiente naquele dia: “Os olhos dos senhores parlamentares disparavam
chispas de fogo, ódio, raiva e intolerância diante daquele enviado do
Maligno que se tornara ministro (…). O clima era pesado. Aquela reunião e
a Inquisição têm tudo a ver. Tenho certeza que não exagero. O problema
para eles era não poder acender a fogueira. Restavam-lhes as línguas de
fogo, prontas a queimar o demônio pecador”.
Serelepe,
o deputado Anthony Garotinho, ex-governador do Rio e evangélico
atuante, também se destacou na ocasião. Sem sucesso, tentou forçar o
ministro a assinar um documento desmentindo as declarações publicadas,
mas diferentes do que falou, garantiu Gilberto Carvalho. O inquisidor
fez, pelo menos, uma declaração expressiva e inteiramente adequada ao
ambiente criado.
“O perdão está para a Igreja assim como a anistia está para a política”, comparou Garotinho.
Igreja
e política. O desempenho de Garotinho aproximou ainda mais aquela
reunião no Congresso do espírito obscurantista assumido pelos
evangélicos. Nesse sentido, fazem uma repetição tardia do catolicismo
primitivo.
Os votos dos
evangélicos, arma que usam no processo político, talvez não sejam
eleitoralmente decisivos. São muitos, é certo. O suficiente para acuar
candidatos em busca de votos. Com eles acuaram Dilma e Serra, na eleição
de 2010, e transformaram a competição em espetáculo para exibição de
medíocres Torquemadas.
Mauricio Dias * CartaCapital
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