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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, agosto 02, 2012

I have a dream: a queda dos EUA

A arte da guerra


Finalmente – depois de terem sido vítimas durante mais de dois séculos de guerras, invasões e golpes de estado por parte dos Estados Unidos – os povos da Ásia, África e América Latina decidiram que era tempo de acabar com isso. A ideia genial foi a de adoptar os mesmos métodos de Washington, mas para uma causa justa. Assim, constituiu-se um Grupo de Acção para os Estados que, graças a reuniões de peritos, elaborou o plano, denominado "estratégia do Grande Ocidente". A intervenção foi assim explicada: nos EUA está no poder desde há mais de dois séculos o mesmo presidente que, ao personificar-se num político republicano ou democrata, representa os mesmos interesses da elite dominante. A Comunidade internacional deve portanto agir para por fim a este regime ditatorial. Preparando-se para depor o presidente Obama, uma comissão de dissidentes escreveu uma nova Constituição dos Estados Unidos da América, que garante uma democracia real no interior e uma política externa respeitosa dos direitos dos outros povos. Ao mesmo tempo (com a ajuda de peritos consultores cubanos, iraquianos e líbios) o Grupo de Acção impôs um embargo de ferro aos Estados Unidos, congelando todos os capitais estado-unidenses e encerrando todas as actividades das suas multinacionais no estrangeiro, inclusive os fast food McDonald e os distribuidores da Coca-Cola. Na sequência do bloqueio das especulações financeiras e da exploração da mão-de-obra e das matérias-primas da Ásia, África e América Latina, Wall Street ruiu e a economia estado-unidense afundou na crise. O México foi obrigado a erguer uma barreira metálica ao longo da fronteira, vigiada por veículos e helicópteros armados, para impedir que clandestinos estado-unidenses entrassem no seu território em busca de trabalho.


A estas medidas juntaram-se outras, militares, para atacar no interior conforme a estratégia da "guerra não convencional". Na América Latina foram constituídos campos militares, nos quais são treinados e armados rebeldes estado-unidenses: trata-se sobretudo de nativos americanos, descendentes das populações exterminadas pelos colonizadores e afro-americanos descendentes dos escravos cuja exploração (mesmo após a abolição da escravatura) permitiu às elites dominantes construir fortunas colossais. Sob a bandeira do "Exército americano livre", os rebeldes retornam aos Estados Unidos. Ao mesmo tempo são infiltradas forças especiais africanas, latino-americanas e asiáticas, cujos comandos (escolhidos entre aqueles que dominam a língua) podem ser confundidos com rebeldes estado-unidenses. Eles estão dotados de armamento e de sistemas de comunicação refinados, que lhes permitem efectuar ataques e sabotagens temíveis. Dispõem além disso de grandes quantidades de dólares para corromper funcionários e militares. Como o núcleo duro da Presidência, formado pelos chefes do Pentágono e do aparelho militar-industrial, continua a bater-se, o grupo de acção redigiu uma "kill list" dos elementos mais perigosos, que são eliminados por agentes secretos ou por drones killers.
  Manlio Dinucci
O original encontra-se em www.ilmanifesto.it/...   e a versão em francês em
www.legrandsoir.info/i-have-a-dream-l-ecroulement-des-usa-il-manifesto.html

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