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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, fevereiro 15, 2013

Fernando Lyra morre aos 74 anos

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Morreu hoje (14), aos 74 anos, o ex-ministro da Justiça Fernando Lyra. Ele estava internado desde 5 de janeiro na Unidade Coronária do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da USP, após outros sete dias internado em Recife, e teve falência múltipla de órgãos. Integrante do chamado grupo dos “autênticos” do MDB, ainda durante a ditadura, ele foi um dos articuladores da campanha de Tancredo Neves à Presidência da República, via colégio eleitoral, após a derrota da emenda Dante de Oliveira, em 1984, que restabelecia as eleições diretas. Tancredo morreu sem tomar posse, mas a escolha de Lyra para a Justiça foi mantida por José Sarney. Ele ficou um ano à frente do ministério, até fevereiro de 1986.
Fernando Lyra foi deputado federal por sete mandatos seguidos, de 1971 a 1999, pelo MDB (1967-1980), PMDB (1980-1987), PDT (1987-1993) e PSB (a partir de 1993). Antes, exerceu um mandato de deputado estadual, em Pernambuco. O último cargo público foi o de presidente da Fundação Joaquim Nabuco, de Recife, ligada ao Ministério da Educação. Em 1989, foi vice de Leonel Brizola na campanha presidencial. Em 2006, participou da campanha que levou Eduardo Campos ao governo de Pernambuco – João Soares Lyra Neto, seu irmão, é o vice-governador. Campos decretou três dias de luto oficial.
O corpo do ex-ministro e ex-deputado será velado amanhã na Assembleia Legislativa de Pernambuco. O enterro ocorrerá na cidade de Paulista, na região metropolitana de Recife.

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