O Brasil, os Brics e o FMI
Via CartaMaior
No
passado, o G-7 ignorou o G-20, e hoje, como grupo, é uma ficção
geoestratégica e institucional. Ao se negarem a reformar o FMI, os
Estados Unidos e a Europa podem estar condenando-o à caquexia. Os Brics
vêm aí.
Mauro Santayana
A
reunião do G-20, em Moscou, encerrada neste sábado (16), terminou com
vagas promessas, da parte dos Estados Unidos e da Europa, de homologar
finalmente o acordo, fechado informalmente em 2010, que daria mais poder
aos emergentes no Fundo Monetário Internacional.
Não
é segredo que as quotas dessa instituição, com direito a voto, não
correspondem mais, há muito tempo, à realidade econômica mundial. Com a
reforma, muitos países europeus, com sua importância econômica reduzida
nos últimos anos, veriam minguar suas quotas e seu poder de voto. Tendo
crescido mais rapidamente neste início de século, os países emergentes, à
frente deles os BRICS, assumiriam o seu direito e a sua
responsabilidade na direção das finanças mundiais.
Os
países ocidentais, liderados por Washington e Berlim, no entanto, não
querem diminuir seus poderes nas grandes instituições internacionais,
sobretudo as financeiras.
Os controladores da
economia globalizada atuam junto ao Congresso dos Estados Unidos e
contam com o apoio da maioria republicana a que se somam muitos
democratas, a fim de impedir que a China se torne o terceiro país mais
importante do Fundo, ou que o Brasil venha a avançar, até alcançar, no
futuro, uma posição condizente com a sua condição de sexta maior
economia do planeta.
Com a dívida interna
líquida de 35% do PIB; débitos externos que correspondem a menos de 15%
do que produz todos os anos; 378 bilhões de dólares em reservas
internacionais; sendo o terceiro maior credor individual externo dos
Estados Unidos, depois da China e do Japão e credor do próprio FMI, o
Brasil não aceita mais ser tratado no mesmo patamar de países de peso
geográfico, demográfico e econômico menor, e dados macroeconômicos
piores do que os nossos.
Esse assunto também
será tratado em Brasília, nesta semana, em Brasília, durante a visita do
Primeiro-Ministro da Federação Russa, Dmitri Medvedev.
Os
russos, como os chineses e indianos, parceiros do Brasil no BRICS,
estão também perdendo a paciência com os países do ocidente econômico,
diante da desproporção entre o que esse grupo de países representa, em
termos globais, como território, população e economia, e a sua posição
nos organismos multilaterais internacionais.
Embora
sofra uma campanha de sabotagem contínua por parte da imprensa
“ocidental”, o BRICS está cada vez mais vivo, trabalhando unido, como
demonstram, por exemplo, as reuniões sobre segurança e saúde realizadas
há menos de um mês em Nova Delhi.
No encontro
com Medvedev, Dilma deverá tratar do apoio russo – já quase acertado -
para a eleição do brasileiro Roberto Azevedo à Direção Geral da
Organização Mundial do Comércio (OMC). Os dois deverão também ajustar as
propostas que Rússia e Brasil levarão à Quinta Cúpula Presidencial dos
BRICS, na África do Sul, em março.
Nesse
encontro, os países membros deverão tratar da constituição de seu
próprio Banco de Desenvolvimento. E, provavelmente, de instituição que
poderia concorrer com o FMI, a fim de atender às necessidades de países
emergentes e em desenvolvimento.
No passado, o
G-7 ignorou o G-20, e hoje, como grupo, é uma ficção geoestratégica e
institucional. Ao se negarem a reformar o FMI, os Estados Unidos e a
Europa podem estar condenando-o à caquexia. Os emergentes, com os BRICs à
frente, podem ser o núcleo de nova realidade econômica mundial.
Mauro
Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi
correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima
Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre
eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e
correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.
*Gilsonsampaio
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