O BODOQUE DE DEUS
(HD)
- O universo, se o pudéssemos ver do lado de fora, seria belo
espetáculo pictórico, mas sem sentido, com suas esferas de gás em chamas
e corpúsculos sólidos, cálidos uns, gelados outros, flutuantes e
indiferentes ao próprio mistério. Sem vida inteligente, também de
necessidade duvidosa, o mundo nada seria.
O universo existe na mente dos homens, e a mente dos homens é um ato de
transcendência, que a fisiologia pode mapear, mas não decifrar.
Queiramos ou não, a ciência é inútil para explicar o mundo material e,
muito mais ainda, a vida e, nela, como epicentro do mistério, a
inteligência humana.
O homem,
conforme a teologia comum às principais religiões, é transgressor. No
mito judaico, que a Bíblia recolhe, são os dois fundadores da espécie,
Adão e Eva, que tentam decifrar o próprio enigma, ao comer do fruto
proibido – a conselho do diabo, dissimulado na serpente, o que não deixa
de ser uma desculpa apologética. O fruto proibido é o conhecimento, ou
seja, a chave do bem e do mal.
Voltando ao Universo e à sua provável inutilidade – a não ser como
continente da vida – a ciência, se um dia chegar a localizar, no tempo e
em alguma galáxia primeva, seu início, jamais terá a resposta maior:
por que ele surgiu, que vontade lhe deu o primeiro impulso. Só a Fé em
um Criador único oferece a resposta, ainda que precária.
O meteoro que se fragmentou na atmosfera dos Urais é – entre outros
sinais – aviso de nossa precariedade. Em algum momento da Eternidade o sistema
solar deixará de existir - segundo os astrofísicos, quando a Via Láctea
chocar-se com Andrômeda, daqui a 4 bilhões de anos. Em sua ilusão, o
homem pensa que a ciência salvará a espécie, migrando-a para lugar
seguro, ainda a tempo. É mais provável que, bem antes, um acidente
cósmico dê ponto final a esse animal frágil, sem garras e sem mandíbulas
fortes, de anatomia torpe, se comparada à de alguns insetos e aves, e
que só construiu sua história a partir de circunstâncias do acaso, como a
mobilidade das mãos e o uso da linguagem complexa.
Algumas línguas usam um só vocábulo para definir tempo e espaço, aqui e agora,
e outras incluem a idéia de sempre. Esse deve ser o resumo de toda a
filosofia: o mundo é aqui e agora, na eternidade de um segundo. Devemos
viver “aqui”, nesta tênue camada do planeta que nos oferece as condições
físicas da vida, e “agora”, com a consciência de que a vida é uma
aventura coletiva e solidária da matéria convertida em natureza e a vida
disso consciente. Essa é a herança da Criação, se nela cremos, ou de
outras e imperscrutáveis razões.
Quando um meteoro de peso
cai sobre a Terra – como o dos Urais – uma imagem pobre e vulgar
assiste à nossa angústia, a de Deus atirando-nos, com seu bodoque,
seixos menores, como advertência contra a insolência, antes que nos
mande os calhaus do fim.
*GilsonSampaio
Nenhum comentário:
Postar um comentário