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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 27, 2013

A HERANÇA DA VEJA: O PENSAMENTO BINÁRIO NA POLÍTICA E A IMBECILIZAÇÃO DA CLASSE MÉDIA NAS ÚLTIMAS DUAS DÉCADAS

Em 1989, o PIG conseguiu eleger Collor e também tirá-lo
Em 1989, o PIG conseguiu eleger Collor e também tirá-lo em seguida

Nas últimas duas décadas, a revista Veja manteve um ataque constante à inteligência da classe média brasileira. Nos primeiros anos de democracia, esse ataque não foi tão intenso, visto que o governo de FHC representava a presença de um aliado civil na presidência da República e havia também, ainda hoje, o controle do governo paulista com o PSDB, que mantém a compra desse panfleto para as escolas públicas.

No entanto, em 2002, com a vitória de Lula, a situação começou a mudar e a ameaça ao poderio de mídia das famílias oligárquicas tornou-se não tão seguro. Essa insegurança é própria do capitalismo e das democracias representativas, quando funcionam razoavelmente. Os avanços políticos de partidos mais progressistas foi jogando a revista Veja e os outros grupos de mídia a situações extremadas de deslealdade jornalística, a ponto de se fazer parceria com criminosos para se obter informações, chantagear e achincalhar a vida de políticos.

O mote ideológico, que se tornou redundante na revista Veja, comandada por Roberto Civita, morto no último domingo, é o do pensamento binário que sustentou o golpe militar de 64 e também todos os golpes nos últimos 50 anos na América Latina, como bem mostra o jornalista australiano John Pilger, em Guerra contra a Democracia. Dos anos 90 para cá, a revista Veja se tornou a porta bandeira da imbecilização da classe média, aterrorizando os leitores com o fantasma do comunismo, do petismo, etc.

Assim, toda a crítica à selvageria do capitalismo, toda violência perpetrada por leis e manobras jurídicas, toda a violência polícial ou midiática passou a ser interpretada como uma crítica comunista, petista, petralha etc. Qualquer pessoa que questione a desigualdade, a desonestidade e as práticas violentas do cruel sistema tornou-se necessariamente um norte-coreano infiltrado na sociedade brasileira.

Para a revista Veja e seus controladores e realizadores, que são os grandes conglomerados capitalistas, a democracia é sempre um risco. Assim, o medo de quem tem bilhões de dólares em paraísos fiscais ou milhões de hectares, imóveis e empresas deve ser transferido para a classe média, que tem alguns imóveis, uma fazenda, uma indústria média etc. E isso é um trabalho constante tanto aqui como na Venezuela.

Nesses últimos 20 anos, a revista Veja fez esse serviço sujo. Transferir o medo dos privilegiados e bilionários para a classe média, alimentando a repetição da trágica história golpista de 64 e do período pós-segunda guerra. E teve certo sucesso. Tem-se hoje uma parte da classe média imbecilizada e amedrontada com os avanços da democracia brasileira.

*Educaçãopolitica

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