Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 22, 2013

ESCÂNDALO DO SUPREMO - A vítima do moralismo seletivo da mídia é o leitor


PAULO NOGUEIRA 
As corporações jornalísticas ignoraram o escândalo do Supremo e prestaram um desserviço a seus leitores.

As mordomias do STF são um assunto de grande interesse público. 
Elas revelam como a mais alta corte do país trata o dinheiro do contribuinte. 
Não existe pudor, não existe parcimônia: os juízes viajam de primeira classe, e podem levar acompanhante desde que julguem “necessário”. 
Como eles fazem as regras, é tudo legal – mas imoral e abjeto. 
Essas mordomias são notícia de alta importância, naturalmente. 
Mas não para a mídia, excetuado o Estadão, que revelou as mamatas. 
E isso conta tudo sobre o farisaísmo da mídia. 
Notícia é o que serve a seus interesses particulares. 
O resto não é notícia. 
Colunistas sempre rápidos em despejar sentenças moralistas vulgares sobre seus leitores simplesmente não tiveram uma palavra para o escândalo. 
Fui verificar o que tinha a dizer, por exemplo, Ricardo Noblat, em seu blog. Nada. 
Fui verificar o que tinham a dizer os colunistas do site da Veja, Augusto Nunes, Ricardo Setti e Reinaldo Azevedo. Nada, nada a nada, respectivamente. 
Um tratamento bem diferente mereceu Marilena Chauí por dizer verdades que cabem a eles todos, campeões do pensamento rasteiro da classe média. 
Reinaldo Azevedo, ao tratar do discurso em que Chauí criticou a classe média, fez questão de levianamente, sem dados e sem nada, invocar o dinheiro que ela ganharia por conta dos livros do MEC. 
Havia apenas insinuação, havia apenas maldade, havia apenas a confiança de que seu leitor é tão tapado que vai aceitar o conto do MEC sem recibo e sem comprovação. 
Tratamento bem diverso teve, do mesmo Azevedo, Maggie Thatcher. 
Numa eulogia disparatada, Azevedo afirmou, no grande final, que Thatcher morreu pobre. 
Na pobreza de Thatcher estaria a prova suprema de suas virtudes de estadista. 
Apenas a casa de Thatcher é avaliada em mais de 10 milhões de dólares, mas segundo Azevedo ela “morreu pobre” 
Mais uma vez, Azevedo acreditou que é fácil engambelar seus leitores. 
Porque apenas a casa de Thatcher na região mais nobre de Londres é avaliada em mais de 10 milhões de dólares. Não é informação nova, e sim antiga. 
Thatcher só não fez uma fortuna maior porque os problemas mentais logo a impediram, saída do cargo, de realizar palestras e dar consultoria a empresas como a Philip Morris. 
O filho de Thatcher, Mark, amealhou uma considerável fortuna com comissões de grandes negócios feitos pelo governo da mãe com outros países. 
Mas Thatcher morreu pobre no Planeta Azevedo, e Marilena, ela sim, é rica. 
Moralismo, quando é seletivo, é hipocrisia mistura a cinismo. 
Destina-se não a corrigir desvios éticos, mas a tirar proveito da boa fé dos chamados inocentes úteis. 
O escândalo do STF, ignorado pela mídia, é apenas mais uma página de um conjunto de atitudes em que a vítima é a sociedade. 
Postado por René Amaral
*cutucandodeleve

Nenhum comentário:

Postar um comentário