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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, maio 25, 2013


Brasil quer cooperação baseada em vantagens mútuas e valores compartilhados, diz Dilma na África

Presidenta Dilma Rousseff posa para Foto Oficial, durante sessão temática do cinquentenário da União Africana, em Adis Abeba Presidenta Dilma Rousseff posa para Foto Oficial, durante sessão temática do cinquentenário da União Africana, em Adis Abeba
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Presidenta do Brasil considerou o convite para falar em nome da América Latina como uma deferência e um reconhecimento à importância que o Brasil dá à África

A presidenta Dilma Rousseff discursou neste sábado (25) em nome da América Latina durante a cerimônia de comemoração pelos 50 anos da União Africana. Dilma considerou uma “deferência” o convite de honra para discursar no Jubileu de Ouro da organização, que reúne 54 estados africanos. “Eu acho que [o convite] reflete o fato e o reconhecimento da importância que o Brasil atribui à África”, disse.
Em sua fala, a presidenta disse que o Brasil vê o continente africano como irmão e vizinho próximo. Na véspera do evento, ela já havia dito que o Brasil procura mais do que relações comerciais com o continente. “O Brasil quer não só estabelecer relações comerciais, investir aqui, vender para o país, mas também uma cooperação no padrão Sul-Sul. O que é o padrão Sul-Sul de cooperação? É uma cooperação que não seja opressiva, que seja baseada em vantagens mútuas e valores compartilhados”.
Renegociação de dívidas
Dilma teve na África uma agenda de encontros bilaterais e conversou com jornalistas. A presidenta anunciou que vai perdoar ou renegociar a dívida de 12 países africanos. Essa atitude visa destravar as relações comerciais com países que contraíram dívidas com o Brasil principalmente nos anos 70 e 80. A presidenta considerou a medida um benefício de mão dupla, já que o governo poderá agora financiar empresas brasileiras nos países africanos e promover relações comerciais que envolvam maior valor agregado.

Afinidades profundas e de longo prazo
Em seu discurso na União Africana, Dilma disse que “o Brasil vê o continente africano como irmão e vizinho próximo, temos semelhanças e afinidades profundas. Mais da metade dos quase 200 milhões de brasileiros se reconhece como afrodescendentes e essa descendência é um dos veios mais ricos que conforma a nação brasileira”.

Nos últimos 10 anos, as relações comerciais entre Brasil e África cresceram na ordem de cinco vezes e, com a abertura de novas representações diplomáticas, o Brasil passou a ser o país da América Latina com mais embaixadas na África, 37 no total. Além disso, o Brasil já participa de projetos de cooperação técnica em 40 países do continente.
“O governo brasileiro assumiu liderança essencial nesse processo e hoje vemos com orgulho, cada vez mais, que as relações com o continente africano se pautam por genuíno interesse da sociedade civil brasileira e do setor privado. Nosso relacionamento é de longo prazo e tem um sentido estratégico”, afirmou a presidenta.
Autonomia
“Os avanços da União Africana, como os da Unasul [União de Nações Sul-Americanas] encerram um ensinamento fundamental: quem deve resolver os problemas das nossas regiões somos nós mesmos, respeitando sempre as diferenças que porventura existem entre nós”, disse.

“Dilma finaliza dizendo que chegou a hora de a África escrever a sua própria história, e que o Brasil quer compartilhar esse novo momento.”
Lula
Na quarta-feira, em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de um seminário sobre as relações entre Brasil e África (clique aqui para ler mais). Lula é reconhecido como figura central no processo de reaproximação do Brasil com a África e elegeu a colaboração com o continente africano como um dos objetivos do instituto que leva seu nome. Sobre a viagem de Dilma a Adis Abeba ele disse: “A Dilma foi a Londres, conhece Nova York, vai em Outubro a Washington, mas tenho a convicção de que ela voltará de Adis Abeba mais africana do que eu. Quando Dilma voltar da Etiópia, o Brasil terá não um, mas dois presidentes que gostam da África”.

Dentro de pouco mais de um mês, será a vez do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajar à Etiópia. Nos dias 30 de junho e 1º de julho, a sede da União Africana abrigará o encontro de alto nível “Novos enfoques unificados para acabar a fome na África”, que está sendo organizado pela UA, FAO e pelo Instituto Lula.
Leia mais em:
União Africana, FAO e Instituto Lula somam esforços para combater a fome na África

*instLula

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