Falar de diversidade sexual é visto como ensinar a ser gay, diz docente
Abordar
o tema da diversidade sexual na escola ainda é visto por alguns como
ensinar a ser gay, afirma o professor Júnior Diniz, 31, que trabalha com
o assunto em aulas de ética no município de Contagem (região
metropolitana de Belo Horizonte).
"Algumas
pessoas argumentam que qualquer discussão a respeito da diversidade
sexual, no ambiente escolar, seria uma forma de incitarmos as crianças a
se tornarem gays ou lésbicas. A gente sabe, no entanto, que a
sexualidade é particular e algo próprio do ser humano. O importante é
eles [alunos] perceberem que o diferente merece respeito e que respeitar
as diferenças não significa que eu queira ser igual", afirma.
No
trabalho que desenvolve com crianças de seis a dez anos na Escola
Municipal Domingos José Diniz Costa Belém, o principal foco é o respeito
à diversidade e não a discussão da sexualidade dos alunos.
"O
objetivo é fazer com que as crianças compreendam que nós vivemos em um
mundo diverso onde existem várias possibilidades de as pessoas viverem
sua sexualidade. Discutimos as questões de preconceitos existentes, como
o racismo, a homofobia, o machismo", explica.
Uma
das técnicas usadas pelo educador é mostrar aos alunos que nem sempre
uma família é composta por pai, mãe e irmãos. "Muitos moram somente com a
avó, com o avô, ou com tios, ou só com a mãe", exemplifica.
Apesar
de ter de enfrentar o preconceito de alguns pais em relação a abordagem
do tema, o professor conta ter recebido muitos pais com dúvidas sobre
como falar sobre assunto com os filhos.
Preconceito entre os professores
Responsável
pela coordenação de um programa de combate a homofobia, racismo e
sexismo nas escolas públicas municipais de Contagem, Juliana Batista
Diniz Valério diz que houve avanços no debate do assunto, mas ainda há
resistência em relação ao tema nos próprios educadores.
O
programa, denominado "Gênese" (Gênero, Sexualidade e Educação), tinha
entre seus objetivos capacitar o educador para que ele replicasse o
combate ao sexismo, à homofobia e ao racismo com os alunos.
"Muitos
professores e estudantes se mostram reticentes em relação ao tema.
Tivemos, por exemplo, um número significativo de educadores que não
conseguiu concluir os cursos ofertados em função de sua resistência
pessoal com esse debate."
Para
ela, a diversidade sexual ainda costuma ser tratada de maneira
individual por educadores militantes ou sensibilizados com o problema,
não como tema da educação.
"As
questões de ordem moral e religiosa, ainda, são um grande obstáculo
para que esse debate realmente se incorpore ao cotidiano escolar. O
princípio da laicidade do Estado ainda não está de fato efetivado nas
instituições públicas", salienta Juliana Valério.
"Aprendemos a olhar"
A educadora disse, no entanto, que as pessoas ao menos aprenderam a perceber o problema da discriminação e o preconceito sexual.
"Percebo
que o preconceito e as atitudes discriminatórias são hoje mais
visibilizados, até porque aprendemos a "olhar" para uma atitude
homofóbica e assim nomeá-la. Quantos atos de bullying não são, na
verdade, discriminações em função da orientação sexual ou práticas do
racismo e do machismo?", comenta a especialista.
*Cappacete
Nenhum comentário:
Postar um comentário