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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, maio 19, 2013

Falar de diversidade sexual é visto como ensinar a ser gay, diz docente



Abordar o tema da diversidade sexual na escola ainda é visto por alguns como ensinar a ser gay, afirma o professor Júnior Diniz, 31, que trabalha com o assunto em aulas de ética no município de Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte).
"Algumas pessoas argumentam que qualquer discussão a respeito da diversidade sexual, no ambiente escolar, seria uma forma de incitarmos as crianças a se tornarem gays ou lésbicas. A gente sabe, no entanto, que a sexualidade é particular e algo próprio do ser humano. O importante é eles [alunos] perceberem que o diferente merece respeito e que respeitar as diferenças não significa que eu queira ser igual", afirma.
No trabalho que desenvolve com crianças de seis a dez anos na Escola Municipal Domingos José Diniz Costa Belém, o principal foco é o respeito à diversidade e não a discussão da sexualidade dos alunos.
"O objetivo é fazer com que as crianças compreendam que nós vivemos em um mundo diverso onde existem várias possibilidades de as pessoas viverem sua sexualidade. Discutimos as questões de preconceitos existentes, como o racismo, a homofobia, o machismo", explica.
Uma das técnicas usadas pelo educador é mostrar aos alunos que nem sempre uma família é composta por pai, mãe e irmãos. "Muitos moram somente com a avó, com o avô, ou com tios, ou só com a mãe", exemplifica.
Apesar de ter de enfrentar o preconceito de alguns pais em relação a abordagem do tema, o professor conta ter recebido muitos pais com dúvidas sobre como falar sobre assunto com os filhos.

Preconceito entre os professores


Responsável pela coordenação de um programa de combate a homofobia, racismo e sexismo nas escolas públicas municipais de Contagem, Juliana Batista Diniz Valério diz que houve avanços no debate do assunto, mas ainda há resistência em relação ao tema nos próprios educadores.
O programa, denominado "Gênese" (Gênero, Sexualidade e Educação), tinha entre seus objetivos capacitar o educador para que ele replicasse o combate ao sexismo, à homofobia e ao racismo com os alunos. 
"Muitos professores e estudantes se mostram reticentes em relação ao tema. Tivemos, por exemplo, um número significativo de educadores que não conseguiu concluir os cursos ofertados em função de sua resistência pessoal com esse debate."
Para ela, a diversidade sexual ainda costuma ser tratada de maneira individual por educadores militantes ou sensibilizados com o problema, não como tema da educação.
"As questões de ordem moral e religiosa, ainda, são um grande obstáculo para que esse debate realmente se incorpore ao cotidiano escolar. O princípio da laicidade do Estado ainda não está de fato efetivado nas instituições públicas", salienta Juliana Valério.

"Aprendemos a olhar"


A educadora disse, no entanto, que as pessoas ao menos aprenderam a perceber o problema da discriminação e o preconceito sexual.
"Percebo que o preconceito e as atitudes discriminatórias são hoje mais visibilizados, até porque aprendemos a "olhar" para uma atitude homofóbica e assim nomeá-la. Quantos atos de bullying não são, na verdade, discriminações em função da orientação sexual ou práticas do racismo e do machismo?", comenta a especialista. 
*Cappacete

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