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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 27, 2013

“Quem pode ter uma relação diferente com a África é o Brasil”, afirma Lula em comemoração do Dia da África

Secretário Municipal de Promoção da Igualdade Racial, Netinho de Paula, Lula, MC Soffia e o prefeito Fernando Haddad. Secretário Municipal de Promoção da Igualdade Racial, Netinho de Paula, Lula, MC Soffia e o prefeito Fernando Haddad.
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
  • Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
  • Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi homenageado no início da noite desta segunda-feira (27) na cerimônia de comemoração do Dia da África realizada pela Prefeitura de São Paulo. Ao lado do prefeito Fernando Haddad, em um ato alegre que contou com duas apresentações culturais, foi criado o Grupo de Trabalho Intersetorial sobre Educação das Relações Étnico-raciais, para a implantação da Lei 10.639 a nível municipal. Esta lei foi sancionada nacionalmente pelo ex-presidente Lula no início de seu mandato e estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura africana nas escolas.
Em seu discurso, Lula lembrou das dificuldades enfrentadas para a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e a grande vitória que ele representou. O ex-presidente falou dos avanços feitos nos últimos anos, mas ressaltou que muito ainda precisa ser feito. Ele também falou da dívida história do Brasil com os países africanos: “Uma dívida que não pode ser mensurada em dinheiro, tem que ser mensurada em solidariedade”. Lula se disse ainda muito feliz com a reação da imprensa brasileira à visita da presidenta Dilma Rousseff à África. “Parece que a imprensa descobriu a África”, afirmou.
Sobre o papel do Brasil nas relações com a África, o ex-presidente ressaltou que o modelo colonizador implantado em quase todos os países do continente não pode voltar a existir. “As empresas brasileiras têm que estabelecer uma política de associação, de parceria”, afirmou ele. Lula defendeu ainda que as empresas brasileiras devem colocar negros africanos em cargos de chefia e não fazer como as empresas estrangeiras faziam no Brasil em seus tempos de sindicato. “Quem pode ter uma relação diferente com a África é o Brasil”, ressaltou.
O prefeito Fernando Haddad falou que o dia de hoje comemora muitas coisas: “a criação da SEPPIR, a Lei 10.639, a Unilab, as cotas, o Prouni”. O prefeito ressaltou ainda que é preciso criar uma consciência da história negra no Brasil: “O processo histórico faz com que não tenhamos noção do que é ser negro no Brasil”. Haddad destacou que a política tem um papel fundamental na construção dessa consciência. “Desejamos viver a paz dos combatentes. Dos que lutam por uma vida mais justa para todos”, finalizou.
Após a fala do prefeito, foi entregue ao ex-presidente uma placa em reconhecimento por sancionar e implementar em sua gestão a lei 10.639. Neste momento o Secretário Municipal de Promoção da Igualdade Racial, Netinho de Paula, quebrou o protocolo e chamou ao palco a ex-ministra Matilde Ribeiro e presenteou Lula com um atabaque.

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