Trabalhadores venezuelanos, às armas!
"Quando um povo sabe se organizar, esse é um povo sábio e livre" - SKA-P
O presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que irá armar os operários venezuelanos.
A medida chama atenção por ser claramente um giro à esquerda no
chavismo. No ano passado, o presidente Hugo Chávez havia tomado medidas
no sentido de desarmar a população, sob a justificativa de combater a
violência. Se a violência na Venezuela não se atenuou, mas, ao
contrário, se agravou, o que explica a medida anunciada pelo presidente
Maduro? Para entender, é necessário compreender o caráter do chavismo e
da atual polarização venezuelana, para enxergar essa medida a partir de
um ponto de vista histórico e materialista.
O chavismo e sua base
O chavismo
é, claramente, um movimento político e um fenômeno social no mundo
contemporâneo. No entanto, os objetivos da ideologia criada por Hugo
Chávez (que descanse em paz!) ainda não estão muito claros. É um
movimento que surgiu a partir da luta do povo venezuelano contra o
autoritarismo de Carlos Andrés Pérez, contra a desigualdade social fruto
do capitalismo dependente e pela soberania nacional da Pátria, mas que
nunca se preocupou em fixar objetivos a longo-prazo.
Se, por um
lado, isso evita a dogmatização no interior do chavismo, cria um forte
empecilho à luta popular: auxilia a infiltração de elementos reformistas
e burgueses dentro do movimento, do Partido e do Estado. É assim que
costuma agir a burguesia em movimentos sociais que percam sua
perspectiva: infiltrando-se. Foi assim que ela liquidou o Partido
Comunista Italiano, o Partido Comunista Francês e quase fez o mesmo com o
Partido Comunista Brasileiro.
Mesmo com
esses riscos, o chavismo conseguiu importantes mudanças na política
Venezuelana. Criou um forte movimento de fábricas ocupadas e outro de
mídias comunitárias; iniciou a redistribuição de terras, expropriando o
grande latifúndio; conquistou enormes avanços na legislação indígena e, o
mais importante, criou órgãos de poder popular em bairros periféricos,
os chamados Conselhos Comunais. Tudo isso nos dá uma clara ideia de qual
a base do chavismo: ele é composto por operários, camponeses,
indígenas, e a população periférica em geral. Não por acaso, o PSUV
conta com aproximadamente 8 milhões de militantes em um país de 19
milhões de eleitores.
Tal é a base social do chavismo.
A estratégia anti-chavista da direita reacionária
Durante
muito tempo, as disputas internas do chavismo ficaram ocultadas por
detrás da liderança carismática do Cmdte. Hugo Chávez. No entanto, após
sua morte, essa divisão ficou mais clara. Há um grupo, dentre o qual com
certeza se encontra o Partido Comunista Venezuelano, que propõe a
radicalização do movimento bolivariano. E há outro, que quer se
aproveitar da morte de Chávez para a velha fórmula neoliberal da
"abertura política e econômica".
Quem ganhou a
eleição foi Maduro, um operário sindicalista. Logo nos primeiros dias
de mandato, chamou o PCV a aumentar sua participação no governo. Quem
venceu a eleição foi a ala esquerda do chavismo, representada por
Maduro, e não a ala direita, representada por Cabello.
A direita
agiu imediatamente. Henrique Caprilles, representante da nata
reacionária da Venezuela, o candidato das oligarquias e da burguesia
imperialista, chamou seus eleitores a "descarregar o ódio nas ruas". Foi
a senha do golpe: assassinato de chavistas, incêndios em sedes do PSUV e
a Venezuela polarizada e violenta novamente.
O Centro do
Socialismo, que desde o primeiro dia do intento reacionário, denunciou-o
como um golpe de Estado contra um presidente democraticamente eleito,
agora constata: trata-se de um processo latente de luta de classes, onde
a reação tenta tomar o poder para reverter todas as conquistas dos 15
anos de bolivarianismo.
A direita
personificou seu ódio contra as massas em um ódio contra o chavismo e o
PSUV. Ela não chamou a alta cúpula do chavismo ao jogo de corrupção, ela
execrou o chavismo por inteiro. Nisso, se havia indecisão na alta
cúpula sobre que posição tomar, já não há, pelo menos na ala esquerda:
ela foi jogada no lado popular da trincheira. Não há saída, um giro à
direita deixou de ser opção. Ou radicaliza-se ou capitula-se.
A radicalização do chavismo
As Forças
Armadas venezuelanas seguem a estrutura burguesa do exército permanente.
São, portanto, incapazes de derrotar a reação e levar a cabo a
revolução. Para existir, no momento atual, o chavismo é obrigado a levar
a cabo a luta revolucionária do povo contra a direita. Entendendo isso é
que o presidente Nicolás Maduro resolveu armar o povo trabalhador.
Um povo em
armas é o único capaz de manter as conquistas sociais bolivarianas. É
por isso que as Milícias Operárias Bolivarianas são, não somente
progresso, mas um salto de qualidade no caráter popular do chavismo. É
um giro à esquerda que transforma o movimento bolivariano no
representante, pelo menos temporário, dos interesses populares.
É claro que
os revolucionários não devem manter nenhuma ilusão com o chavismo, que
já mostrou ter limites que inviabilizam sua caracterização como
"revolucionário". No entanto, graças às condições materiais, o próprio
chavismo foi obrigado a ir mais longe do que inicialmente sua alta
cúpula pretendia. As condições para uma revolução popular estão se
formando.
Se os
trabalhadores fazem a história, e se a violência é a parteira da
história, os trabalhadores armados são a condição para que a história
ocorra. O presidente Nicolás Maduro pode, então, entrar para a história
como o homem que deu o pontapé inicial da derrota da direita golpista e
do assalto aos céus do proletariado venezuelano.
Derrotar a direita nas ruas e frustrar o golpe!
À burguesia, nem pacto nem conciliação!
Armar o povo trabalhador para combater a reação!
*centrodosocialismo
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