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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 30, 2013

Por Poeta Sem-Teto

"Quando um povo sabe se organizar, esse é um povo sábio e livre" - SKA-P

O presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que irá armar os operários venezuelanos. A medida chama atenção por ser claramente um giro à esquerda no chavismo. No ano passado, o presidente Hugo Chávez havia tomado medidas no sentido de desarmar a população, sob a justificativa de combater a violência. Se a violência na Venezuela não se atenuou, mas, ao contrário, se agravou, o que explica a medida anunciada pelo presidente Maduro? Para entender, é necessário compreender o caráter do chavismo e da atual polarização venezuelana, para enxergar essa medida a partir de um ponto de vista histórico e materialista. 

O chavismo e sua base

O chavismo é, claramente, um movimento político e um fenômeno social no mundo contemporâneo. No entanto, os objetivos da ideologia criada por Hugo Chávez (que descanse em paz!) ainda não estão muito claros. É um movimento que surgiu a partir da luta do povo venezuelano contra o autoritarismo de Carlos Andrés Pérez, contra a desigualdade social fruto do capitalismo dependente e pela soberania nacional da Pátria, mas que nunca se preocupou em fixar objetivos a longo-prazo. 

Se, por um lado, isso evita a dogmatização no interior do chavismo, cria um forte empecilho à luta popular: auxilia a infiltração de elementos reformistas e burgueses dentro do movimento, do Partido e do Estado. É assim que costuma agir a burguesia em movimentos sociais que percam sua perspectiva: infiltrando-se. Foi assim que ela liquidou o Partido Comunista Italiano, o Partido Comunista Francês e quase fez o mesmo com o Partido Comunista Brasileiro. 

Mesmo com esses riscos, o chavismo conseguiu importantes mudanças na política Venezuelana. Criou um forte movimento de fábricas ocupadas e outro de mídias comunitárias; iniciou a redistribuição de terras, expropriando o grande latifúndio; conquistou enormes avanços na legislação indígena e, o mais importante, criou órgãos de poder popular em bairros periféricos, os chamados Conselhos Comunais. Tudo isso nos dá uma clara ideia de qual a base do chavismo: ele é composto por operários, camponeses, indígenas, e a população periférica em geral. Não por acaso, o PSUV conta com aproximadamente 8 milhões de militantes em um país de 19 milhões de eleitores. 

Tal é a base social do chavismo. 

A estratégia anti-chavista da direita reacionária 

Durante muito tempo, as disputas internas do chavismo ficaram ocultadas por detrás da liderança carismática do Cmdte. Hugo Chávez. No entanto, após sua morte, essa divisão ficou mais clara. Há um grupo, dentre o qual com certeza se encontra o Partido Comunista Venezuelano, que propõe a radicalização do movimento bolivariano. E há outro, que quer se aproveitar da morte de Chávez para a velha fórmula neoliberal da "abertura política e econômica". 

Quem ganhou a eleição foi Maduro, um operário sindicalista. Logo nos primeiros dias de mandato, chamou o PCV a aumentar sua participação no governo. Quem venceu a eleição foi a ala esquerda do chavismo, representada por Maduro, e não a ala direita, representada por Cabello. 

A direita agiu imediatamente. Henrique Caprilles, representante da nata reacionária da Venezuela, o candidato das oligarquias e da burguesia imperialista, chamou seus eleitores a "descarregar o ódio nas ruas". Foi a senha do golpe: assassinato de chavistas, incêndios em sedes do PSUV e a Venezuela polarizada e violenta novamente. 

O Centro do Socialismo, que desde o primeiro dia do intento reacionário, denunciou-o como um golpe de Estado contra um presidente democraticamente eleito, agora constata: trata-se de um processo latente de luta de classes, onde a reação tenta tomar o poder para reverter todas as conquistas dos 15 anos de bolivarianismo. 

A direita personificou seu ódio contra as massas em um ódio contra o chavismo e o PSUV. Ela não chamou a alta cúpula do chavismo ao jogo de corrupção, ela execrou o chavismo por inteiro. Nisso, se havia indecisão na alta cúpula sobre que posição tomar, já não há, pelo menos na ala esquerda: ela foi jogada no lado popular da trincheira. Não há saída, um giro à direita deixou de ser opção. Ou radicaliza-se ou capitula-se. 

A radicalização do chavismo

As Forças Armadas venezuelanas seguem a estrutura burguesa do exército permanente. São, portanto, incapazes de derrotar a reação e levar a cabo a revolução. Para existir, no momento atual, o chavismo é obrigado a levar a cabo a luta revolucionária do povo contra a direita. Entendendo isso é que o presidente Nicolás Maduro resolveu armar o povo trabalhador. 

Um povo em armas é o único capaz de manter as conquistas sociais bolivarianas. É por isso que as Milícias Operárias Bolivarianas são, não somente progresso, mas um salto de qualidade no caráter popular do chavismo. É um giro à esquerda que transforma o movimento bolivariano no representante, pelo menos temporário, dos interesses populares.

É claro que os revolucionários não devem manter nenhuma ilusão com o chavismo, que já mostrou ter limites que inviabilizam sua caracterização como "revolucionário". No entanto, graças às condições materiais, o próprio chavismo foi obrigado a ir mais longe do que inicialmente sua alta cúpula pretendia. As condições para uma revolução popular estão se formando.

Se os trabalhadores fazem a história, e se a violência é a parteira da história, os trabalhadores armados são a condição para que a história ocorra. O presidente Nicolás Maduro pode, então, entrar para a história como o homem que deu o pontapé inicial da derrota da direita golpista e do assalto aos céus do proletariado venezuelano.

Derrotar a direita nas ruas e frustrar o golpe!

À burguesia, nem pacto nem conciliação!

Armar o povo trabalhador para combater a reação! 
*centrodosocialismo

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