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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 30, 2013

OS DOIS LADOS DO ATLÂNTICO SUL

(HD)-A Presidente Dilma Roussef acaba de voltar da Etiópia, onde assistiu, como convidada, à Cúpula Presidencial do 50ª Aniversário da União Africana. Lá, além de reiterar os laços culturais e econômicos que nos ligam àquela região, ela anunciou, também, a eliminação de antigas dívidas de 12 países africanos com o Brasil, no valor de 980 milhões de dólares.
             Aqui, muita gente ficou sem entender o gesto, assim como muitos ainda desconhecem as razões que justificam a nossa política africana. A aproximação estratégica do Brasil com a África, como um todo, vem desde o regime militar. Nos anos 1970 e 1980, era para a África e o Oriente Médio que iam milhares de brasileiros, para forjar seu futuro, trabalhando para empresas como a Mendes Júnior no Iraque e a Mauritânia, entre outros países. Para lá exportávamos, antes da destruição da indústria bélica brasileira, tanques da Engesa e da Bernardini, mísseis da Avibrás e armas portáteis.
            A nossa relação com os países de língua portuguesa é mais antiga. Houve anos,antes da independência, em que entravam no porto de Luanda mais navios saídos do Rio de Janeiro do que  de Lisboa. Em plena ditadura, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola.
           Na África, não está apenas o passado de milhões de brasileiros, nos antepassados que dali vieram, mas também o seu futuro. Não se trata apenas da presença, naquele continente, de técnicos da Petrobras,  e de construtoras e mineradoras, ali presentes.
           Sendo a África Ocidental, do ponto de vista climático e geológico, um território gêmeo do brasileiro, é a única região do mundo que oferece ao Brasil a possibilidade de aplicar e demonstrar o que há de melhor em nosso modelo de desenvolvimento econômico e social.
          Nos nossos cultivares de cana, na produção de açúcar e álcool, na soja resistente à seca, no gado tropical para a produção de carne e leite, nos nossos programas de agricultura familiar, estão soluções que podem levar à ocupação produtiva de milhões de hectares de cerrado naquele continente. Não só na economia, mas, também, na política social - como no Brasil - é possível o combate às endemias e epidemias,  a eliminação da fome e o fim da pobreza absoluta.         Esse projeto  de cooperação Sul-Sul, poderá ser grande e solidária ação internacional com povos irmãos na História e na geografia.
         Os países africanos foram decisivos para a vitória brasileira na votação da OMC, e sabem que o Brasil não tem, para com eles, a mesma visão colonialista da Europa e dos Estados Unidos.
         No Brasil há a consciência histórica de que é prioritário, para estabelecer área de paz e prosperidade no Atlântico Sul, tratar, de igual para igual, nossos vizinhos e irmãos do continente e os que habitam o outro lado do oceano.

     

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