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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, julho 14, 2013

#Comissão da Verdade tem que investigar a Globo

A Comissão da Verdade está em crise. Dos sete integrantes nomeados por Dilma, dois já desistiram, e a comissão tem se notabilizado por um burocratismo excessivo, falta de transparência e, sobretudo, ausência de uma estratégia de comunicação, fundamental para que se transforme em algo realmente instrutivo e producente.
Entretanto, talvez o principal entrave a bloquear os trabalhos da Comissão seja a sua falta de vontade de investigar o papel da mídia na ditadura. Morando no Rio, perto do centro, eu tive o privilégio de frequentar a Biblioteca Nacional e ler as edições dos principais jornais brasileiros nas semanas que antecederam o golpe militar. Houve uma construção deliberada, de jornais como O Globo, a Folha e o Estadão, para criar uma atmosfera de golpe. Há inúmeros estudos que revelam a articulação, muitas vezes patrocinada por agências norte-americanas, para orientar a mídia brasileira numa direção antitrabalhista, antinacional e antigoverno.
Nacionalismo e trabalhismo, no Brasil, sempre estiveram associados à esquerda, visto que nossa direita é, historicamente, vendida ao imperialismo americano.
A Comissão não pode ser usada apenas para culpar velhinhos de noventa anos que torturaram subversivos quarenta anos atrás. Estes deveriam sim ser condenados, como fizeram nossos vizinhos. Mas os tubarões, aqueles que efetivamente contribuíram para o golpe, foram grandes empresas, com ênfase nas empresas de mídia. O Brasil precisa conhecer a maneira pela qual essas empresas se consolidaram e assumiram uma posição hegemômica no setor de comunicação social.
A concentração da mídia e do mercado de publicidade é um fenômeno mundial, que aconteceria com ou sem ditadura. Mas com a ditadura, ele se deu de maneira muito mais brutal, com artificialismo e enorme interferência estrangeira.
A Comissão investigará, por exemplo, o apoio dos Estados Unidos às Organizações Globo, antes e depois da ditadura?
Se quiser se conhecer a si mesmo, o Brasil precisa enfrentar essas questões. Não por revanchismo, mas por razões acadêmicas, históricas e políticas. O Brasil merece a verdade. O Brasil merece saber, em detalhes, de que lado a Globo ficou quando a democracia brasileira foi brutalizada, e de que lado permaneceu enquanto ela foi torturada.
Seguramente há muitas histórias de corrupção por trás da consolidação do império global durante o regime, que nossos jovens precisam conhecer. Até para que as novas gerações não cometam os mesmos erros das antigas, de se deixarem levar por campanhas midiáticas agressivas, moralizantes, de cunho antidemocrático.
A Comissão da Verdade, se não quiser ser conhecida como Comissão da Covardia, precisa responder às ruas, que estão gritando:
A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura!
Por: Miguel do Rosário
*ajusticeiradeesquerda

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