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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, julho 12, 2013

CPI da espionagem convocará FHC?


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A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) protocolou no final da tarde de ontem (10) o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as denúncias de espionagem dos EUA em e-mails e ligações telefônicas no Brasil. O requerimento obteve 41 assinaturas – o mínimo necessário é de 27 senadores (um terço dos parlamentares). Pelas normas regimentais, a CPI tem poder para solicitar documentos sigilosos a órgãos no Brasil sem autorização da Justiça. Diante das denúncias do sítio Carta Maior, de que FHC teve a consultoria da mesma empresa denunciada pela espionagem, existe a possibilidade da sua convocação. No seu reinado, o país quase virou uma colônia dos EUA com a sua política de “alinhamento automático” ao império. A CPI poderá ajudar a desvendar as relações de subserviência dos tucanos.
Segundo denúncias do insuspeito jornal O Globo, conhecido por sua histórica postura colonizada, pessoas e empresas instaladas no Brasil se tornaram alvos da criminosa espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) nos últimos anos. Somente em janeiro passado, o país teve 2,3 milhões de telefonemas e mensagens espionados – ficando atrás apenas dos EUA. O jornal também revelou que a NSA e a Agência Central de Inteligência, a temida CIA, mantiveram uma “estação de espionagem” em Brasília pelo menos até 2002.
Diante destas bombásticas revelações, a senadora Vanessa Grazziotin reagiu rapidamente. “Trata-se de uma invasão de soberania sem precedentes na história do Brasil. Grave sob todos os aspectos, ainda mais que o controle de informações podem ter chegado ao nosso sistema de defesa, à Presidência da República, informações sigilosas e até mesmo operações militares podem ter sido monitoradas por um governo estrangeiro”, argumenta. No requerimento que solicita a abertura da CPI, ela afirma que o Senado precisa ir além do convite a ministros para prestar esclarecimentos.
Neste rumo, seria o caso de convocar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para prestar esclarecimentos. Ele inclusive já se antecipou e garantiu que “nunca soube de espionagem da CIA em meu governo”. Mas a sua reação defensiva não convence. Conforme denunciou ontem o sítio Carta Maior, “a empresa que coordenava o trabalho de grampos da CIA, a Booz-Allen, na qual trabalhava Edward Snowden, é uma das grandes empresas de consultoria mundial. No governo FHC, ela foi responsável por consultorias estratégicas contratadas pela esfera federal”. Essa informação exige explicações, ressalta o sítio.
“O Congresso não pode tergiversar diante do incontornável: uma base de espionagem da CIA operou em território brasileiro pelo menos até 2002. A sociedade tem direito de saber o que ela monitorou e com que objetivos. Há outras perguntas de vivo interesse nacional que reclamam uma resposta. O pool de espionagem apenas coletou dados no país ou se desdobrou em processar, manipular e distribuir informações, reais ou falsas, cuja divulgação obedecia a interesses que não os da soberania nacional? Fez o que fez de forma totalmente clandestina e ilegal? Ou teve o apoio interno de braços privados ou oficiais, ou mesmo de autoridades avulsas? Quem, a não ser uma Comissão Parlamentar, teria acesso e autoridade para responder a essas indagações de evidente relevância política nos dias que correm?”.
“Vale repetir: a mesma empresa guarda-chuva do sistema de espionagem que operou no Brasil até 2002, a Booz Allen, foi a mentora intelectual de uma série de estudos e pareceres, contratados pelo governo do PSDB, para abastecer uma estratégia de alinhamento (‘carnal’, diria Menen) do Brasil com a economia dos EUA... Como se vê, as revelações de Snowden, ao contrário do que sugere a nota de FHC, definitivamente, não deveriam soar como algo inusitado aos círculos do poder, em Brasília. Se assim são tratadas, há razões adicionais para suspeitar que um imenso pano quente será providenciado para evitar que as sombras fiquem expostas à luz. A questão não se esgota em manifestar a indignação nacional pelo que Snowden denunciou. O que verdadeiramente não se pode mais adiar é a investigação pública do que foi espionado, com que finalidade e a mando de quem. Isso quem faz é uma Comissão Parlamentar de Inquérito”.
*comtextolivre

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