A
senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) protocolou no final da tarde de
ontem (10) o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito para investigar as denúncias de espionagem dos EUA em e-mails e
ligações telefônicas no Brasil. O requerimento obteve 41 assinaturas –
o mínimo necessário é de 27 senadores (um terço dos parlamentares).
Pelas normas regimentais, a CPI tem poder para solicitar documentos
sigilosos a órgãos no Brasil sem autorização da Justiça. Diante das
denúncias do sítio Carta Maior, de que FHC teve a consultoria da mesma
empresa denunciada pela espionagem, existe a possibilidade da sua
convocação. No seu reinado, o país quase virou uma colônia dos EUA com a
sua política de “alinhamento automático” ao império. A CPI poderá
ajudar a desvendar as relações de subserviência dos tucanos.
Segundo
denúncias do insuspeito jornal O Globo, conhecido por sua histórica
postura colonizada, pessoas e empresas instaladas no Brasil se tornaram
alvos da criminosa espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA, na
sigla em inglês) nos últimos anos. Somente em janeiro passado, o país
teve 2,3 milhões de telefonemas e mensagens espionados – ficando atrás
apenas dos EUA. O jornal também revelou que a NSA e a Agência Central
de Inteligência, a temida CIA, mantiveram uma “estação de espionagem”
em Brasília pelo menos até 2002.
Diante
destas bombásticas revelações, a senadora Vanessa Grazziotin reagiu
rapidamente. “Trata-se de uma invasão de soberania sem precedentes na
história do Brasil. Grave sob todos os aspectos, ainda mais que o
controle de informações podem ter chegado ao nosso sistema de defesa, à
Presidência da República, informações sigilosas e até mesmo operações
militares podem ter sido monitoradas por um governo estrangeiro”,
argumenta. No requerimento que solicita a abertura da CPI, ela afirma
que o Senado precisa ir além do convite a ministros para prestar
esclarecimentos.
Neste
rumo, seria o caso de convocar o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso para prestar esclarecimentos. Ele inclusive já se antecipou e
garantiu que “nunca soube de espionagem da CIA em meu governo”. Mas a
sua reação defensiva não convence. Conforme denunciou ontem o sítio
Carta Maior, “a empresa que coordenava o trabalho de grampos da CIA, a
Booz-Allen, na qual trabalhava Edward Snowden, é uma das grandes
empresas de consultoria mundial. No governo FHC, ela foi responsável
por consultorias estratégicas contratadas pela esfera federal”. Essa
informação exige explicações, ressalta o sítio.
“O
Congresso não pode tergiversar diante do incontornável: uma base de
espionagem da CIA operou em território brasileiro pelo menos até 2002. A
sociedade tem direito de saber o que ela monitorou e com que
objetivos. Há outras perguntas de vivo interesse nacional que reclamam
uma resposta. O pool de espionagem apenas coletou dados no país ou se
desdobrou em processar, manipular e distribuir informações, reais ou
falsas, cuja divulgação obedecia a interesses que não os da soberania
nacional? Fez o que fez de forma totalmente clandestina e ilegal? Ou
teve o apoio interno de braços privados ou oficiais, ou mesmo de
autoridades avulsas? Quem, a não ser uma Comissão Parlamentar, teria
acesso e autoridade para responder a essas indagações de evidente
relevância política nos dias que correm?”.
“Vale
repetir: a mesma empresa guarda-chuva do sistema de espionagem que
operou no Brasil até 2002, a Booz Allen, foi a mentora intelectual de
uma série de estudos e pareceres, contratados pelo governo do PSDB,
para abastecer uma estratégia de alinhamento (‘carnal’, diria Menen) do
Brasil com a economia dos EUA... Como se vê, as revelações de Snowden,
ao contrário do que sugere a nota de FHC, definitivamente, não
deveriam soar como algo inusitado aos círculos do poder, em Brasília.
Se assim são tratadas, há razões adicionais para suspeitar que um
imenso pano quente será providenciado para evitar que as sombras fiquem
expostas à luz. A questão não se esgota em manifestar a indignação
nacional pelo que Snowden denunciou. O que verdadeiramente não se pode
mais adiar é a investigação pública do que foi espionado, com que
finalidade e a mando de quem. Isso quem faz é uma Comissão Parlamentar
de Inquérito”.
*comtextolivre
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