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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 16, 2013

Crise da mídia eleva a tensão no país

PiG vai à falência e
quer levar o país junto







Grandes jornais perdem inexoravelmente leitores no papel, mas não param de ganhá-los na Web (43 milhões de internautas leem o New York Times); (porém) quando os sites dos grandes jornais passaram a ser pagos (como o Times), a visitação despencou (de 22 milhões para 200 mil)”.

“Libération ou Mediapart escolheram um modelo de pagamento parcial . Cabe registrar que se a imprensa da internet é, no momento pelo menos, quase gratuita, isso se deve ao fato de que ela é subvencionada pelos leitores da imprensa escrita”.

“ Antes, os meios de comunicação vendiam informação. Agora, como a TF1 faz com a Coca Cola, vendem consumidores a seus anunciantes”.

“ Quando “Slate” (grupo do Washington Post) comenta um livro ou um DVD, links ligam o texto ao site de vendas da Amazon. Para cada venda efetuada, Slate recebe 6% do total. A missão informacional é parasitada pela comunicação”.

Os trechos foram pinçados da resenha do novo livro de Ignacio Ramonet, a ‘Explosão do Jornalismo’, publicada nesta pág.

O tema interessa a todos que enxergam na pluralidade da informação e no discernimento crítico que ela alimenta, a alma da democracia.

Ramonet, um intelectual preocupado com o impasse da representação política no século 21, analisa um fenômeno que a mídia dominante conhece bem no Brasil: o declínio do jornalismo impresso e a ausência de um modelo de negócio que reproduza as mesmas taxas de lucratividade – e de hegemonia ideológica – em suporte digital.

O caso aqui se torna agudo por um par de razões.

Em edição recente, a inglesa ‘The Economist’ chamou a atenção para a velocidade exponencial da taxa de conexão brasileira à web.

A metade dos lares do país já está plugada na rede.

Somos a segunda base mais importante do Facebook no mundo.

A mídia tradicional, segunda a revista conservadora, está perplexa diante de uma transição sem volta.

Há muito dinheiro em jogo nessa travessia, explica Ramonet: a indústria da comunicação representa 15% do PIB mundial.

Não só dinheiro em espécie, cabe dizer.

Mas também a sua versão concentrada e ainda mais valiosa: o poder político que se embaralha nessa encruzilhada.

É sobretudo isso, que a ‘Economist’ não atenta, que adiciona especificidade e nitroglicerina ao caso brasileiro.

A ponto de a deriva de um setor empresarial tornar-se uma ameaça à democracia do país.

Meia dúzia de corporações da mídia aqui pautam a vida política e tutelam a economia , como centuriões da riqueza acumulada e da autoridade corrente.

Alguns encarnam essa ‘gendarmerie’ autoconferida há mais de um século.

Enfrentam os tempos difíceis com as garras à mostra.

Às trincas no alicerce político, decorrentes de três derrotas presidenciais sucessivas de seus candidatos à chefia da Nação, veio agregar-se a percepção de um esfarelamento estratégico.

Consequência da mudança estrutural irreversível na dimensão tecnológica do seu negócio.

‘A explosão do jornalismo’, como diz Ramonet brincando com a ambiguidade, atinge o suporte convencional com tal impacto que desordena a escala e o conteúdo da linha de produção, borra o divisor entre emissor e receptor e dissolve o próprio conceito do que se emite: a informação.

Pior: os gigantes do crepúsculo não estão mais sozinhos na luta pela adaptação ao novo meio digital.

Há uma população nova, ágil, desassombrada, composta de pequenos veículos progressistas que contrastam a pauta dominante e disputam uma audiência antes cativa.

Ainda não assimilada em sua importância por governos hesitantes, a emergência desses novos atores tira dos gigantes o favoritismo absoluto na nova corrida.

O faturamento grita, a audiência tropeça.

E eles radicalizam.

Sua estratégia no Brasil visa recuperar, por todos os meios –todos– um pedaço do chão firme anterior.

Como a tecnologia é a variável exógena da equação, a alternativa dos ‘liberais’ que dominam a mídia converge para a luta pelo controle do Estado.

Vale tudo.

A partidarização sem pejo esparramou-se do editorial para o colunismo; contagiou as manchetes e já capturou o noticiário.

Busca-se assegurar, ao menos, uma transição suave, para algum ponto seco, a salvo da inundação digital-democrática, que não cessa de subir.


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
*PHA

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