Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, dezembro 04, 2013

50 anos da experiência de Paulo Freire em Angicos

Link to Jornal A Verdade

50 anos da experiência de Paulo Freire em Angicos

50 anos da experiência de Paulo Freire em AngicosTodos sabem a importância de Paulo Freire para educação, mas ainda poucos conhecem sua experiência na cidade de Angicos.
Angicos é uma cidade pequena do Rio Grande do Norte, na qual Paulo Freire implementou um projeto de alfabetização para 380 trabalhadores, que ficou conhecido como “Quarenta horas de Angicos”.
Paulo Freire foi convidado para este trabalho em 1962 e em 24 de janeiro de 1963, houve a primeira aula regular do projeto sobre o tema: “Conceito antropológico de cultura”, iniciando a primeira das “Quarenta horas de Angicos”.
Em 2 de Abril, houve a quadragésima hora de aula dada, com a presença do presidente da República João Goulart.
Para Freire, primeiro vem a leitura do mundo e depois a formação das palavras. O diálogo é parte essencial do processo educativo, e não a aula discursiva. A educação é vista como uma forma de desocultar a ideologia dominante.
Em maio de 1963, houve a primeira greve em Angicos. Os fazendeiros chamavam a experiência de Paulo Freire de “praga comunista.”
A experiência de Angicos foi levada para outras cidades como “projeto-piloto” do Programa Nacional de Alfabetização que seria iniciado em 1964.
Este exitoso projeto foi interrompido pelos carrascos do Golpe Militar de 1964. Freire partiu para o exílio no Chile no mesmo ano. Em Angicos, com medo, muitos educandos e educadores queimaram e enterraram seus cadernos. A experiência foi encerrada. Algumas pessoas que participaram dela também foram presas durante a Ditadura Militar.
Antes de partir para o exílio Paulo Freire foi preso e passou 70 dias na cadeia, acusado de “comunista e subversivo”. Na prisão, um dos oficiais responsáveis pelo quartel solicitou a Paulo Freire para alfabetizar alguns recrutas e ele explicou que estava preso por alfabetizar.
Angicos nos lembra que ainda em 2013 o analfabetismo não foi erradicado em nossa nação. Angicos nos lembra que os algozes da Ditadura que tanto mal fizeram ao país ainda conseguiram acabar com o projeto de alfabetização que Paulo Freire tinha para o país. Aos que defendiam a ditadura e aos que a defendem até hoje, o importante é que a os trabalhadores permaneçam de olhos vendados.
Carolina de Mendonça, São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário