Asilo a Snowden: Dilma deve convidar todos ao debate antes de decidir
Fernando Brito
Por uma questão de coerência, o Brasil, em princípio, deve ser simpático ao pedido de asilo feito por Edward Snowden.
Afinal, foram suas revelações sobre a espionagem americana que nos fizeram saber que nossa Presidente e a Petrobras estavam “grampeadas” pela NSA.
E o Brasil reagiu a isso com o protesto que deveria fazer e a atitude que deveria tomar: suspender a visita diplomática de nossa Chefe de Estado aos EUA.
Embora seja difícil justificar retaliações ao Brasil por conceder asilo a um cidadão que, do ponto de vista fático, só fez bem à humanidade, dando-lhe ciência da bisbilhotagem que sobre ela se faz, em seus telefones e computadores, não há dúvidas de que esta é uma decisão séria e capaz de consequências no plano das relações políticas e comerciais.
Ao mesmo tempo, ela tem o significado de ratificar a posição brasileira como a de um interlocutor de peso nas relações mundiais e isso não é pouco.
Entramos num ano eleitoral e a proximidade das eleições vai, progressivamente, transferindo aos representados as decisões de seus representantes. Decisões graves, em final de mandato, devem, em geral, aguardar a manifestação do eleitorado.
A sobre Snowden, entretanto, não pode esperar tanto. Dilma terá de decidir e tem legitimidade para isso, plena.
Mas será saudável para o povo brasileiro que ela o faça após consultas às forças políticas do país, tanto as que a sustentam quanto às que a ela se opõem.
Será esclarecedor para o povo brasileiro saber o que pensam os tucanos e o aglomerado Eduardo Campos-Marina Silva pensam a respeito da espionagem americana e da eventual proteção a ser dada por nosso país ao homem que permitiu ao mundo conhecê-la.
Aécio Campos apoiaria a ideia de proteger quem denunciou o “grampo” da NSA nos telefones que pretende usar no Planalto?
Eduardo e Marina estariam a favor de defender a soberania sobre o nosso petróleo abrigando o homem que denunciou a invasão dos computadores por espiões americanos atrás dos segredos do pré-sal?
Creio que é direito do povo brasileiro saber, antecipadamente, como pensam os que pretender dirigir o país, embora a decisão caiba apenas à Presidente que legitimamente os representa.
Mas fará bem ao país e à lisura do processo eleitoral ter-se uma manifestação inequívoca de todas as forças políticas.
Creio que nem mesmo os tucanos podem se opor a isso.
Afinal, seu chefe Fernando Henrique Cardoso, quando quebrou o país às véspera das eleições de 2002, chamou todos os candidatos ao Planalto para comunicar a necessidade de estender o chapéu ao FMI, depois daqueles anos de “eficiência administrativa” e “boa gestão das finanças públicas”.
E todos corresponderam ao convite, civilizadamente.
Têm, portanto, agora, o dever de manifestar-se sobre um tema sobre o qual o povo brasileiro tem o direito ser esclarecido em todos os seus motivos e extensão.
*Tijolaço
Nenhum comentário:
Postar um comentário