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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, dezembro 18, 2013

Asilo a Snowden: Dilma deve convidar todos ao debate antes de decidir

Fernando Brito

snowden
Por uma questão de coerência, o Brasil, em princípio, deve ser simpático ao pedido de asilo feito  por Edward Snowden.
Afinal, foram suas revelações sobre a espionagem americana que nos fizeram saber que nossa Presidente e a Petrobras estavam “grampeadas” pela NSA.
E o Brasil reagiu a isso com o protesto que deveria fazer e a atitude que deveria tomar: suspender a visita diplomática de nossa Chefe de Estado aos EUA.
Embora seja difícil justificar retaliações ao Brasil por conceder asilo a um cidadão que, do ponto de vista fático, só fez bem à humanidade, dando-lhe  ciência da bisbilhotagem que sobre ela se faz, em seus telefones e computadores, não há dúvidas de que esta é uma decisão séria e capaz de consequências no plano das relações políticas e comerciais.
Ao mesmo tempo, ela tem o significado de ratificar a posição brasileira como a de um interlocutor de peso nas relações mundiais e isso não é pouco.
Entramos num ano eleitoral e a proximidade das eleições vai, progressivamente, transferindo aos representados as decisões de seus representantes. Decisões graves, em final de mandato, devem, em geral, aguardar a manifestação do eleitorado.
A sobre Snowden, entretanto, não pode esperar tanto. Dilma terá de decidir e tem legitimidade para isso, plena.
Mas será saudável para o povo brasileiro que ela o faça após consultas às forças políticas do país, tanto as que a sustentam quanto às que a ela se opõem.
Será esclarecedor para o povo brasileiro saber o que pensam os tucanos e o aglomerado Eduardo Campos-Marina Silva pensam a respeito da espionagem americana e da eventual  proteção a ser dada por nosso país ao homem que permitiu ao mundo conhecê-la.
Aécio Campos apoiaria a ideia de proteger quem denunciou o “grampo” da NSA nos telefones que pretende usar no Planalto?
Eduardo e Marina estariam a favor de defender a soberania sobre o nosso petróleo abrigando o  homem que denunciou a invasão dos computadores por espiões americanos atrás dos segredos do pré-sal?
Creio que é direito do povo brasileiro saber, antecipadamente, como pensam os que pretender dirigir o país, embora a decisão caiba apenas à Presidente que legitimamente os representa.
Mas fará bem ao país e à lisura do processo eleitoral ter-se uma manifestação inequívoca de todas as forças políticas.
Creio que nem mesmo os tucanos podem se opor a isso.
Afinal, seu chefe Fernando Henrique Cardoso, quando quebrou o país às véspera das eleições de 2002, chamou todos os candidatos ao Planalto para comunicar a necessidade de estender o chapéu ao FMI, depois daqueles anos de “eficiência administrativa” e “boa gestão das finanças públicas”.
E todos corresponderam ao convite, civilizadamente.
Têm, portanto, agora, o dever de manifestar-se sobre um tema sobre o qual o povo brasileiro tem o direito ser esclarecido em todos os seus motivos e extensão.
*Tijolaço

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