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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, dezembro 05, 2013

Berlim prepara-se para abrir a primeira coffee shop

Município da capital alemã aprovou construção de estabelecimento para a venda de marijuana. O objectivo é lutar contra o tráfico de droga.
Um dos argumentos invocados é o de que a “marijuana vendida pelo Estado é de melhor qualidade que a ilegal” Reuters/Enrique Castro-Mendivil
Berlim vai passar a contar com coffee shops, locais onde é autorizada a comercialização de drogas leves. Os vereadores do município de Friedrichshein-Kreuzberg aprovaram na quinta-feira um diploma que prevê a construção de uma coffee shop como forma de combater o tráfico de droga na capital alemã.
Será no Parque Görlitz, zona muito popular da cidade mas que nos últimos anos se tornou num dos principais locais de tráfico, que será construído o estabelecimento. A presidente do município, Monika Herrmann, eleita pelos Verdes, defende que a medida irá corrigir o falhanço da proibição de marijuana em vigor na Alemanha.
“A situação no Parque Görlitz mostra que a política de proibição das últimas décadas falhou. Chegou o momento de aplicar medidas fora do comum”, observou Herrmann, citada pelo Süddeutsch Zeitung.
A lei alemã proíbe a venda de marijuana, mas o executivo camarário já enviou a proposta para o Instituto Federal de Medicamentos e Dispositivos Médicos, que terá de aprová-la. “É a primeira vez que se faz uma proposta semelhante, portanto não se pode dizer se vai ser aprovada ou chumbada”, afirmou um porta-voz do instituto, citado pelo diário espanhol El País. A esperança do município é de que lhe seja concedida uma excepção baseada no interesse público da medida.
O diploma prevê que os futuros clientes terão de provar que têm mais de 18 anos e que nos locais será assegurada a presença de especialistas, que devem aconselhar sobre os malefícios do consumo de drogas.
O ministro do Interior do Estado de Berlim, Frank Henkel, eleito pelos conservadores da CDU, defende que “a ideia de se criarem coffee shops não é uma solução”. “A banalização de drogas perigosas não soluciona o problema”, acrescentou.
Pelo contrário, a autarca dos Verdes quer ir mais longe e sugere mesmo que a autorização se estenda a toda a capital. “Não se pode esquecer que a marijuana vendida pelo Estado é de melhor qualidade que a ilegal”, notou Herrmann.
A insegurança na zona é o grande argumento dos defensores da venda autorizada de drogas leves. No Parque Görlitz, durante os primeiros nove meses do ano, tiveram lugar 113 rusgas, de acordo com a polícia, sem que com isso o tráfico tenha cessado.
*http://www.publico.pt/mundo/noticia/berlim-preparase-para-abrir-a-primeira-coffee-shop-1614424

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