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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 06, 2014

Otan, o braço armado dos EUA

Editorial do site Vermelho:



A cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) reuniu os principais líderes políticos dos países membros e serviu para mostrar mais uma vez a atitude belicista que as potências imperialistas têm em relação ao resto do mundo. No encontro, ocorrido no País de Gales e encerrado na sexta-feira (5), a organização subiu o tom em relação à Rússia e contribuiu, mais uma vez, para desestabilizar relações regionais.

O ponto mais grave desta cúpula foi o anúncio da formação de uma força militar, composta por entre quatro e cinco mil soldados, preparados para se mobilizar em um período de 48 horas diante da “necessidade” de alguma intervenção. Some-se a isso a pretensão de intensificar a presença da Otan nos países bálticos e as declarações do presidente dos EUA,Barack Obama, que na quarta-feira (3) confirmou um acordo de colaboração militar com a Estônia. É mais um fator de tensão nas fronteiras da Rússia.

Tensão desnecessária, que se agrega à já existente, decorrente do conflito com a Ucrânia, e não contribui para a pacificação nesse país. A proposta da Otan foi divulgada exatamente no mesmo dia em que as autoridades de Kiev e os representantes dos insurretos do leste ucraniano assinaram uma trégua. O anúncio da maior presença da Otan na região serve somente, neste caso, para causar desconfiança em um processo de paz que já não é fácil.

Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, já alertou os EUA e seus aliados sobre a presença militar nas proximidades das fronteiras russas. Tal atitude da Aliança Atlântica novamente deixa os ânimos exaltados. Em meados de 1997, a Otan firmou um acordo com o governo de Moscou, comprometendo-se a não instalar bases militares na vizinhança russa. A quebra de tal acordo é mais uma prova de que o único compromisso desta organização é com os seus próprios interesses, mais uma prova de que não é digna de confiança no que tange à paz.

A tentativa de integrar a Ucrânia à Aliança Atlântica é provocativa e perigosa e gera discordância entre os próprios membros. Alemanha e França estão reticentes em relação a esta decisão. Temem que a presença ucraniana na organização contribua ainda mais paraintensificar a tensão na região.

Esta postura da organização usa como pretexto a suposta presença militar da Rússia no território ucraniano. Os Estados Unidos e a União Europeia acusas o governo de Moscou de interferir nos assuntos internos de Kiev. Obama e seu “quase compatriota”, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, foram na reunião da Otan os mais efusivos na acusação que a Rússia nega. Na verdade, o apoio dos EUA e seus aliados à Ucrânia, as diversas sanções impostas à Rússia e a intenção de movimentar tropas da Otan é que configuram uma intervenção das potências ocidentais nos assuntos internos russos.

Os exercícios militares Saber Junction (Espadas Cruzadas), concebidos inicialmente como apenas norte-americanos, e agendados para acontecer no mês de setembro em países como Alemanha, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia, acaso são coisas válidas e aceitáveis? E o que dizer dos exercícios militares programados para acontecer em Lemberg, na Ucrânia, também no mês de setembro, coordenados pelas forças militares dos EUA?

Se agregarmos a estes fatos que a crise ucraniana foi desencadeada a partir de uma interferência dessas mesmas potências, podemos ajuizar a que fins se destina a decisão da Otan. Em fevereiro deste ano, as atuais autoridades ucranianas, apoiadas por europeus e norte-americanos, depuseram o governo de Kiev porque este resistiu a assinar acordos com a União Europeia e se inclinava a uma maior cooperação com Moscou.

A Otan revela-se a cada reunião de cúpula que realiza como um braço armado do imperialismo estadunidense e das potências da União Europeia e um fator de intervencionismo e instabilidade internacional. Os norte-americanos são os mais engajados em aparelhar a Aliança Atlântica como seu principal instrumento para a realização de intervenções.

No momento em que a China se consolida como uma força mundial, com influência em vários continentes; que a Rússia reorganiza sua presença global (apenas como exemplo da importância estratégica, os russos possuem grandes reservas de gás e petróleo, essenciais para os europeus e que tem como canal de ligação com a União Europeia justamente a Ucrânia) e os Brics aparecem como uma alternativa econômica em seus subcontinentes, os EUA vivem problemas econômicos, assim como a Europa.

Já se discute, mesmo entre os aliados dos Estados Unidos, se o “protagonismo” norte-americano é factível. Daí a necessidade desse imperialismo mostrar força e tentar expandir o espectro de sua influência.

As decisões da Otan demonstram que as potências imperialistas não tendem à paz, mas ao militarismo e à guerra.

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