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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, fevereiro 24, 2015

Acordão Eduardo Cunha-Gilmar Mendes quer empurrar pela goela contra-Reforma Política




Brasil de Fato

Empresa não vota, portanto não pode contribuir financiando candidatos nas eleições. Com este raciocínio simples e óbvio, sete dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram em abril de 2014, pela inconstitucionalidade do financiamento das empresas.

Porém, o julgamento foi suspenso a pedido do Ministro Gilmar Mendes, que desde então recusa-se a devolver o processo para impedir a decisão que impedirá as empresas de continuar injetando fortunas nos candidatos que passam a defender unicamente seus interesses.
Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, caso consiga ser proclamada, será o mais duro golpe na corrupção. Embora não acabe com o financiamento privado individual, impedirá um mecanismo perverso que submete a maioria dos parlamentares ao interesse de grupos econômicos e não de seus eleitores.
Apesar de toda pressão social o Ministro Gilmar Mendes recusa-se a devolver o processo e permitir a continuidade do julgamento.
E agora, pressionados pelo intenso movimento social deflagrado pelo Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político- que obteve quase oito milhões de votos -, os parlamentares vinculados aos grandes grupos empresariais, tentam acelerar a votação de uma contra reforma política, para inserir na Constituição Federal uma emenda assegurando o financiamento empresarial.
Fica evidente que é uma armação, arquitetada com o Ministro Gilmar Mendes que vai reter o processo em sua gaveta até o julgamento deste Projeto de Emenda Constitucional (PEC).
O presidente da Câmara Eduardo Cunha, aceleradamente, aprova uma Comissão Especial da Reforma Política, presidida pelo Deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ) e cujo relator será o deputado Marcelo Castro (PMDB/PI), para levar o mais rápido possível esta votação ao plenário da Câmara. As raposas comandando o galinheiro.
A campanha pelo Plebiscito da Constituinte Exclusiva e a Coalizão Democrática, que patrocinam as duas principais iniciativas de luta pela reforma política, se unem para juntar todos os esforços na luta para barrar esse golpe. A PEC que Eduardo Cunha, numa provável combinação com o Ministro Gilmar Mendes tenta aprovar a “toque de caixa” , não merece outro nome do que “PEC da Corrupção”.
Vai ficando cada vez mais claro que com este Congresso Nacional, eleito com o financiamento privado e empresarial, a serviço de quem os financiou e não do povo brasileiro, jamais teremos uma reforma política democrática.
Somente uma Constituinte Exclusiva, isto é, que não seja composta pelos atuais parlamentares, mas por representantes populares, poderá mudar o atual sistema político que impede qualquer mudança ou reforma de interesse da população.
Com o atual sistema político, cada vez mais dependente de relações fisiológicas, seguiremos alimentando a corrupção, mantendo o poder para os querem que a saúde, educação, alimentação e habitação sejam apenas negócios. A cada escândalo de corrupção que é revelado fica nítida a relação entre os eleitos e seus interesses em favorecer empresas.
Neste sistema político, ganhe quem ganhar as eleições presidenciais, a hegemonia dos grandes grupos econômicos permanecerá intocada. As grandes bancadas parlamentares não são dirigidas pelos partidos, mas pelo agronegócio, construção civil, grandes grupos de comunicação, ensino privado, setores industriais.
Mesmo elegendo candidatos que sinceramente queiram enfrentar os interesses dominantes, seguiremos aprisionados neste sistema em que o Congresso Nacional está cada vez mais distante do povo brasileiro. Toda a frustração é aproveitada pelas forças de direita, potencializada pela grande mídia, convertendo-se em mais conservadorismo.
Alguns temem que a conquista de uma Constituinte abra possibilidades para os setores conservadores se fortaleçam ainda mais. É um falso raciocínio. As forças de direita só tem a perder quando se amplia o debate de uma reforma política. É preciso confiar em nosso povo, confiar no aprofundamento da democracia. Ao longo de nossa história, sempre que se conquistaram espaços de participação popular a conseqüência foi o avanço e não o retrocesso.
É preciso ousar, enfrentar a crise política e o verdadeiro cerco que a ofensiva de direita vem patrocinando como uma alternativa política: A Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político!

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