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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

Suiçalão: aparecem os primeiros tucanos gordos!

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Os internautas acharam um nome genial para popularizar o escândalo de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal de 8,6 mil contas associadas ao Brasil achadas no HSBC da Suíça. E que agora usarei genericamente para os escândalos de evasão fiscal vazados ou descobertos através do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ).
Suiçalão!
Quem sabe se, com esse nome atraente ao público, o UOL não divulga os nomes que estão sendo mantidos em segredo, à diferença do que vem acontecendo no resto do mundo, onde as listas dos beneficiários estão vazando?
Os brasileiros tinham aproximadamente R$ 20 bilhões em contas no HSBC da Suíça. Enquanto a mídia não se interessa, a blogosfera está aprendendo a trilhar os caminhos apontados pelos bancos de dados do ICIJ.
Por exemplo, há um escândalo revelado pelo ICIJ, anterior ao vazamento do HSBC, que também passou batido por nossa mídia.
É o escândalo das contas off shore. Um vazamento revelou a existência de milhares de contas secretas em paraísos fiscais das Ilhas Virgens Britânicas, Cingapura e Ilhas Cook.
(Houve uma certa confusão entre os dois escândalos: um são as contas off shore, de 2013; outro é o HSBC, mais recente. Nesse post, a diferença vem explicada, mas eu chamo ambos de “suiçalão”, assim como nossa mídia passou a chamar, durante um tempo, tudo de “mensalão”).
Cerca de 50 nomes de brasileiros com contas em off shores apareceram, conforme se pode ver neste link.
Não se trata especificamente do caso HSBC, mas é sonegação do mesmo jeito. Na verdade, é um caso ainda pior.
Os documentos das contas secretas off shore são públicos desde 2013, mas a nossa mídia nunca se interessou em investigar o caso.
É parecido com o que faz hoje, em que parece mais preocupada em esconder do que em revelar a participação do Brasil num dos maiores escândalos de lavagem de dinheiro e sonegação do mundo.
A divulgação dos nomes de brasileiros envolvidos no Suiçalão ajudaria o Brasil a fazer uma campanha contra a sonegação, o maior problema nacional; bem maior, em escala, do que a corrupção.
Fernando Rodrigues, do UOL, disse que só iria divulgar os nomes do escândalo do HSBC, ou Suiçalão, que apresentassem “interesse público”.
Pois bem, o blog Megacidadania encontrou um nome que apresenta “interesse público”.
Saul Sabbá.
O dono do banco Máxima, Saul Sabbá está no banco de dados do site Off Shore Leaks, de responsabilidade do ICIJ. A sua conta secreta está ligada à offshore Maximizer International Bank S.A.
Máxima, Maximizer, sacou?
O banco de dados do Off Shore Leaks mostra o Maximizer, por sua vez, ligado a vários outros nomes.
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Entre os nomes, surge o escritório Zalcberg Advogados Associados, cujo sócio Chaim Zalcberg, que também está no mapa do Offshore Leaks, já foi preso pela Polícia Federal, em 2012, na Operação Babilônia, suspeito de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Zalcberg seria o cabeça da quadrilha, segundo a PF. Ele esteve envolvido também nas tretas do Banestado, um daqueles escândalos tucanos que nunca deram em nada, e que, coincidentemente foi julgado pelo mesmo Sergio Moro que hoje pontifica como ditador da República do Paraná.
Outra figura central no Banestado – um escândalo de corrupção que resultou em prejuízo de dezenas de bilhões para o erário – foi o doleiro Alberto Youssef, o atual heroi da Lava Jato e da mídia. Youssef foi preso, algum tempo depois, por sua participação nos crimes do caso Banestado, mas solto logo em seguida, quando aceitou fazer uma delação premiada onde entregou bagrinhos e livrou os peixões.
Pena que a mídia não dá ibope para esses casos, talvez porque ela mesmo seja uma grande sonegadora.
Voltemos a Saul Sabbá, o dono do banco Máxima.
Sabbá é um daqueles empresários que engordaram na privataria tucana. O seu banco deu consultoria para FHC na privatização da Vale e da CSN.
Agora só falta sabermos quantos milhões de dólares exatamente Sabbá e seus colegas do Maximizer, todos “brasileiros honestos”, guardavam em suas contas secretas em paraísos fiscais.
E, claro, falta sabermos a participação do Brasil no escândalo do Swiss Leaks, ou Suiçalão.
Segundo o ICIJ, o Brasil é o nono país com mais dinheiro no HSBC da Suíça e o quarto, em número de clientes.
Há uma conta associada ao Brasil com mais de US$ 302 milhões. Sabe-se, pelo próprio ICIJ, que Edmond Safra, do Banco Safra, e a família Steinbruch, donos da Vicunha e da CSN, são alguns dos nomes envolvidos no escândalo do HSBC.
O Banco Safra foi o banco usado pela Globo para comprar os dólares que enviaria às Ilhas Virgens Britânicas, quando se envolveu naquela “engenhosa operação” para adquirir os direitos de transmissão da Copa de 2002 sem pagar os devidos impostos.
Aliás, por falar em privataria, um internauta hoje (@Politica_Santos) nos brindou com uma deliciosa recordação: um artigo de Eliane Cantanhêde sobre a Petrobrás, de 1999.
Era o tempo em que os jornais falavam sobre a privatização das principais estatais com incrível naturalidade.
Cantanhede faz uma revelação bombástica no artigo: “Para ficar ainda mais claro: o que resta de equipe econômica está de olho gordo sobre a Petrobrás (“joia da coroa”), o Banco do Brasil e até a Caixa Econômica Federal.
Esses são os “brasileiros honestos” que pretendem privatizar a Petrobrás, para livrá-la do demônio petralha…
B9-W8klIYAAp6Nn

 *OCafezinho
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