Autor de Privataria Tucana denuncia cerceamento de dados sobre HSBC
O jornalista Amaury Ribeiro Junior, autor de Privataria Tucana, decidiu deixar o quadro de profissionais que integram o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), depois que foi impedido de ter acesso às informações sobre o caso das movimentações ilegais em contas de brasileiros no HSBC da Suíça.
Em entrevista ao site Último Segundo, o jornalista afirma que os dados liberados até agora só divulgaram o nome de políticos de esquerda, livrando os chamados políticos neoliberais apoiados pela grande mídia.
Confira a troca de cartas na íntegra:
"Querida Ms Walker:
O seu nome me foi indicado pelo amigo Rosenthal Calmon.
Meu nome é Amaury Ribeiro Jr, sou jornalista, escritor e membro do ICIJ desde a fundação da organização em 1997, na Universidade de Harvard. Estava lá na companhia de Calmon e outros amigos. Tenho me dedicado durante os 30 anos de trabalho à publicação de livros, que ajudaram a elucidar vários casos de lavagem de dinheiro.
Entre os meus livros publicados estão A privataria tucana (mais de duzentas mil cópias vendidas no Brasil) e O lado sujo do futebol (compartilhado com amigos da TV Record e traduzido para o espanhol).
Desde que o ICIJ decidiu publicar as contas de políticos na Suíça, o meu telefone não para de tocar. Ao me pedirem ajuda, os jornalistas de toda parte do Brasil dizem que o site UOL (escolhido pelo ICIJ para divulgar o caso), ao contrário do que vem ocorrendo em outros países, só tem divulgado o nome de políticos de esquerda, livrando os chamados políticos neoliberais apoiados pela grande mídia. Me comprometi, como membro do ICIJ, a tentar obter a lista.
Caso consiga com o ICIJ, me comprometi a divulgar somente as chamadas contas sujas e não declaradas ao Fisco, na íntegra, aos demais colegas da imprensa. O Brasil vive uma crise política sem precedentes, que poderá acabar para sempre com todo o esquema de corrupção que perdura há mais 50 anos. Mas, para que isso ocorra, a imprensa não deve colaborar com a manipulação de dados. Mando-lhe também, para a sede do ICIJ, os exemplares dos meus livros.
Grato,
Amaury Ribeiro Jr"
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"Amaury,
Bom ouvir de você. Tenho trabalhado para o ICIJ por quase 10 anos e penso que esta é a primeira vez que você entra em contato conosco em busca de uma reportagem.
Como você sabe, estamos trabalhando com o Fernando Rodrigues, que ainda está fazendo as reportagens. Ele vai publicar outras delas brevemente. Não sei no que você baseou sua afirmação de que Fernando está escondendo o nome de políticos neoliberais. Você viu os dados para fazer tal acusação tão séria contra seu colega e cointegrante do ICIJ?
Não estamos planejando abrir os dados para outras organizações de mídia do Brasil por agora. Se isso mudar, você será informado.
Obrigada,
Marina"
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"Marina,
Quem sabe talvez você, uma jornalista argentina, se interesse em conhecer o mínimo do que está acontecendo em seu país vizinho. Não estou acusando o Fernando Rodrigues, colega há mais de 30 anos, e sim a empresa em que ele trabalha (UOL). Assim como todos os grandes veículos de comunicação do Brasil, o UOL segue a cartilha neoliberal dos patrões.
A denúncia de que o UOL está escondendo as contas de políticos me foi feita por centenas de jornalistas. Eles viram meu nome na lista do ICIJ e passaram a me cobrar. Por isso eu te escrevi após conversar com o Rosenthal, que me indicou para o ICIJ.
A informação também me foi confirmada por fontes da Polícia Federal, que garantem que no HSBC está grande parte do dinheiro que foi desviado na época das privatizações. Te encaminhei a carta apenas para dar satisfação aos meus colegas do país.
Queria deixar bem claro que não estou escondendo nada de ninguém. Mas há uma maneira fácil de resolvermos o problema. Tire o meu nome da lista dos membros do ICIJ. A partir de hoje não faço mais parte da organização de jornalistas. Fico devendo a prova das contas dos ladrões neoliberais que vocês estão ajudando a esconder.
Nas contas offshore desses paraísos fiscais está amoitado o dinheiro que eles desviaram durante o processo de privatizações. Nós, jornalistas progressistas brasileiros, acostumados a tantos golpes da mídia patronal, não podíamos esperar nada de uma organização mantida pelo megassonegador George Soros.
Amaury Ribeiro Jr."
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"Amaury,
Obrigado por compartilhar suas impressões. Não concordo com elas, mas respeito. Tal como você pediu, retiraremos sua biografia do site do ICIJ e aceitamos sua renúncia como membro.
Muito obrigado,
ICIJ Deputy Director"
Fonte: Último Segundo
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