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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, abril 07, 2015

Sempre fomos ameaçados pela polícia, diz pai de menino morto

A mãe de Eduardo de Jesus Ferreira, assassinado no Complexo do Alemão, acusa a polícia de tentar transformar o filho em bandido

  • Yala Sena
Yala Sena
Direto de Teresina
atualizado em 6/4/2015 às 07h43
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O pai do garoto morto no Complexo do Alemão fez desabafo ao chegar em Teresina, no Piauí, na noite deste domingo. “A polícia foi truculenta, sempre agiu de forma truculenta no Alemão. Nunca fomos ameaçados por bandidos, mas sempre pela polícia. São soldados destreinados, que não sabem conduzir uma arma. É uma coisa terrível. Sai atirando em quem estiver pela frente”, afirmou José Maria, pai do garoto Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos.
 Foto: Yala Sena / Especial para Terra
"Nunca fomos ameaçados por bandidos, mas sempre pela polícia", contou José Maria, pai do garoto Eduardo de Jesus Ferreira
Foto: Yala Sena / Especial para Terra
Eduardo foi atingido por um disparo na última quinta-feira (2), na porta de casa . A suspeita é que o tiro tenha sido disparado por policiais militares. A Divisão de Homicídios investiga o caso e todos os agentes que participaram da operação no dia da morte do menino foram afastados.
Visivelmente abalada, a mãe do garoto, Teresinha Maria de Jesus Ferreira, voltou a afirmar que reconhece o policial e condenou o que considera ser uma tentativa da polícia de incriminar o garoto.
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"Eles estão querendo incriminar meu filho, mas ele não é isso. Ele estudava, meu filho não era bandido e não era filho de bandido", declarou bastante emocionada. Durante entrevista, ela pediu aos jornalistas para se sentar, pois não se sentia bem. "Eu reconheço sim, ele (policial)", garantiu.
 Foto: Yala Sena / Especial para Terra
Os pais do menino morto no Complexo do Alemão chegaram em Teresina, no Piauí, na noite deste domingo
Foto: Yala Sena / Especial para Terra
Terezinha voltou a cobrar justiça e disse que quer enterrar seu filho e voltar ao Rio de Janeiro para acompanhar as investigações. "Quero enterrar o corpo do meu filho. O que eu quero agora é só justiça".
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A doméstica deixou Corrente, já próximo da divisa do Piauí com a Bahia, para tentar uma vida melhor há 16 anos. Terezinha afirmou ser muito difícil voltar ao município dessa forma. "Meu coração está partido", afirmou.
A família do garoto vai pernoitar em Teresina e nesta segunda-feira vai a Corrente ( a 874 km de distância da capital). O governo do Estado do Piauí colocou duas aeronaves à disposição da família para fazer o translado até Corrente. O corpo de Eduardo será sepultado nesta segunda-feira.
Desde o início deste ano, confrontos são rotina no Alemão, que reúne 15 comunidades com 70 mil pessoas. Especialistas em segurança pública e moradores pedem recuo da polícia.

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