Mino Carta
É a própria grana, objetivo único de um mundo que premia ladrões e impostores. Por Mino Carta. Imagem: Divulgação
Todo cidadão deveria assistir ao documentário Trabalho Interno que acaba de receber o Oscar da sua categoria, para espanto de quem, como o acima assinado, costuma desconfiar das escolhas da Academia de Hollywood. Trata-se de uma aula de cidadania, justamente. Assisti, e saí do cinema acabrunhado e indignado. Também como jornalista.
O filme conta a história da crise financeira mundial desde a sua origem até o desfecho e figura entre os motivos de Carta-Capital na escolha do tema do Especial desta semana. Não entro em pormenores porque mais adiante Trabalho Interno é largamente apresentado e analisado. Digo apenas que narra com precisão implacável e visão abrangente a monstruosa tragédia contemporânea que todos vivemos, muitos sem nos darmos conta.
Pela parte que toca ao jornalista, recebi uma aula de técnica e ética, e constatei com meus botões como um diretor de cinema logrou ser infinitamente mais eficaz do que qualquer profissional midiático. Uma lição impecável de verdade factual, aquela incontestável. E o resultado final é a parábola do funcionamento deste nosso mundo desigual e moralmente corrupto por sobre a impotência da maioria ignara.
Aposentados os princípios mais nobres e as regras mais comezinhas da competição leal, a acumulação passou definitivamente a ser o objetivo dos mais fortes. Acumulação de dinheiro em primeiro lugar. Nominor quoniam leo, diz o leão, mas é o rei da selva e da pradaria. Nunca a lei da mata valeu para o bicho homem com força tamanha e nunca como hoje o chamado vil metal foi tão decisivo para o destino da Terra e de cada ser humano.
O dinheiro, e a febre que provoca, está por trás de tudo, desde os mercados até os parlamentos, desde as galerias de arte até os gramados de futebol. Vale, o ducado, o sestércio, o florim, para manipular a trajetória de uma ação da Bolsa ou valorizar o artista que não merece, em detrimento da qualidade de quanto os donos do poder declamam promover. E os heróis do momento chamam-se Bernanke, Summers, Greenspan, Paulson, monumentais executores do neoliberalismo. Seguidos por uma plêiade de excelentes discípulos.
Vale acrescentar outros. Por exemplo, Ronald Reagan, a senhora Thatcher, Bill Clinton, a família Bush. E por que não Tony Blair e Silvio Berlusconi? Tentado pela iconoclastia, chego até o papa, que esconde enquanto pode os padres pedófilos e abriga dentro dos muros vaticanos o IOR, o banco que lava grana mafiosa. É por causa disso também que escasseiam pensadores, poetas e artistas, a bem da glória tilintante de uma chusma de impostores. Não teriam de ser indispensáveis óculos especiais para enxergar a decadência do mundo. Razões há, só encontram resposta, contudo, na versão atual da lei da selva.
A única nota positiva, o único sinal de esperança, vem da nação árabe, expandida entre o Magreb e o Oriente Médio. Em nome de interesses movidos a grana, o Ocidente insistiu na tese do conflito entre islamismo e cristianismo já em andamento, enquanto os EUA esmeravam-se na peculiar retórica pela qual seu exército estaria a serviço da democracia, a ser finalmente ensinada aos conquistados.
A hipocrisia não tem limites. Em compensação, os povos que se levantam no Norte da África não se envolvem em guerras de religião, querem é livrar-se dos seus tiranos, sátrapas, de fato, da formidável estrutura ocidental e cristã, situada a Oeste, certamente, e nem de leve cristã. O destino da rebelião é incerto, verifica-se de todo modo que ainda há homens sequiosos de liberdade. Este enredo evoca outro, a meu ver, aquele tecido por quem entende que o tempo das ideologias acabou, como se fosse possível eliminar da mente humana a eterna dicotomia: deus e diabo, luz e sombra.
Os adeptos da ideia pensavam exclusivamente no marxismo-leninismo, mas já manifestavam ao expô-la, incauta e toscamente, a sua própria ideologia, pela qual, com a queda do Muro de Berlim, celebrava-se o enterro da esquerda. De certa esquerda, talvez. De uma específica visão do mundo e da vida, vencida ao provar seu fracasso e seu anacronismo. De minha parte, fico com Norberto Bobbio. O significado das palavras está sempre sujeito à interpretação, necessariamente volúvel. Quem ainda se indigna, porém, com a desigualdade, com a miséria da maioria, com a prepotência do mais forte, e se empenha contra a injustiça, chamem-no como quiserem, mas ele é o exato contrário do partidário do deixa como está porque assim me convém. Se disserem que aquele é de esquerda, não me queixarei.
Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. redacao@cartacapital.com.br
Óleo de planta ajuda a recuperar movimentos de vítimas de AVC
Via JB
Viviane Paixão
O óleo essencial da Alpinia speciosa Schum, planta regional do Nordeste conhecida como 'Bastão do Imperador' e muito utilizada na fabricação de colônias para o candomblé, tem ação relaxante que ajuda na recuperação pacientes com o sistema nervoso lesionado por doença vascular encefálica, lesões de medula, paralisia cerebral, traumatismo crânio-encefálico, esclerose múltipla, entre outras enfermidades que atingem a via nervosa.
A descoberta, feita em Sergipe pela fisioterapeuta Edna Aragão Farias Cândido durante a conclusão do doutorado pela Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), já gerou patentes nacional e internacional.
Edna Aragão, que desenvolveu pesquisas no Centro de Fisioterapia da Universidade Tiradentes, em Aracaju (SE), avaliou quase mil grupos musculares e acompanhou 75 pacientes. Todos recobraram os movimentos. O caso mais significativo é o do lutador de jiu-jitsu sergipano João Alberto Alves, 31 anos.
Segundo a pesquisa, o óleo ajuda a recuperar músculos de pacientes com AVC Foto: Vivianne Paixão/Terra
Em 2007, Alves sofreu um acidente vascular encefálico após cirurgia para retirada da glândula tireoide. "Eu era independente e, de uma hora para outra, me vi precisando de ajuda para fazer tudo. Foi muito difícil", afirma o lutador que sequer levantava da cama, mas hoje usa o andador com facilidade e faz exercícios físicos.
Em uma situação patológica, por falta de controle do sistema nervoso central, os impulsos nervosos vindos da medula para o músculo ficam acentuados, causando espasticidade (espasmos) e, ao mesmo tempo, paralisia muscular. Em sua tese, a pesquisadora mostrou que o óleo atua nos canais de cálcio, responsáveis pela contração muscular. O excesso de cálcio promove a tensão do músculo. Sua normalização permite que o músculo contraia e relaxe normalmente, o que gera energia para novos movimentos.
Patentes
A pesquisa desenvolvida em Sergipe despertou o interesse da Hebron, fabricante de fitoterápicos com sede em Recife (PE) e relações comerciais em países como Estados Unidos, Cuba, África do Sul, Portugal e Áustria. A empresa cultivou a planta, forneceu matéria-prima para o tratamento dos pacientes sergipanos e financiou equipamentos para a avaliação dos resultados.
Foram investidos cerca de R$ 30 mil que renderam patentes nacional e internacional à empresa pernambucana e ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), centro de laboratórios instalado em Aracaju, onde Edna Aragão realizou os estudos sobre a ação da Alpinia.
O próximo passo da Hebron e do ITP é conseguir autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para industrializar e comercializar o óleo essencial. A expectativa é que isso aconteça em 2012.
A Grande Mentira - Parte I
O leitor deseja fazer algo de útil e inteligente? Agora mesmo?
Então é só seguir as indicações:
1. Pegue nos livros de História que estão na sua casa.
2. Individue os últimos capítulos, os que falam da história moderna, desde 1970 até hoje.
3. Rasgue e deite no lixo.
Já está. O leitor acabou de fazer uma coisa muito inteligente: porque a História como foi contada desde a década dos anos '70 até hoje é apenas mentira.
O leitor continua com dúvida? Pegou nos livros mas ainda não tem a coragem para estragar uma edição tão bonita?
Então venha comigo, siga-me nesta curta viagem, no final da qual perceberá porque o que ensinaram nas escolas, a versão oficial, não passa duma piedosa mentira que tem um único objectivo: impedir que o cidadão possa perceber que o Estado, assim como contado, foi destruído há muito tempo.
A data
Se o leitor tivesse que escolher uma data importante após o fim da Segunda Guerra Mundial, que data escolheria?
Falamos, óbvio, duma data que marcou de maneira indelével a nossa sociedade, que mudou o rumo dos acontecimentos.
20 de Julho de 1969, o Homem na Lua?
9 de Novembro de 1989, a queda do Muro de Berlim?
1990, a Primeira Guerra do Iraque?
Todos acontecimentos importantes, sem dúvidas. Mas a data que deveria merecer o destaque maior seria outra: 15 de Agosto de 1971.
Naquele dia, o então Presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon,decretou o fim da convertibilidade entre Dólar e ouro. Em breve, todos os outros Países fizeram o mesmo.
O que significa isso?
A Nota
Observem a seguinte imagem:
Nesta antiga nota da República Italiana é possível encontrar a seguinte frase: "Pagabili a vista al portatore", que podemos traduzir como "Pagáveis à vista ao portador".
Uma nota pagável? Qual o sentido? Uma nota já é dinheiro, com que se pode pagar uma nota?
Estas perguntas parecem óbvias: e isso já é um preocupante indício do estado no qual a nossa sociedade se encontra e do condicionamento ao qual somos submetidos.
Por isso, parece normal o facto desta frase ter desaparecido: já não pode ser encontrada em nota nenhuma. Normal? Absolutamente não, vamos ver porquê.
O dinheiro, em teoria, é uma forma de pagamento, nada mais do que um meio de pagamento: o dinheiro não é riqueza, deveria representar a riqueza. Complicado? Nem por isso.
É mais prático comprar 6 ovos com barras de ouro ou com notas? Com notas, evidente. Por isso foi inventado o dinheiro: uma nota representa uma determinada quantia de ouro, uma riqueza real.
Até 1971, o portador duma nota de 1.000 Lire, a mesma da figura anterior, poderia entrar em qualquer banco, público ou privado, e exigir o pagamento da nota. Como? Com ouro.
O portador apresenta a nota e o banco troca a nota (o meio de pagamento) com a riqueza real, o ouro (do qual a nota é apenas uma representação).
"Pagáveis à vista ao portador" significa isso mesmo: a nota é um meio de pagamento que representa a riqueza, o ouro, guardado nos bancos. Simples, não é?
O papel
Isso, tal como dito, até 1971 (em verdade a Lira perdeu a convertibilidade mais tarde, e o mesmo aconteceu com o dinheiro dos outros Países: mas vamos simplificar).
A partir da decisão de Nixon, já não é possível entrar num banco e pedir para que a nota seja paga: o banco não vai trocar a nota do leitor com ouro. Isso porque o Dólar e as outras notas já não representam uma riqueza real. Porquê?
A convertibilidade (uma nota = uma determinada quantia de ouro) implica que por cada nota emitida exista o correspondente valor em ouro.
Eu, Estado, tenho 1.000 quilogramas de ouro; cada quilogramas vale 1 Dólar, então vou emitir 1.000 Dólares em notas. Assim, cada Dólar representa exactamente 1 quilo de ouro.
Mas quando a convertibilidade já não for a regra? Acontece uma coisa espantosa: o Estado pode emitir um número ilimitado de notas, pois estas já não representam a real quantia de ouro na posse do Estado.
Então representam o quê?
Este é o problema: representam nada, nada mais do que o papel das quais são feitas.
Com convertibilidade: 1 Dólar = 1 Quilo de ouro
Sem convertibilidade: 1 Dólar = papel e nada mais.
"Tá bom", pode pensar o leitor, "afinal esta não passa duma questão de contabilidade, um mero aspecto financeiro".
Não, não é assim: a diferença entre um sistema baseado na convertibilidade e um sistema sem a convertibilidade tem implicações extremamente profundas: tão profundas que abalam os alicerces da nossa sociedade e põem em discussão o nosso papel enquanto cidadãos.
Exagerado? Vamos em frente.
Salários de papel
Se uma moeda perder a convertibilidade, como vimos, deixa de representar a real riqueza, o ouro. De facto, deixa de representar qualquer coisa: num sistema sem convertibilidade a moeda torna-se a real riqueza.
Mais moedas? Mais riqueza. Menos moedas? Menos riqueza.
Mas será mesmo assim? Não, não é assim. Esta é a versão que os Estados querem transmitir. A verdade é bem diferente.
Se a moeda fosse a verdadeira riqueza, seria suficiente que um Estado tivesse os cofres cheios de notas para ser um Estado rico. Mas ainda hoje, a riqueza dum Estado é calculada com base na reserva áurea, isso é, na quantia de ouro que efectivamente detém.
Mais ouro? Mais riqueza. Menos ouro? Menos riqueza.
Mas então a moeda, as notas, quanto valem? Resposta: nada.
Esta é uma das realidades que bancos e Estados não querem divulgar.
Até 1971, cada trabalhador era pago com notas que representavam uma riqueza real, mantida nos cofres dos Estados. No final do mês, o trabalhador recebia como salário uma pequena percentagem da riqueza do próprio País, pois cada nota representava uma riqueza real.
Depois de 1971, cada trabalhador recebe papel, que já não representa nada, ao não ser o papel da qual a nota é feita. Hoje trabalhamos e no final do mês somos "premiados" com papel.
Acham isso um factor secundários? Se o leitor pensar isso, então tente responder à seguinte pergunta: para onde foi todo o ouro, a verdadeira riqueza?
Mas disso vamos falar mais à frente. Por enquanto vamos ver um dos outros efeito da perda da convertibilidade.
A Res Publica
Um salto atrás.
O termo "República" deriva do Latim Res Publica, isso é, "coisa pública, de todos". É uma ideia bastante antiga que remonta aos tempos dos Gregos clássicos, pois foram eles os primeiros a utilizar o conceito.
Passados mais de 2.000 anos, hoje a maioria dos Países são Repúblicas e mesmo os Estados de tipo monárquico têm constituições que permitem a decisiva participação dos povos nas decisões do próprio País.
Uma maravilha, não é?
Agora, pensamos nisso: numa República, o Estado gere a res publica, isso é, a coisa pública, de todos. Como a riqueza, por exemplo.
De facto, um dos deveres de qualquer Estado é a administração dos recursos de todos os cidadãos para o fornecimento de serviços em favor de todos os cidadãos.
Mas se o Estado deixar de gerir tas recursos? Se o Estado deixar de administrar a real riqueza dos cidadãos? Se o Estado começar a utilizar uma outra fonte de riqueza, não criada pelos cidadãos? E se os cidadãos não estiverem devidamente informados acerca da real situação? Podemos ainda falar em res publica?
Vamos ainda mais em frente: se o Estado criar dinheiro a partir do nada?
Dinheiro do nada
Pois é isso que acontece. Os últimos Quantitative Easing da Federal Reserve foram exactamente isso: centenas de milhões de Dólares criados a partir do nada, literalmente.
O que a Federal Reserve fez foi ligar as impressoras, deixar secar a tinta, e pronto, eis criados rios de notas: quanto ouro representa cada nota assim criada? Zero. Só papel.
Mesmo sistema utilizado na mesma altura pela Bank of England, pelo Bank of Japan, pelo Banco Central Europeu.
Todas notas criadas a partir do nada e distribuídas nos vários Países. Que, desta forma, aceitam, utilizam e fazem utilizar dinheiro que não pode representar a real riqueza do País: representam outra coisa.
Mas que coisa?
Não vamos responder a esta pergunta já. O que interessa agora é o seguinte: um Estado que aceita, utiliza e faz utilizar pelos próprios cidadãos uma riqueza que riqueza não é, pode ainda ser considerado uma República?
Vimos que as notas são imprimidas a partir do nada, não representam riqueza.
Mas nós trabalhamos: então para onde foi a real riqueza produzida pelos cidadãos? Onde está a res publica?
O perigo inflação
Um passo atrás, outra vez.
Após 1971, os Estados ficaram numa situação muito particular: pela primeira vez na história do homem, era possível criar dinheiro de forma totalmente independente da riqueza realmente possuída (o ouro).
É claro, não se pode ligar a impressora e começar a distribuir notas como se nada fosse. As operações de Quantitative Easing têm custos: quantas mais notas houver em circulação, tanto menor será o valor atribuído a cada nota. Isso tem um nome: inflação.
A Federal Reserve e os outros bancos, ao utilizar este sistema, criaram as bases para uma futura vaga inflacionária. Que não acaso começa a surgir. Não há maneira de evitar esta que é uma lei básica da economia e não só.
Por isso, não podemos imaginar Estados que a partir de 1971 começassem a imprimir notas e a distribui-las aos cidadãos de graça.
Cada cidadão teria ficado com quantias enormes de dinheiro, teoricamente ilimitadas: mas teria sido uma falsa riqueza e, sobretudo, de breve duração. Logo os preços teriam começado a subir de forma vertiginosa e a alegada vantagem de ter muitas notas teria sido compensada pela subida dos preços.
É uma situação que já aconteceu: na Alemanha dos anos '20, por exemplo.
Para pagar as dívidas da Primeira Guerra Mundial, o Estado começou a imprimir notas sem ter em conta a real riqueza em ouro; desta forma as dívidas foram pagas, mas o País entrou numa fase de hiper-inflação.
Os preços subiram de forma exponencial e o Estado teve que imprimir notas com valores cada vez mais elevados para permitir que os cidadãos tivessem notas suficientes para efectuar compras. Foram imprimidas até notas com o valor de 100.000.000.000.000 Marcos. De facto, a economia colapsou.
Outros exemplos de hiper-inflação tiveram lugar em alguns Países da América do Sul nos anos '90 e actualmente o Zimbabwe apresenta uma taxa de inflação de 231.000.000% .
Por isso, imprimir dinheiro sem cuidado é uma medida que não faz sentido.
O Estado como família
Todavia pensamos no seguinte: se o Estado deixar de limitar a emissão de dinheiro consoante a quantia de real riqueza possuída (o ouro), então isso significa que o Estado terá oportunidade de empregar mais dinheiro em bens a favor dos cidadãos. Não de forma descontrolada (perigo inflação), mas de maneira cuidadosa e rentável.
Com o passar do tempo, os investimentos (na educação, na saúde, na formação, nas infraestruturas) começarão a devolver os capitais investidos e com os interesses também.
Com o passar das gerações, os Países poderiam ter-se tornado algo de muito diferente, no sentido melhor.
O caso de Portugal, por exemplo.
O País é obrigado a mendigar dinheiro no mercado dos investimentos, pagando juros altíssimos.
Mas porquê? Porque Portugal não imprime as próprias notas e, sem cair nos erros da hiper-inflação, não alivia assim a situação?
Porque, é explicado, o Estado é como uma família: não pode gastar mais do que ganha. Portugal produz e ganha pouco, por isso pode gastar pouco. Se gastar mais, então são precisos cortes. O mesmo, naturalmente, acontece com todos os Países em dificuldades, começando com os PIGS europeus.
O raciocínio é perfeito, não é possível encontrar falhas. Não acaso é dito e repetido inúmeras vezes.
Bom, se calhar uma falha existe; pequena, mas existe: Portugal e os outros Países não gastam a riqueza que produzem.
Uma vez, com a convertibilidade nota-ouro, era assim de facto (nota: em boa verdade, um País com moeda própria pode gastar até o infinito, sem limites de deficit: mas aqui o discurso é mais complexo e afastado do tema principal) . Mas já não é: como vimos, a moeda já está totalmente "desligada" da verdadeira riqueza, que continua a ser o ouro.
Estes Países gastam outras coisas: simulacros de riqueza, isso é, dinheiro que já não está relacionado com algum valor; dinheiro que pode ser criado a partir do nada; dinheiro que vale nada.
Perguntas
Chegou a altura de fazer algumas perguntas, não é?
Se o Estado pode imprimir dinheiro a partir do nada, como pode o Estado queixar-se do facto de ter pouco dinheiro?
Se o Estado pode imprimir dinheiro a partir do nada, como pode ter dívidas?
Porque o Estado corta os salários, os serviços, os investimentos se o que falta afinal é uma coisa que pode ser imprimida a partir do nada?
Porque o Estado não imprime e investe dinheiro (de forma cautelosa) para criar trabalho e aumentar o nível de vida dos próprios cidadãos?
Se o Estado deixou de desenvolver o próprio papel "republicano", o que é hoje?
Porque o Estado não diz aos cidadãos que o dinheiro utilizado já não é a real riqueza produzida com o trabalho?
Que aconteceu com a verdadeira riqueza, o ouro? Onde está, quem ficou com ele?
Boas perguntas.
E na segunda parte do artigo vamos procurar as respostas.
Ipse dixit.
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