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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, agosto 25, 2011

O soldado que humilhou o Império

Legendário general vietnamita VÕ NGUYÊN GIAP faz cem anos
O general vietnamita Võ Nguyên Giáp completa 100 anos neste dia 25 de agosto. Filho de camponeses e ex-professor de História, ele se tornaria um dos maiores gênios militares de todos os tempos ao liderar seus compatriotas em guerras contra os franceses e depois os americanos – sem falar nas derrotas que ele impôs aos chineses e cambojanos em 1979.
Sua carreira militar começa em 1939, quando Giáp foge com Ho Chi Minh para a China para participar de treinamento guerrilheiro. Quang Thai, sua mulher tailandesa e também comumista, é presa no Vietnã em 1943 pela Segunda Seção da Sûreté, braço do serviço secreto francês encarregado de reprimir os revolucionários, sendo torturada até a morte.
Ho Chi Minh
No início dos anos 1940, Giáp atua como conselheiro de Ho em operações de guerrilha. À época, o Vietnã e a China estavam sob ocupação japonesa. Em 1941, Giáp participa da fundação da Liga Vietnamita para a Independência (Viet Minh). Quando os japoneses se rendem em 1945, Ho Chi Minh, declara a independência do Vietnã em Hanói. Giáp é nomeado Ministro da Defesa e comandante do Exército. Mas em 1947 a França reocupa a Indochina e os comunistas se internam na selva, iniciando uma guerra de guerrilhas que se estenderá até 1954.
Vitória vietnamita em Diên Biên Phú, 1954
A batalha final contra os franceses ocorre na fortaleza de Diên Biên Phú, em 1954. Os franceses, superiores em homens e armas, deslocam tropas paraquedistas da Legião Estrangeira atrás das posições inimigas, concentrando-as em grandes linhas ao redor da fortaleza para forçar os vietnamitas a um confronto direto. Giáp monta uma operação de cerco mobilizando milhares de civis que, por dentro das picadas da floresta fechada, a pé ou com bicicletas, trazem todo o equipamento de artilharia necessário para contrabalançar o poderio francês.
Em decorrência da derrota francesa, o Vietnã é dividido, com o norte governado pelos comunistas liderados por Ho Chi Minh e o sul um governo vinculado aos Estados Unidos. Hanói organiza um movimento guerrilheiro no sul, o Vietcong, e os norte-americanos passam a dar apoio militar e financeiro ao governo sul-vietnamita. Os EUA acabam se envolvendo diretamente a partir de 1964 e chegam a enviar 500 mil soldados para lutar contra o Exército norte-vietnamita e o Vietcong.
Ofensiva norte-vietnamita do Tet, 1968
As forças lideradas por Giáp enfrentam o mais poderoso Exército da terra com uma desgastante guerra de guerrilhas. Na Ofensiva do Tet, em 1968, norte-vietnamitas e vietgongs chegam a combater nas ruas de Saigon, capital do Vietnã do Sul.
Os EUA perdem 58 mil sldados e os vietnamitas, 4 milhões, entre civis e militares. Os norte-americanos deixam o país em 1973; dois anos depois, os norte-vietnamitas derrubam o governo fantoche do general Van Thieu e unificam o país. Giáp se torna ministro da Defesa e brevemente primeiro-ministro.
Ele enfrentaria ainda dois outros países: em 1979, tropas vietnamitas invadem o Camboja e depõem o regime do Khmer Vermelho; em represália, a China invade o Vietnã, mas se retira “estrategicamente”.
Giáp retira-se das funções públicas em 1991. Ultimamente, o veterano líder militar abraçou causas ecológicas ao se tornar um crítico da mineiração de bauxita no país, alegando que estudos dos anso 1980 apontam essa exploração como ambientalmente danosa.
Quando ainda presidente, Lula e a ex-guerrilheira Dilma (ao fundo), levam o seu abraço ao legendário general que humilhou o Império.
No MilitânciaViva
*comtextolivre

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