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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, novembro 28, 2011

Caso Controlar ou é por isso que o PiG é PiG

No dia 18 último, o presidente do Metrô foi afastado pela Justiça por descumprimento de ordem judicial. O caso em questão guardava relação com a concorrência da linha 5 do Metrô e o prejuízo calculado para o Estado é de 4 bilhões de reais.
Na quinta-feira passada, o MP pediu o afastamento do prefeito Gilberto Kassab por conta de prejuízos calculados em 1 bilhão de reais aos cofres públicos na licitação do Controlar.
Na sexta, a Justiça determinou nova licitação e bloqueou os bens de Kassab.
Os jornais de hoje ignoram ambos os casos nas suas manchetes. Um já caiu no esquecimento (Metrô) e o outro virou nota de rodapé (Controlar).
Algumas pessoas acham forte a expressão PiG. Consideram-na inadequada por conta de condenar os veículos de imprensa por um papel que também é deles, o de fazer oposição.
De fato, seria exagerado se os veículos comerciais tratassem todos os lados envolvidos no noticiário político a partir dos mesmos critérios. Ou ao menos de critérios semelhantes.
Mas como isso está longe de acontecer, chamar os veículos comerciais de PiG não é exagero algum.
Aqui na Fórum, o Dennis de Oliveira já chamou à atenção para o poder das empresas que realizam a inspeção veicular em São Paulo neste post que acabou gerando este outro.
Kassab armou um esquema tão “perfeito” que inclusive se tornou modelo em outros estados, como no Rio Grande do Norte, onde foi fruto de uma operação policial (Sinal Fechado) que levou para a cadeia 14 pessoas.
Em São Paulo, a inspeção que começou a vigir em 2008 teve seu contrato assinado em 1996, doze anos antes. Ainda na gestão Maluf. Nada, absolutamente nada, tem prazo de validade tão longo. Concursos públicos, vestibulares etc, caducam em prazo muito mais exíguo. Por que um contrato assinado 12 anos antes foi resgatado sem que houvesse questionamento mídático algum?
Não é só questão de condescendência com o mal feito. Neste caso o buraco é mais embaixo. Nesta operação de captura do Estado por setores privados corruptos e corruptores a mídia comercial faz parte do esquema.
Já foi assim nas privatizações dos anos 90, quando nada era noticiado e nem denunciado.
O Caso Controlar e o do Metrô não vão ficar nas manchetes porque são os aliados dos donos dos veículos de comunicação que estão envolvidos nele. Tanto os grupos empresariais que operam o serviço, quanto os governantes que o organizam.
É por isso que o PiG é PiG.
*Blog do Rovai

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