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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, novembro 21, 2011

Niemeyer apresenta novos projetos


Niemeyer cria teatro para o Aterro e mostra novos projetos
Perto dos 104 anos, arquiteto apresenta novos planos na revista ‘Nosso caminho’
Luiz Fernando Vianna Leonardo Aversa / Leonardo Aversa
O arquiteto Oscar Niemeyer completa 104 anos Leonardo Aversa / Leonardo Aversa

RIO - Oscar Niemeyer completará 104 anos em 15 de dezembro. Avesso a comemorações, prevê receber amigos em seu escritório, em Copacabana, para o lançamento do 11 número de "Nosso Caminho", revista trimestral e trilíngue (português, espanhol e inglês) que criou e a que se dedica com especial carinho. A edição trará novos projetos do arquiteto, que continua passando as tardes fazendo os traços originais daqueles que levam sua assinatura.
p>Dentre as mais recentes criações está uma que provocará polêmica: o Teatro Musical Rio’s, um enorme espaço destinado a shows e musicais, situado no Parque do Flamengo, com uma cúpula que dialoga com as curvas do Pão de Açúcar. O projeto foi encomendado pelo Brasil Foodservice Group (BFG), que controla a rede de churrascarias Porcão, cuja unidade no parque continuará existindo ao lado do teatro no caso de ele ser mesmo construído. Idealizado pela urbanista Lota Macedo Soares, o parque feito sobre o Aterro do Flamengo é tombado pelo patrimônio público desde 1965. Isto significa que só pode passar por qualquer alteração se o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) autorizar.
Os planos de modificação da Marina da Glória visando aos Jogos Panamericanos de 2007, por exemplo, foram vetados porque dificultavam a vista do Pão de Açúcar. Em maio passado, o empresário Eike Batista conseguiu, mesmo sob protesto dos ambientalistas, ter aprovada sua reforma para a Marina, argumentando que muitas instalações ficarão no subsolo da edificação, poupando a paisagem.
O BFG ainda não quer falar sobre o teatro, pois está preparando a documentação necessária para apresentar seus planos ao Iphan e à Prefeitura do Rio, proprietária do terreno. Atendendo a pedido de seu cliente, o escritório de Niemeyer não comenta o projeto, que está na fase de estudos preliminares.
A obra prevê uma plateia de 2 mil lugares e um balcão com mais 500, além de camarotes. No térreo, um auditório para eventos e um salão de exposições. Na revista "Nosso Caminho", há um comentário de Niemeyer:
"Fiquei muito entusiasmado, desde o primeiro momento, em conceber um novo espaço destinado a espetáculos musicais. E logo me ocorreu uma solução capaz de provocar surpresa e atrair o público: uma cúpula magnífica a ser construída ao lado do restaurante, localizando-a em frente ao Pão de Açúcar."
Se vingar, o teatro será uma das principais obras do arquiteto na cidade, ao lado do Sambódromo e dos Cieps. Por sua natureza, o parentesco maior será com o Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
Quando pertencia aos irmãos gaúchos Mocelim, a rede Porcão travou uma disputa com o Garcia & Rodrigues pelo restaurante do Parque do Flamengo. Hoje, ambos pertencem ao BFG. Em 2012, será inaugurado um Porcão onde era o Garcia, que irá para outro endereço no Leblon.
Harmonia com a natureza
Outra novidade é o projeto de uma casa em Londres, pensada para ser um exemplo de beleza e convivência harmônica com a natureza sob a ótica da arquitetura modernista. A encomenda foi feita por Julia Peyton-Jones, diretora da Serpetine Gallery — que já pedira a Niemeyer um pavilhão em 2003, montado no Hyde Park. A obra deve acontecer em 2012, e o projeto guarda afinidade com a Casa das Canoas, criada em 1952 para ele mesmo morar.
— São duas residências que foram projetadas com extremo apuro, de modo a sublinhar a leveza de suas formas e o modo singular de integração com a natureza — diz Niemeyer, em resposta enviada por escrito.
Em agosto, começaram as obras da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu. A primeira etapa vai até o fim de 2013. A instituição quer iniciar em seguida a fase final.
— Será um espaço onde alunos e professores de distintas nacionalidades poderão realizar trocas sociais significativas — acredita Niemeyer.
Na nova "Nosso Caminho", o arquiteto lembra o amigo Vinicius de Moraes no texto "Num teatro em Paris" — "como era bom e afetuoso este velho companheiro, a nos contar, animado, sua vida cheia de alegrias e flores!". Em depoimentos à jornalista Regina Zappa, o compositor Edu Lobo e o cineasta Miguel Faria Jr. também recordam o poeta. Ainda há um texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano, "Haiti, país ocupado".
Sobre a chegada dos 104 anos, Niemeyer procura não torná-la especial:
— O futuro se revela problemático e incerto para todos nós. A vida é um sopro, não canso de repetir. O que ainda nos conforta é ter a nosso lado uma mulher, uma boa companheira (Vera). O resto, conforme já confessei a amigos de "O Pasquim", seja o que Deus quiser...
*LuisNassif

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