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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, novembro 21, 2011

O que prova que realmente o uso do cachimbo pode entortar a boca.

O erro de Pondé

As participações de Luiz Felipe Pondé me incomodam da mesma maneira que as participações do historiador Marco Villa. Não chega a ser um grande incômodo, mas confesso que o tom de censura e militância cria uma espécie de freio emocional.
Hoje, Pondé me dá argumentos racionais ao sentimento. No seu artigo "O erro de Foucault", publicado na Folha (leia abaixo), começa sintomaticamente denunciando o apoio que Michel Foucault teria dado á revolução iraniana no final de sua vida e avança sobre a ocupação da reitoria da USP pelos estudantes. A ponte entre Foucault e os estudantes da USP não é ingênua. Foucault ficou conhecido por protagonizar seminários famosos durante as barricadas de Maio de 68, em Paris.
Qualquer um tem direito de discordar das teorias libertárias ou da esquerda. Mas é preciso se conter ou se joga a água com o bebê juntos, ou seja, elimina-se a boa relação democrática entre contrários. Pondé caiu nesta vala no artigo de hoje. Termina o artigo assim:
Proponho que da próxima vez que os indignados sem causa ocuparem a faculdade de filosofia da USP (ou fefeleche, nome horrível) que sejam trancados lá até que descubram que não são donos do mundo e que a USP (sou egresso da faculdade de filosofia da USP) não é o quintal de seus delírios.
Não é possível que alguém que pretensamente esteja defendendo a democracia e a ordem brinque desta maneira num artigo publicado no maior jornal do país. O artigo não fica apenas nesta frase. É uma "rodada de baiana" no estilo "Cansei".
O que prova que realmente o uso do cachimbo pode entortar a boca.

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