Agora é Safatle quem enfrenta a “desfaçatez” do Cae
Chegou a vez de outro respeitado intelectual se ver na contingência de desnudar o astro Global
Depois de o Roberto Schwarz desnudar a “desfaçatez camaleônica” do Caetano Veloso, chegou a vez de outro respeitado intelectual se ver na contingência de desnudar o astro Global.
Será o “Grande Pensador” um dos “comentaristas fixos” do programa da Fátima?
Saiu na pág. 2 da Folha, onde Vladimir Safatle não se deixa contaminar:
Indiferença
No último domingo, Caetano Veloso escreveu uma crítica em sua coluna de
“O Globo” a respeito de meu livro: “A Esquerda que Não Teme Dizer seu
Nome” (Três Estrelas, 88 págs.). Sua crítica me fez perceber que talvez
não tenha me expressado com suficiente clareza a respeito de posições
que considero fundamentais.
Por isso, peço a permissão dos leitores para falar na primeira pessoa e voltar a certos pontos que escrevi.
O livro visa defender duas posições maiores para a esquerda: o
igualitarismo e a centralidade da soberania popular. Caetano critica
minha maneira de defender o igualitarismo, vendo nisso um arcaísmo. Para
ele, tal igualitarismo não seria muito diferente do tom opressivo da
esquerda “indiferente” e “universalista” de sua juventude. Esquerda para
quem questões de raça, sexo, nacionalidade e estética eram
diversionismo que nos desviariam da revolução.
Caetano lembra, com razão, de como Salvador Allende não mexeu em leis
que criminalizavam o homossexualismo e impediam o divórcio.
Longe de mim querer diminuir a importância dos apelos de modernização
social embutidos em demandas de reconhecimento da diversidade de hábitos
e culturas. Estas são questões maiores, por tocarem diretamente a vida
dos indivíduos em sua singularidade. Não se trata de voltar aquém das
políticas das diferenças e de defesa das minorias. Trata-se de tentar ir
além.
Quando afirmo que devemos ser indiferentes à diferença é por defender
que a vida social deve alcançar um estágio no qual a diferença do outro
me é indiferente. Ou seja, a diversidade social, com sua plasticidade
mutante, deve ser acolhida em uma calma indiferença. Que para alcançar
tal estágio devamos passar por processos de abertura da vida social à
multiplicidade, como as leis de discriminação positiva. Isso não muda o
fato de não querermos uma sociedade onde os sujeitos se atomizem em
identidades estanques e defensivas. Queremos uma política
pós-identitária, radicalmente aberta à alteridade.
Um exemplo: discute-se hoje o direito (a meu ver, indiscutível) de
homossexuais se casarem. Mas por que não ir além e afirmar que o
ordenamento jurídico deve ser indiferente ao problema do casamento?
“Indiferença” significa, aqui, não querer legislar sobre as diferenças.
Ou seja, por que não simplesmente abolir as leis que procuram legislar
sobre a forma do casamento e das famílias, permitindo que os arranjos
afetivos singulares entre sujeitos autônomos sejam reconhecidos? Não
creio que isso seja arcaísmo, mas o verdadeiro universalismo.
Por fim, Caetano diz que tenho “cabeça de concreto armado”. Gosto da
ideia. Niemeyer nos mostrou como se pode fazer curvas e formas
inesperadas com o concreto armado.
*comtextolivre
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