JB não pode acusar impunemente um colega de fazer chicana.
Caluniado em praça pública |
O outro caminho, que quase se realizou segundo relatos de quem
presenciou a continuação privada do bate-boca público, seria
desferir-lhe uma bofetada.
JB avançou todos os limites da decência ao dizer que Lewandowski estava
fazendo “chicana”, um jargão baixo para designar expedientes que
protelam a justiça.
Deixemos aos estudiosos da mente as razões da raiva ressentida que JB
parece nutrir por Lewandowski, algo que dá a impressão de ir muito além
das divergências sobre o Mensalão.
Do ponto de vista legal, Lewandowski não estava fazendo nada além do que deveria: rever um caso.
Barbosa queria rapidez, tanto quanto foi possível entender. Mas não
estamos falando em velocidade, mas em justiça. De resto, ele próprio não
se notabiliza pela lepidez: vem atrasando miseravelmente processos
como o que pode ajudar a causa dos desprotegidos aposentados da Varig e
da Transbrasil.
Pouco tempo atrás, um site de Santa Catarina noticiou uma palestra que
JB deu a empresários locais. Nos comentários, um aposentado da Varig
lembrou que o ministro tinha coisas mais importantes a fazer do que
palestrar em Santa Catarina.
Outros embates entre os dois integrantes do STF ajudam a entender melhor este.
Um deles é exemplar.
Joaquim Barbosa, numa caipirice lancinante, anuncia que é leitor do New
York Times e, em inglês duvidoso, usa uma expressão de um artigo do
jornal para se referir à legislação brasileira: “laughable”. Risível.
Instala-se um certo desconforto, e ele então fala nos “pruridos
ultranacionalistas” de alguns integrantes do Supremo. Ele, um
cosmopolita, pausa para risadas, parecia imaginar estar dando uma lição
de direito internacional aos pares.
Risível é, já que estamos falando do direito americano, o julgamento de
Bradley Manning. Ou a legislação que permite à Casa Branca espionar
até o seu email ou o meu, como mostrou Snowden.
Para voltarmos ao STF, risível é citar o New York Times – e em inglês – naquelas circunstâncias.
Naquele entrevero, Barbosa criticava a legislação por ser,
supostamente, leniente. Ele claramente queria muito tempo de prisão para
os réus. Anos, talvez décadas.
Lembraram a ele que na Noruega Breitvik recebera uma pena de 21 anos – a máxima lá – por ter matado dezenas de jovens.
JB engrolou alguma coisa não compreensível – laughable – sobre as particularidades dos países nórdicos.
Num certo momento, Lewandowski dá um xeque mate. “Estamos aqui para interpretar as leis, não para fazer leis”, diz ele.
Perfeito. Para fazer leis, você tem que receber votos e estar no Congresso.
JB parece não ter clareza nisso.
Na verdade, ele não parece ter clareza em quase nada. É,
essencialmente, confuso. Acha que tudo bem empregar um filho na Globo,
ser amigo de jornalistas, patrocinar viagem para repórteres exaltá-lo,
criar uma empresa de araque para comprar apartamento em Miami, essas
coisas todas.
E além de confuso pode ser agressivo, como se viu ontem no uso
desvairado da palavra “chicana”. E como já se vira antes em diversas
ocasiões, como uma em que teceu críticas num tom professoral – e
laughable — aos partidos políticos.
Joaquim Barbosa é, hoje, um problema nacional. O desafio do Supremo é minimizar este problema.
Veremos, nos próximos dias, como o Supremo se sai neste desafio.
Um bom primeiro passo seria Lewandowski processar JB pela calúnia de ontem.
Paulo Nogueira
No DCM*comtextolivre
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