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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, agosto 24, 2013

Licença Paternidade e Maternidade: uma igualdade que o feminismo defende

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Licença Paternidade e Maternidade: uma igualdade que o feminismo defende

Fernando Azevedo - Causas Perdidas

Já começo o post ratificando uma informação sobre a qual muitos leigos quanto ao que é o feminismo se confundem: o inverso do machismo não é o feminismo. Trata-se, na verdade, de uma questão até linguística. O contrário de “macho”, um substantivo, não é o adjetivo “feminino”, mas sim o substantivo “fêmea”. Portanto, o outro lado do machismo é o “femismo”, no caso, uma ideologia não tão difundida que prega que a mulher é superior ao homem e dá a ela direitos que o homem não tem.
Muitas vezes, tenho o desejo pessoal de que certas mulheres que se dizem feministas lembrem-se disso também: o feminismo se trata de igualdade, não superioridade. Trata-se de uma luta por justiça, não de uma disputa entre dois extremos, uma medição de forças carregadas de radicalismo e desrespeito.
Enfim, a luta pelas licenças maternidade e paternidade igualitárias é um tópico que lembra muito que o feminismo está aí como uma luta por igualdade (teoricamente falando, ao menos). Qual a proposta desse tópico?
Atualmente, toda mãe tem direito assegurado pela CLT a quatro meses de afastamento. Em algumas situações, pode haver a Licença Amamentação, que dá um horário para a mulher amamentar seu filho. O homem, entretanto, recebe míseros cinco dias de licença.
A impressão deixada por esse quadro é óbvia e se trata de um dos grandes estereótipos combatidos pelo feminismo: a mulher é a criatura que cuida dos filhos, em casa, enquanto o homem é a parte que sustenta financeiramente o lar.
Antigamente, talvez, essa até pudesse ser uma proposta válida e inquestionável, mas hoje o número de mulheres que trabalham e se dedicam a essa atividade tanto quanto os homens cresce de forma inquestionável, balanceando o conceito padronizado de núcleo familiar.
“Ah, tá, cara, você está certo. Pode até ser que a mulher trabalhe tanto quanto o homem. Mas, biologicamente, ela precisa desse tempo. Afinal, o bebê saiu do corpo dela, não do homem. Ela precisa desse tempo para se recuperar, para amamentar e tudo o mais.”
Devo concordar com a parte biológica do contra-argumento, de fato. Mas então eu coloco outra situação hipotética: a mulher acaba de sair do hospital, onde teve parto normal ou cesariana. De qualquer forma, seu corpo não é mais o mesmo. Seus seios estão inchados, seu organismo lentamente se reajusta para não abrigar mais criança alguma e, lógico, ela tem que amamentar. E ela tem o marido para ajudá-la durante cinco dias. Depois, ela tem que lidar com o corpo, com a amamentação do bebê, seus choros, suas fraldas, sua saúde, tudo sozinha. Sim, ela conta com familiares e amigos, mas não seria justamente este o momento indispensável para a presença do homem que, afinal, pode não ter ficado grávido, mas é tão pai da criança quanto a mulher?
Eis que entra a licença paternidade igualitária, e ela é proposta de duas maneiras. Primeira: as duas licenças são longas, de mesma duração e simultâneas. É um período bom para que pai e mãe atuem na manutenção dos primeiros dias de vida da criança em conjunto. Na segunda, as duas licenças ocorreriam uma depois da outra. A primeira seria a materna, em função da restituição física da mãe e da sagrada amamentação. A segunda seria a paterna, em que o pai teria as mesmas chances de cuidar da criança. Estrategicamente, sou favorável à segunda opção, mas, para núcleos familiares que não contam com o auxílio de terceiros para cuidar da criança, a primeira opção pode ser melhor.
familia de sextuplos
Porém a questão não se limita aos cuidados do bebê, apesar de ser o cerne da coisa. Há outras implicações na existência da licença maternidade.
Vamos a uma entrevista de emprego. Já podemos imaginar a sala branca, os móveis executivos e aquele entrevistador com rosto sorridente, mas olhos duros do outro lado. “Sinta-se a vontade, mas não tanto assim”, eles dizem. OK.
Você é homem e ele pergunta se você tem planos de ser pai. Diz que sim, e isso é bom. Significa que você não tem receio de responsabilidade e, em algum momento, terá uma boca a mais para alimentar, o que o fará pensar muito mais vezes antes de sair da empresa. Ele não pensa que você poderia não ter tempo de cuidar do filho e sairia do emprego. Ninguém pensaria. Homem de verdade não faz isso.
Agora, você é mulher. O entrevistador pergunta se você deseja ter filhos e você diz que sim. Péssimo. Em algum momento vai ter que tirar licença maternidade e nenhum empresário quer ter desfalque de funcionário à toa. E a mulher é que cuida do filho, então ela pode se ver sem tempo e, de repente, sair da empresa. Péssimo, péssimo.
Agora é outra coisa se a mulher for solteira. Ninguém supõe que uma mulher solteira tenha tanta liberdade sexual assim para engravidar de repente. E ela provavelmente não terá planos de ter filhos.
“Ah, então saquei! Viu, mais uma vez, as feministas estão pensando no próprio umbigo e só querem igualdade nisso para ferrar com nós, homens, também. E eu aqui achando que elas queriam nosso bem também.”
Como homem, digo que não é tão legal assim ter uma desvantagem durante uma entrevista. Imagina se você quer ter filhos e a licença paternidade existe: você não pode confessar isso numa entrevista. Ou confessa e corre o risco de não ser escolhido. Porém, pense que atualmente inúmeras mulheres sofrem por causa disso. Não é injusto que elas tenham que suportar essa pressão enquanto nós não? Sim, é! Num mundo ideal, as empresas não fariam isso, mas estamos distantes de estar num mundo ideal.
Por isso, sim. A licença paternidade traz para os homens uma vantagem: ficar com a criança, poder exercer seu título de pai com mais do que “colocar dinheiro na casa”. Traz também sua desvantagem: sofrer algum tipo de preconceito, em âmbito profissional, por querer ser pai. Entretanto, a igualdade não é representada por uma balança por motivos meramente estéticos. Para se trazer o balanceamento, é necessário o compartilhamento do peso em ambos os braços da balança social.
E você, leitor, o que acharia de ter licença paternidade ou um marido que pudesse compartilhar as responsabilidades de cuidar de um bebê?
Lembrando que este post foi inspirado no inteligente “Coisas que as feministas defendem e você não sabia: licença paternidade e maternidade igualitárias”, da Cíntia em seu site cintiacosta.com. Não deixe de dar uma conferida no site dela.
*Mariadapenhaneles

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