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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, agosto 30, 2013

Livro conta tramóia da reeleição tucana



Palmério revela o Príncipe da Privataria: FHC pode olhar nos olhos do “Senhor X”?



“Olha, Fernando, quando você conversar comigo, por favor, nivele teus olhos aos meus” (quem foi o homem que acusava FHC de ser um príncipe esquivo e escorregadio?) “Rameira, ponha-se daqui para fora” (quem disse essa frase principesca, após um ataque de cólera dentro do Senado Federal?)

Rodrigo Vianna

Quem conhece a história recente do Brasil (e também o passado ‘republicano’ de nossas elites – com Convênio de Taubaté, Encilhamento etc…) sabe bem que o tal “mensalão do PT” está longe de ter sido o “maior escândalo da história política brasileira” – como pretendem augustos, mervais e outros quetais do jornalismo elitista. Mas quem ainda tinha dúvidas ganha, agora,  mais uma chance para desfazê-las: o novo livro do jornalista Palmério Dória.

Se Amaury Ribeiro Jr (com “A Privataria Tucana“) já havia lançado luzes sobre a vertente serrista do tucanismo, Palmério agora vai ao centro do esquema: “O Príncipe da Privataria” (Geração Editorial) traça, em quase 400 páginas de texto saboroso, o perfil de um homem vaidoso, simpático, com fama de mulherengo, e que dirigiu o Brasil com o propósito declarado de “enterrar a Era Vargas”. Fazia parte do pacote tucanista vender estatais a preços ridículos e, se fosse preciso, mudar as regras do jogo democrático usando todos os artifícios possíveis. FHC foi o presidente que fez o Real? Não. Este foi Itamar Franco. Mas FHC foi o presidente que quebrou o Brasil, vendeu nosso patrimônio público e transformou o Congresso Nacional numa feira de mascates.

Esse é o ponto alto do livro: a feira da reeleição. Em 1997, o repórter Fernando Rodrigues produzira uma série de reportagens históricas publicadas pela “Folha de S. Paulo”: nelas, um certo “senhor X” apresentava gravações de reuniões em que deputados federais falavam abertamente sobre a venda de votos para aprovar a reeleição de Fernando Henrique no Congresso. O preço do voto: 200 mil reais.

O “senhor X” entregou as gravações ao Fernando Rodrigues, mas jamais mostrou o rosto. Palmério Dória agora mostra quem é o “senhor X”. Ele tem nome, sobrenome e 16 anos depois dos fatos aceitou dar entrevista de peito aberto. Narciso Mendes, 67 anos, é empresário no Acre, e na época da reeleição de FHC era deputado federal. Por isso tinha acesso às reuniões em que se deu a tramóia.

Narciso Mendes recebeu o jornalista Palmério Dória, e relembrou toda a história – incluindo a forma como a base tucanista (no Congresso e na imprensa) conseguiu frear uma CPI para investigar a compra dos votos denunciada em 97:

“Nem Sérgio Motta queria CPI, nem FHC queria CPI, nem Luis Eduardo Magalhães queria CPI, ninguém queria porque sabiam que, estabelecida a CPI, o processo de impeachment ou no mínimo de anulação da emenda da reeleição teria vingado, pois seria comprovada a compra de votos“, disse Narciso a Palmério Dória.

O fim dessa história qual foi? CPI jamais foi instalada. O MPF jamais investigou nada.  Havia um relato escandaloso, com gravações e tudo: pelos menos seis deputados do Acre teriam vendido seus votos pela reeleição. A classe média indignada não moveu uma palha. Nada se fez…

Numa conversa recente entre Palmério Dória e alguns blogueiros sujos, um observador maldoso chegou a afirmar: “200 mil reais era o preço pelo voto acreano, imagine quanto não deve ter custado o voto de um deputado de São Paulo ou Minas para aprovar a reeleição?” Quanto? Quanto? Sergio Mota talvez pudesse esclarecer. Mas levou para o túmulo o segredo de polichinelo…

Nunca antes na história desse país, a não ser em ditadura, um presidente mudou as regras do jogo eleitoral de forma tão escandalosa. Um atentado contra a Democracia. Documentado. Como se sabe, FHC obteve o segundo mandato, quebrou o país, tentou vender todo o patrimônio público e – ao fim –  saiu do poder com o rabo entre as pernas. Nem Serra em 2002, nem Alckmin em 2006 tiveram coragem de defender o legado fernandista. Hoje, o ex-presidente tem coragem de sair por aí a dizer o que os tucanos devem ou não fazer na próxima eleição. Serra deve se remoer. Sabe bem quem é o ex-presidente que posa de príncipe de Higienópolis. Terminados os oito anos de FHC, o neoliberalismo estava em frangalhos na América Latina: Fujimori foi preso no Peru, Salinas exilado do México, Menem jogado no lixo da história argentina. FHC tinha virado um príncipe.  O livro de Palmério mostra que de príncipe ele tem muito pouco.

O livro também volta às privatizações, relembra a venda (ou doação?) da Vale, debruça-se sobre meandros e transações tenebrosas na telefonia…  Mas a obra não é uma coleção de fatos e notícias do octanato fernandista. Não. O jornalista costura a crônica política (e financeira) com o perfil privado do marido de Dona Ruth. Fofocas? Também não.

Por que o Brasil não ficou sabendo que FHC era apontado – já ao chegar ao poder – como pai de uma repórter da TV Globo? Que favores FHC ficou devendo à família Marinho (e ao grupo seleto de políticos que lhe deu ‘cobertura’ na história do filho) quando a Globo aceitou “exilar” a tal repórter num posto sem importância em Lisboa (e depois na Espanha)?

“Rameira, ponha-se daqui para fora”? Quem disse essa frase principesca, após um ataque de cólera dentro do Senado Federal?

“Olha, Fernando, quando você conversar comigo, por favor, nivele teus olhos aos meus.” Quem foi o homem que acusava FHC de ser um príncipe esquivo e escorregadio? 

Não são meros detalhes. Dezesseis anos depois de ter aparecido como “senhor X”, Narciso Mendes ressurge e confirma que a reeleição foi comprada. FHC pode “nivelar os olhos” e encarar Narciso de frente? Parece que não. E o Brasil, FHC pode encarar de frente? Leiam o livro do Palmério antes de dar a resposta definitiva.
*GilsonSampaio 

Palmério Dória revela a privataria e a compra da reeleição de FHC

Foi o acreano Narciso Mendes, hoje com 67 anos de idade, quem usou um gravador emprestado pelo repórter Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo, para comprovar que deputados federais de seu estado venderam os votos na aprovação da emenda constitucional que permitiu a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1997.
A revelação é feita no livro O Príncipe da Privataria, de Palmério Dória, que chega às livrarias hoje.
Em Brasília não era segredo o papel desempenhado por Narciso, à época deputado federal pelo Partido Progressista, de Paulo Maluf. Porém, pela primeira vez ele assume oficialmente o que fez.
Trecho do livro:
A compra dos votos para a reeleição, frisa Narciso, “se dava às escâncaras”. Seria “muita ingenuidade”, diz ele, considerar inverossímil que, no episódio da troca de cheques pré-datados por dinheiro vivo, os deputados saíssem carregando R$ 200 mil em sacolas. Afinal, em notas de R$ 100,00 seriam duas mil notas, ou o dobro se fossem notas de R$ 50,00. Duzentos pacotes de mil reais: volume considerável. “Tinha de ser em sacolas!”, diverte-se ele.
O que Narciso diz é que cheques foram antecipados e, posteriormente — depois da aprovação da emenda — trocados por dinheiro.
Dois deputados renunciaram antes de serem cassados pela Câmara, ao admitirem envolvimento na tramoia: Ronivon Santiago e João Maia. Outros três, igualmente da bancada acreana, também foram citados como tendo vendido o voto.
Na época, o PSDB atribuiu a manobra a interesses paroquiais, de governadores que também seriam beneficiados pela aprovação da emenda. Porém, o livro coloca a operação no colo de Sérgio Motta, então ministro das Comunicações e principal articulador de FHC junto ao Congresso Nacional.
Narciso, hoje empresário no Acre, é dono do jornal O Rio Branco e de uma retransmissora do SBT. Ele sustenta que se opôs à emenda que garantiu a reeleição a FHC por questões ideológicas. Não concordava que pudesse beneficiar quem a promovia.
Reproduzindo um trecho de A Arte da Política, livro de FHC, afirma: “Aqui diz Fernando Henrique Cardoso: Sérgio Motta indignou-se, queria logo uma CPI na ingenuidade de imaginar que, naquela circunstância, da CPI resultasse outra coisa diferente do que culpar o governo”.
Comenta:
“Nem Sérgio Motta queria CPI, nem Fernando Henrique queria CPI, nem Luís Eduardo Magalhães [líder do governo] queria CPI, ninguém queria, porque sabiam que, estabelecida a CPI, o processo de impeachment ou no mínimo de anulação da emenda da reeleição teria vingado, pois seria comprovada a compra de votos”.
Mas, quantos votos foram comprados para que FHC pudesse se reeleger?
Nos cálculos do senador Pedro Simon, citado no livro, 150. A 200 mil reais por cabeça, por baixo, R$ 300 milhões!
Narciso acha que foram mais. Nega que, como foi acusado por escrito por FHC, tenha tentado tumultuar a tramitação da emenda.
“Como é que um desgramado, do baixo clero, do Acre, tinha poderes para tumultuar a emenda da reeleição?”, afirma Narciso.
Também rebate a ideia de que o governador do Acre à época, Orleir Cameli, assim como outros dirigentes de estados do Norte, tivessem tomado a iniciativa de promover a emenda, como sugere FHC em seu livro.
 Uma mentira, diz Narciso, pois no Acre, por exemplo, Orleir Cameli não se candidatou à reeleição. Ademais, acrescenta, não foi “o pessoal do Norte” quem inventou a reeleição, muito menos a compra de votos. “Foi uma criação do  senhor Sérgio Motta e do senhor Fernando Henrique Cardoso”, reitera.
*****
O livro O Príncipe da Privataria é, na verdade, um balanço do entorno do homem que “vendeu o Brasil”. Uma denúncia menos na linha de Amaury Ribeiro Jr. e mais na de Aloysio Biondi e seu O Brasil Privatizado.
Um escândalo sobre o qual o Brasil pouco refletiu, já que a mídia corporativa se refere àquele como um período de ouro do país. É importante frisar que os principais grupos de mídia tiraram proveito direto dos negócios envolvidos na privatização.
Na Nota do Editor que abre o livro, Luiz Fernando Emediato pergunta: “onde estava, no reinado dos tucanos, o ministério público, o procurador geral da República, os Joaquim Barbosa daquele tempo? O chamado “mensalão” — tenha existido ou não — parece coisa de amadores diante do profissionalismo de empresários, burocratas e políticos daquele tempo. Nenhuma CPI. Nenhuma investigação que chegasse ao fim. Nenhuma denúncia capaz de levar a um processo e a uma condenação!”
Palmério Dória avança a tese de que Glauber Rocha, na década de 70, foi visionário ao dizer:
No Brasil, o gancho do Pentágono é o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que funciona em São Paulo. Fernando Henrique Cardoso é apenas um neocapitalista, um kennedyano, um entreguista.
Como a Central de Inteligência dos Estados Unidos deu dinheiro à Fundação Ford e esta ao Cebrap — na casa, especula Palmério, do milhão de dólares –, “o Cebrap recebeu dinheiro da CIA”.
Teria sido este o início da “inspiração” que levou FHC a adotar a agenda do consenso de Washington, que resultou na queima de R$ 100 bilhões em patrimônio público dos brasileiros.
O próprio autor fala abaixo sobre os principais destaques do livro:

*comtextolivre

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