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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, agosto 24, 2013

Porque cuidar da vida é tão simples




Os médicos cubanos estão chegando para tratar do povo que os brasileiros se recusaram a tratar: alvíssaras!

Enfim, caiu a ficha: palmas para Ela, que saiu de uma defensiva até compreensível e optou com coragem e determinação pelos milhões de brasileirinhos que nunca viram um médico na vida, mas que, apesar dos chiliques da direita reacionária, também são filhos de Deus.

Nenhum dos 371.788 profissionais  formados nas 200 faculdades conectadas à lucrativa indústria da doença vai ter como se sentir preterido. A todos indistintamente foi oferecida a oportunidade de exercer a medicina como nos bons tempos, quando o médico tinha paciência para ouvir o paciente e uma boa conversa era meio caminho andado.
A todos os médicos do mundo, e não são só aos brasileirões, foi oferecida uma remuneração três ou quatro vezes superior às duas SUS e dessas clínicas particulares vinculadas a planos de saúde, alem de casa, comida e roupa lavada.

Formados para depender de parafernálias

Mas poucos formados aqui podiam aventurar-se no escuro, por que o máximo que aprenderam foi prescrever exames e entupir pacientes (palavra sob medida) de remédios oferecidos por atuantes propagandistas (o genérico ainda não entrou no seu receituário), generosos em brindes, viagens e até remuneração pela prescrição dos medicamentos dos seus laboratórios. Veja reportagem da revista SUPER INTERESSANTE.

Quem sabe mesmo, nem plano de saúde aceita. Está ganhando muito bem no atendimento a uma elite que pode pagar R$ 500,00 por uma consulta para perder uns quilinhos, fazer plásticas à primeira ruga, e cuidar do embelezamento em dermatologistas estéticos.

Durante os últimos 100 dias, desde o primeiro encontro do chanceler brasileiro com o cubano, a mídia, sob todas as formas, foi bombardeada por personagens raivosos e lobistas insolentes, que tentaram de todos os meios, com baixarias de toda natureza demonizar os médicos cubanos.

Houve até quem garantisse que na ilha de tantos avanços no campo da saúde, reconhecidos no mundo inteiro principalmente pela insuspeita ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, só formavam 100 médicos por ano: os outros eram perigosos agentes comunistas desses que, não sendo como os padres de Boston, se dedicavam a comer criancinhas.

Cruzada juntou a ganância com intolerância

Aliaram-se nessa cruzada obscurantista conselhos de medicina que tiveram processos eleitorais em julho, e precisavam atrair aqueles que pagam quase R$ 600,00 compulsoriamente todos os anos para ter seus registros em dia; os donos do complexo industrial e de serviços que precisam cada vez mais do mercado de enfermos, paranoicos e aprendizes de hipocondríacos,  e os desesperados fascistas que não admitem como até hoje, decorridos 52 anos, a sua dourada potência militar imperialista não conseguiu derrubar a revolução cubana, ou assassinar Fidel Castro, nem mesmo quando se dedicou a uma guerra química na década de 70, despejando sobre a ilha o vírus da dengue hemorrágica importado da Ásia.

É uma aliança suja e mal lavada. Como já aconteceu em Tocantins e Roraima, não faz muito, esses médicos com formação nada mercantilista vão mostrar com a simplicidade e a responsabilidade de um missionário que  não vão precisar da parafernália de ressonâncias magnéticas para cuidar da saúde dos cidadãos.

Um pesadelo para a indústria das doenças

Basta que se despojem das tentações pecuniárias e organizem uma relação FAMILIAR com a vizinhança antes mesmo da ocorrência de enfermidades. Nessas cidades para onde irão, de tão pobres, não se depararão certamente com vítimas de motoristas aloprados e da violência urbana, principais causas de mortes no país.

A elite mercantilista mudou o tom do discurso e agora fala com a maior leviandade das relações de trabalho, embora ainda ameace ir à polícia contra o atendimento que os médicos brasileiros recusaram numa cruzada seletiva de exclusão de quem vive longe da praia e dos shoppings.  Essa turma sabe muito bem como funcionam convênios entre nações, da autonomia de cada uma, mas joga para a platéia e fala menos no revalida, por que soube de uma articulação para que faça o próprio dever de casa: a exigir dos outros, os conselhos de Medicina deveriam fazer o mesmo que a OAB, que obriga a "prova da ordem" para o bacharel advogar.

Se entre os advogados o índice de reprovação chega a 89%, imagine entre os recém-formados de Medicina de faculdades que mal garantem aulas teóricas (agora, estão usando até aulas on line). Essa possibilidade fez murchar um pouco o discurso do revalida.

Sem "revalida" para pastores que curam


E o que dizer das práticas de curandeirismo das igrejas evangélicas? Todos os dias, em diversos horários, poderosas redes de televisão exibem curas feitas por Deus, através de pastores que nunca passaram perto de uma faculdade, em quem havia sido desenganado pelos médicos.  Não seria o caso do CFM pedir um revalida para os pastores que fazem curas em massa com o simples uso de um lenço ou de uma água milagrosa?

Faça-se uma estatística e a água benta dos pastores está "curando" mais do que a os médicos com sua tecnologia de ponta. Daí o crescimento vertiginoso das igrejas evangélicas, especialmente na periferia, onde os doutores não querem nem chegar perto.

Da mesma forma, os milhares de médicos decentes (e os não médicos) não entendem a indiferença desses conselhos diante de clínicas ilegais de aborto, de clínicas privadas de baixa qualidade, e desses atendimentos médicos em "serviços sociais" de políticos clientelistas. Expor as mazelas da rede pública, isso eles fazem diariamente. Mas as privadas parecem gozarem de uma estranha imunidade, embora o exercício da medicina afete a todos.

O desmascaramento da lenda dos fugitivos

Enquanto o Brasil já gastou U$ 2 bilhões com soldados
no Haiti, Cuba mandou um exército de 1200 médicos, o
que nenhum outro país do mundo fez,  nem os EUA.

Por outro lado, vai ser vexaminoso para os arautos da direita desta sociedade fissurada em grana continuar repetindo surradas aleivosias, como aquela de que o maior desejo de  todo cubano é fugir para o mundo consumista. Alegam para os incautos e idiotas que esses médicos são verdadeiros escravos: só falta forjarem "fotos" de médicos cubanos acorrentados. Esses "escravos" já salvaram vidas em mais de 100 países, de onde voltam orgulhosos para a ilha rebelde.

Na verdade,  toda essa turma doentia está morrendo de medo do entrosamento dos médicos cubanos com as populações pobres, como aconteceu em Mucajaí, a 60 km de Boa Vista, Roraima, onde o médico cubano Josué Jesus Matos casou-se com uma brasileira, naturalizou-se e acabou eleito prefeito da cidade pelo inexpressivo PSL, derrotando o candidato do PMDB, que tentava a reeleição.  

A menos que esses defensores da medicina de mercado consigam tumultuar um programa que se configura o pagamento de uma grande dívida com as populações pobres - esse perrengue atinge também os moradores das grandes cidades que não acham médicos nos postos quando precisam - vamos ver uma mudança real nas condições de saúde dessas populações, onde hoje é comum crianças morrerem até de diarreias.

Aí, com certeza, poderá vingar finalmente no Brasil o programa do médico de família, implantado como uma caricatura em muitas cidades, devido à mentalidade curativa de conveniência da medicina de mercado.
*GilsonSampaio

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