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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, agosto 16, 2013

Que necessidade tem Jesus Cristo de tantas virgens loucas? Diderot no cinema: "A Religiosa"




por Paulo Jonas de Lima Piva

Lemos na página 130 de A Religiosa, de Denis Diderot (1713-1784), na tradução de J. Guinsburg, da  editora Perspectiva, um ataque fulminante à estupidez da vida monástica católica. É um religioso que fala:

"Os conventos são, pois, tão essenciais à constituição de um Estado? Jesus Cristo instituiu monges e religiosas? A Igreja não pode absolutamente passar sem eles? Que necessidade tem o esposo de tantas virgens loucas e a espécie humana de tantas vítimas? Não se sentirá jamais a necessidade de estreitar a abertura desses abismos em que as futuras raças vão se perder? Todas as preces de rotina que aí se fazem valem um óbulo que a comiseração dá a um pobre? Deus, que criou o homem sociável, aprova que ele se encerre? Deus, que o criou tão inconstante, tão frágil, pode autorizar a temeridade de seus votos? Esses votos, que ferem o pendor geral da natureza, podem eles ser jamais observados, a não ser por algumas criaturas mal organizadas, em que os germes da paixão murcharam e que a gente alinharia, com toda a razão entre os monstros, se nossas luzes nos permitissem conhecer tão facilmente e tão bem a estrutura interior do homem quanto sua forma exterior? (...) Onde é que a natureza, revoltada ante uma coerção para a qual ela não foi de modo algum feita, rompe os obstáculos que lhe são opostos, torna-se furiosa, joga a economia animal em uma desordem para a qual não há mais remédio?".

Abaixo, o trailer legendado de uma segunda versão do romance para o cinema:


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