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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, abril 17, 2014

DECEPÇÃO POPULAR NA UE - ITALIANOS E FRANCESES PROTESTAM CONTRA A POLÍTICAS DE AUSTERIDADE

Dura ação  contra mulheres que se manifestavam na decadente Roma
Premiê da Itália, Renzi, e presidente da França, Hollande, enfrentam crítica popular. Ambas manifestações contra cortes orçamentários e reformas começaram pacíficas, mas passeata de Roma acabou com dezenas de feridos.

Dezenas de milhares protestaram em Roma e Paris neste fim de semana contra a política de austeridade dos respectivos governos nacionais. Enquanto os protestos na capital francesa transcorreram pacificamente, diante do Ministério da Economia italiano a polícia e os manifestantes travaram confrontos violentos nas ruas.
Os participantes da passeata da tarde de sábado (12/04), no centro de Roma, criticavam as reformas anunciadas pelo primeiro-ministro Matteo Renzi. Segundo as autoridades locais, pelo menos 30 pessoas ficaram feridas, entre as quais 20 agentes de segurança. Um rapaz sofreu ferimentos graves quando um morteiro explodiu em sua mão.
Os protestos começaram pacíficos, apesar de ovos e laranjas serem atirados contra o ministério. A escalada de violência ocorreu depois que manifestantes mascarados atacaram os policiais com garrafas, pedras e fogos de artifício. Os agentes responderam com gás lacrimogêneo e cassetetes, prendendo seis manifestantes.
O ministro italiano do Interior, Angelino Alfano, elogiou a ação policial e condenou a violência. O prefeito de Roma, Ignazio Marino, lembrou que "o direito de protestar, sobretudo em relação a temas tão importantes e atuais, não pode descambar para a violência".
Renzi, na chefia do governo da Itália desde 22 de fevereiro, planeja uma série de medidas de austeridade e reformas do mercado de trabalho que incluem um afrouxamento dos mecanismos de proteção do emprego. Na última semana, o governo em Roma definiu reduções e cortes de gastos que somam vários bilhões de euros.
Protestos pacíficos em Paris: "Quem é socialista está do lado dos salários"
Franceses contra o estúpido Hollande
 
Cortes bilionários planejados pelo governo também motivaram passeata em Paris. O presidente François Hollande e o novo premiê, Manuel Valls, ambos socialistas, pretendem reduzir os gastos públicos em 50 bilhões de euros até 2017.
Segundo os organizadores da manifestação, que haviam convocado os comunistas, sindicalistas e partidos radicais de esquerda para participar, 100 mil pessoas foram às ruas da capital da França. As estimativas da polícia falam de 25 mil participantes. Estes traziam faixas com dizeres como "Hollande, chega!" e "Contra a política de austeridade, pela distribuição da riqueza".

O índice de popularidade do chefe de Estado é de apenas 18%, a mais baixa desde sua eleição, em maio de 2012. O barômetro mensal Ifop – publicado pelo periódico Journal du Dimanche com base numa enquete representativa envolvendo 1.900 entrevistados – indica que Hollande é o presidente francês mais impopular desde a introdução no país da eleição por sufrágio universal, em 1958.
Em contrapartida, na mesma pesquisa, o primeiro-ministro Valls, que assumiu o cargo no início de abril, contou com 58% de opiniões favoráveis. Tal discrepância de 40 pontos percentuais entre a popularidade de um presidente da República e seu chefe de governo é um fato inédito na história da França.
AV/dpa/rtr

DW.DE


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