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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, abril 12, 2014

Duas CPIs empurram Alckmin a inferno astral

No momento em que mais precisa de tranquilidade, tudo o que o governador Geraldo Alckmin enxerga à sua volta é pressão política contra sua gestão. Na Assembleia Legislativa, onde jamais perdeu uma votação importante, o tucano experimentou na quarta-feira 9 o que parecia ser impossível. A partir de uma iniciativa do PT, deputados da base governista de Alckmin resolveram mandar um recado ao Palácio dos Bandeirantes na forma da aprovação da chamada CPI dos Pedágios. Nela, a intenção é investigar o principal pilar da gestão tucana no Estado, erguido pela excelência das estradas. O ponto fraco é, justamente, o preço cobrado pelas tarifas de pedágio, contra as quais há sempre farta oposição no público.
Registra-se nos meios políticos, além disso, que uma investigação neste setor é capaz de gerar insegurança entre as empreiteiras que operam as estradas paulistas, o que poderia fechar torneiras de financiamento de campanhas eleitorais. Os empresários, afinal, passam agora a correr o risco de terem seus contratos remexidos pelos deputados estaduais, o que, é claro, não agrada a eles. A mensagem da base de Alckmin que aprovou a CPI dos Pedágios parecer ser a de que o próprio governador precisa cuidar melhor de seus correligionários se quiser mesmo o apoio deles no processo eleitoral prestes a começar.
No mesmo espaço de tempo em que foi derrotado em seu reduto na Assembleia paulista, Alckmin encontro motivos para novas preocupações vindas do Congresso, em Brasília. Lá, a CPI que estava nascendo, por iniciativa do tucano Aécio Neves, para investigar apenas a Petrobras, vai ganhando contornos mais amplos. Cresce a certeza de que, no próximo dia 15, quando a instalação da CPI for à deliberação do plenário do Senado, será aprovado um escopo bem mais amplo de investigação.
ALSTOM-SIEMENS - A curiosidade legal dos parlamentares poderá estar voltada, também, para os contratos de compra de trens para ferrovias e o metrô de São Paulo. Em torno desses contratos se desenrola o chamado escândalo Alstom-Siemens de distribuição de propinas, que atinge auxiliares diretos do próprio Alckmin, como os secretários José Anibal, da Energia, Jurandir Fernandes, dos Transportes Metropolitanos, e Rodrigo Garcia, do Desenvolvimento Econômico. É, sem dúvida, bastante desconfortável a posição do governador nesse caso.
Mas há mais problemas para o atual líder nas pesquisas de intenção de voto para o governo de São Paulo. A possibilidade de haver rodízio ou racionamento de água ainda não teve seu impacto eleitoral medido pelos institutos especializados, mas corre a certeza nos meios políticos de que Alckmin será o maior prejudicado. Apostando numa solução que evite medidas drásticas, apesar da opinião dos técnicos da Agência Nacional de Águas (ANA), que indicam a iminência de um racionamento, Alckmin está postergando uma decisão. Com isso, muitos já acreditam que ele resgata a velha fama de 'murismo' dos tucanos – a falta de decisão -, o que arranharia ainda mais sua imagem.
Com 43% de intenções de voto na pesquisa Datafolha divulgada em dezembro, Alckmin, nas contas dos adversários, tende a exibir um percentual menor nos próximos levantamentos. Há quem acredite que ele já teria emagrecido até dez pontos. Esse otimismo da oposição refaz as projeções iniciais de que não haverá segundo turno em São Paulo, o que só fará aumentar o fogo inimigo contra o governador. Acostumado a fazer política em cenário de tranquilidade, Alckmin vai precisar conviver com o cerco de um verdadeiro inferno astral sobre sua gestão. A maneira como irá reagir às novas pressões determinarão seu futuro no governo do Estado.

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