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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, abril 10, 2014

 

 A VEZ DE DONETSK - RESPEITEM AS VOZES QUE VEM DAS RUAS!




Por Mauro Santayana
Manifestantes que ocupam, há 48 horas, instalações públicas em Donetsk, na Ucrânia, proclamaram, unilateralmente, ontem, uma República Popular, na província em que se fala russo. E querem convocar um referendo para sua anexação à Rússia, para o próximo dia 11 de maio, nos moldes do que foi feito na Crimeia no mês passado.
As autoridades policiais não resistiram nem tentaram conter os manifestantes.

Em outra cidade, Lugansk, manifestantes favoráveis à Rússia ocuparam a sede dos órgãos de segurança, e fizeram o chefe de polícia — que também não resistiu — libertar dezenas de prisioneiros favoráveis a Moscou que estavam detidos há alguns dias.
Em Kharkov, segunda maior cidade ucraniana e centro industrial do país, houve enfrentamento entre habitantes de língua russa, que ocuparam a sede do governo local, e manifestantes fiéis ao golpe desfechado contra o presidente Yanukovitch em março.

Embora as novas “autoridades” ucranianas estejam acusando o serviço secreto russo pelos tumultos, a verdade é que o apoio ao governo golpista é cada vez menor, e boa parte do território ucraniano é ocupado por habitantes de origem russa, que se recusam a se aproximar do Ocidente e se sentem ameaçados pelos golpistas de extrema direita que estão no poder em Kiev.
Eles viram que, ao contrário do que ocorreu na “libertação” do Iraque, do Egito, da Líbia, do Afeganistão, pela Otan, onde morreram — e continuam perdendo a vida — centenas de milhares de pessoas, a “russianização” da Crimeia foi feita em poucos dias, e quase sem violência.
O fato é que, assim como fez, em muitos outros lugares, supostamente em nome da “democracia”, o Ocidente desestruturou completamente uma nação que se encontrava institucionalmente unificada, funcionava razoavelmente dentro da lei, com um presidente eleito diretamente pela população, e aguardava pacificamente as próximas eleições, porque não queria que a Ucrânia “caísse” sob a influência de Moscou.

Como demonstra a situação em Donestk e em Kharkov, a influência russa na Ucrânia, do ponto de vista político, econômico, cultural, já existia, é muito maior do que se pensa na Europa e nos EUA, e permeia vastas regiões e milhões de habitantes, que se sentem russos.
A Rússia está em seus corações e mentes. Eles vivem como russos há séculos. E é mais fácil que a Ucrânia se divida a partir da fragmentação irresponsavelmente iniciada em Maidan, do que eles virem a se inclinar para o lado contrário, o dos golpistas neofascistas, que tomaram o poder de assalto em Kiev há poucas semanas.
Postado por  institucionalmente unificada, funcionava razoavelmente dentro da lei, com um presidente eleito diretamente pela população, e aguardava pacificamente as próximas eleições, porque não queria que a Ucrânia “caísse” sob a influência de Moscou.

Como demonstra a situação em Donestk e em Kharkov, a influência russa na Ucrânia, do ponto de vista político, econômico, cultural, já existia, é muito maior do que se pensa na Europa e nos EUA, e permeia vastas regiões e milhões de habitantes, que se sentem russos.
A Rússia está em seus corações e mentes. Eles vivem como russos há séculos. E é mais fácil que a Ucrânia se divida a partir da fragmentação irresponsavelmente iniciada em Maidan, do que eles virem a se inclinar para o lado contrário, o dos golpistas neofascistas, que tomaram o poder de assalto em Kiev há poucas semanas.

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